A explicação da gafe do candidato António Costa

À boleia da recente declaração do secretário-geral do PS, António Costa, segundo a qual o nosso país estava agora em melhor situação económica do que há quatro anos, começou a circular nas redes sociais uma entrevista que poderia ter dado a uma jornalista portuguesa de um órgão de informação macaense em que ele dá a conhecer alguns objetivos da sua governação caso venha a ser eleito 1º Ministro nas legislativas do final do ano.

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JORNALISTA – Dr. António Costa, acha mesmo que o país hoje se depara com problemas menos graves do que há quatro anos?

ANTÓNIO COSTA – Claro que sim.

JORNALISTA – Mas isso tem levantado uma grande celeuma no seu Partido. Nem toda a gente está de acordo.

ANTÓNIO COSTA – Não é verdade. Se eles não pensassem como eu, nas primárias que realizámos, teriam reconduzido no cargo o anterior secretário-geral, o António José seguro, que é muito mais competente do que eu para resolver os verdadeiros problemas que o país tem de enfrentar.

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JORNALISTA – No mesmo discurso, o senhor demonstrou um grande apreço pelo investimento chinês em Portugal. Estava a referir-se às privatizações que o PS tanto tem contestado?

ANTÓNIO COSTA – Sim, mas não em relação às deste Governo. Referia-me às que fez o PS, porque nessa altura é que dava jeito que entrassem uns milhões de euros para reduzir o défice em umas décimas.

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JORNALISTA – O que achas do investimento chinês através da compra de vistos Gold?

ANTÓNIO COSTA – Acho bem.

JORNALISTA – Mas não teme vir a ser criticado por isso no interior do seu Partido? Há quem considere que eles favorecem a lavagem de dinheiro.

ANTÓNIO COSTA – Claro, também concordo, mas não o dos chineses. Desde que passaram a sortear os automóveis, todos os portugueses, quando lá vão às compras, pedem fatura com número de contribuinte. Não há como escaparem ao controlo da máquina fiscal.

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JORNALISTA – Este é um tema sensível. Como pensa combater a evasão fiscal se vier a ser eleito 1º Ministro?

ANTÓNIO COSTA – Aumento o número de carros a sorteio todas as semanas e promovo a abertura de mais lojas do chinês em todas as capitais de distrito, vilas e localidades do nosso país. É o que prometerei ao povo português.

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JORNALISTA – Muito se tem falado das dívidas acumuladas pelo não pagamento das multas de passar nas SCUT sem pagar. O que tem a dizer na campanha eleitoral, aos portugueses que ameaçam pedir insolvência por não conseguirem pagar milhares de euros só de juros, com vista a resolver este flagelo?

ANTÓNIO COSTA – Vou abolir os juros e dar-lhes todo o tempo do mundo para liquidarem as suas dívidas. Vão poder fazê-lo a longuíssimo-prazo e à medida das suas possibilidades, sem pressa.

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JORNALISTA – Essa promessa parece retirada do programa eleitoral do Syrisa que venceu as legislativas na Grécia.

ANTÓNIO COSTA – Precisamente. Essa observação é corretíssima.

JORNALISTA – Mas permita-me lembrá-lo que essa ideia não colheu frutos entre os ministros dos países do Eurogrupo.

ANTÓNIO COSTA – Pois não, mas com os eleitores gregos resultou e não vejo motivo para que em Portugal também não aconteça o mesmo. Só espero é que, ao contrário do que se passou lá, o meu Partido possa aqui obter uma maioria absoluta para eu poder governar mais à vontade.

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JORNALISTA – É sua intenção manter a venda da TAP, tal como está?

ANTÓNIO COSTA – Sim.

JORNALISTA – E que contrapartidas espera do comprador? Que a Sede da Companhia fique em Portugal?

ANTÓNIO COSTA – Não. Basta que paguem tudo a pronto-pagamento. Se dividirem o pagamento em tranches, e ainda por cima deixarem a maior para o fim, arrisco-me a que, quando a última der entrada na conta, o PS já não esteja no Governo e sejam os Partidos que estão agora na oposição a ficar com o dinheiro. Nós ficamos com a fama e eles é que ficam o proveito.

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JORNALISTA – Que candidato pensa que o PS deveria apoiar nas eleições presidências do próximo ano? Uma personalidade que represente a Esquerda ou que seja mais consensual?

ANTÓNIO COSTA – Nem uma coisa nem outra. Prefiro um que não seja muito vaidoso para não me tirar o protagonismo; que não tenha dotes de orador para não tirar o protagonismo ao Dr. Ferro Rodrigues; que não tenha mais de cem anos para não retirar o protagonismo ao Dr. Mário Soares e que nunca tenha estado detido, por desvio de fundos ou qualquer outra coisa, para não retirar protagonismo ao Eng.º Sócrates.

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JORNALISTA – E por falar em desvios de fundos, se for eleito pensa penalizar o enriquecimento ilícito?

ANTÓNIO COSTA – Eu lá pensar, penso. E se penso, logo existo como dizia o filósofo. Mas se continuo a pensar no assunto, logo deixo de existir, … pelo menos como candidato num futuro congresso do meu Partido em que queira disputar a liderança, porque nenhum dos meus atuais apoiantes lá deve estar para me dar o seu incondicional apoio.

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JORNALISTA – É a favor ou contra a aplicação de novas medidas de austeridade?

ANTÓNIO COSTA – Totalmente contra. Até este momento não existem provas de que as já existentes tenham perdido eficácia e já não consigam retirar dinheiro aos contribuintes, deixando-os ainda mais pobres.

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JORNALISTA – Como 1º Ministro, vai alargar a outras cidades a proibição de circulação, nas zonas históricas, aos carros anteriores a 2000?

ANTÓNIO COSTA – Vou, mas abro uma exceção para os fins-de-semana em que podem andar á vontade. Por causa do aumento do desemprego, o atual Governo do PSD fica na história por não deixar as pessoas trabalhar. Eu não quero ficar conhecido por não deixá-las passear.

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JORNALISTA – Vai repor os feriados retirados aos portugueses há dois anos?

ANTÓNIO COSTA – Não, não vou.

JORNALISTA – Está consciente de que vai contra o que deseja a maioria dos portugueses?

ANTÓNIO COSTA – Estou, mas é para que percebam que eu também governo para as minorias, ao contrário daquilo de que, às vezes, me acusam na Câmara de Lisboa.

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JORNALISTA – E por falar em maiorias, creio que vamos desagradar à maioria dos leitores do nosso jornal porque estamos a chegar ao fim da nossa deliciosa conversa.

ANTÓNIO COSTA – Não faz mal. Há quatro anos, desagradaria a muito mais, porque hoje sou muito mais popular do que nessa altura, de acordo com as sondagens.

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JORNALISTA – Muito obrigada. E agora off record, que ninguém nos ouve, não resisto a fazer-lhe uma última pergunta: agora que a entrevista está a acabar, acha que, desde que ela começou, a situação económica do país melhorou, nem que seja só um bocadinho?

ANTÓNIO COSTA – Bem … como direi? … acho que sim … tenho a certeza de que sim.

JORNALISTA – Vá lá, diga a verdade! Esteja à vontade, eu não sou chinesa!

ANTÓNIO COSTA – Não tenho a certeza. Bem vi que ficou de olhos em bico a algumas das respostas que eu dei.

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JORNALISTA – Foi só porque achei algumas delas surpreendentes, vindas de si. Mas o mesmo não poderá o Dr. António Costa dizer das minhas perguntas, a menos que tenha andado distraído que andou a fazer o seu antecessor, o Dr. António José Seguro. Já lhas tinha feito e creia que, de maneira totalmente diferente da sua, já tinha respondido a todas.

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