Dá um simples sorriso – Raquel Santos

Faltam poucas horas para a tão desejada ceia de Natal. O frio aperta e faz estremecer o meu corpo gélido e esguio. Sinto um nervosismo miudinho na minha barriga. Os ponteiros do relógio avançam a grande velocidade e as nuvens peludas começam a tapar o azul translúcido do céu. Naquela hora, desloquei-me até ao jardim e sentei-me no banco a pensar.

“ Hoje é um dia em que toda a família se reúne, partilha presentes, carinhos e alegrias. E onde está toda a gente? Hoje é um dia diferente, algumas pessoas andam atarefadas a comprar as últimas prendas de Natal e outras de volta dos tachos na cozinha. Hoje é um dia da família, como todos os outros, mas este é diferente. “

Levantei-me com os olhos pregados ao chão. As tímidas lágrimas invadiam lentamente o meu olhar triste. Deslizavam pelo meu rosto pálido parando no pescoço. Estava a ficar cada vez mais frio e fui para dentro. Sentei-me à lareira a tricotar. O estalido e a luz amarelada proveniente da lareira fez secar as minhas lágrimas, que teimavam em permanecer no meu rosto.

Uns minutos depois, parei e voltei a pensar. “ Já viram aquelas pessoas que julgam não ter família, porque têm só que, simplesmente, ninguém quer saber delas, que estão a viver na rua? Essas sim, não têm Natal! Não têm ninguém para partilhar um simples sorriso. E aqueles idosos que são abandonados num lar? Sim, estão juntos de uma família, mas uma família diferente, uma família de cuidados que, por vezes, substitui a verdadeira família.”

Os meus olhos desviaram-se sorrateiramente para a árvore de Natal, que estava, praticamente, ao meu lado. Este ano, estava vazia, não havia dinheiro nem vontade de comprar nada. Apenas irei oferecer um beijinho e um grande abraço àqueles que me sempre ajudaram e estiveram perto de mim. Pensei mais um bocadinho: “ Já viram as correrias que se fazem para ir comprar prendas de Natal? Já viram o dinheiro que se gasta nestas coisas? O tempo que se leva a pensar e depois a comprar? Porque é que não são mais simples e oferecem um simples gesto. É barato e é dado no momento! Ou simplesmente, fazem uma pequena lembrança?”

Neste Natal faz como eu, oferece um sorriso ou um simples abraço aos teus e àqueles que também queriam ter um verdadeiro Natal.

Crónica de Raquel Santos