Facebook e o Natal – isto não é para mim!

Hoje não é sequer uma crónica. É um pequeno apontamento das últimas incursões no Facebook em época de natal.

Facebook e Natal – muito há a dizer, mas isto não é para mim. Já não tenho paciência! Pronto! É isso!

Não da caridadezinha natalícia da “paz e amor” do momento que não coincide com a crueldade daquilo que se diz  ou disse, como por exemplo, dos refugiados de guerra, daqueles que fogem ao som das bombas e das balas para sobreviver e salvar os filhos.  Daqueles que buscam paz e pão noutros lugares e que se sentem forçados a abandonar as suas terras e lares. Esquecemos-nos da nossa tradicional hospitalidade ao longo da história. Esquecemos-nos que aqui já viveram, lado a lado, cristãos, judeus e muçulmanos. Esquecemos-nos que partimos nas épocas de 50 e 60 do século XX para o mundo. Emigrámos porque aqui não havia o pão. Esquecemos-nos que somos todos Irmãos – ou deveríamos ser, de acordo com a grande maioria das religiões deste mundo – das quais reclamamos o nosso quinhão como ferverosos (e hipócritas) adeptos.

O falso cristianismo que resvala em posições de vida completamente contraditórias com os valores e princípios de qualquer religião deste mundo. Tréguas? Quais tréguas? Infelizmente a ignorância não dá tréguas – é um acto contínuo e dolorosamente estúpido. E hipócrita. E sem auto-consciência.

As publicações piegas e sentimentais de “meia tigela”, com frases gastas que nada significam senão a vã vaidade de publicar em catadupa – como se fosse uma urgência demonstrar que o ego existe e que todos nós exercemos o direito de publicar qualquer merda no Facebook – como se fossemos escritores, jornalistas ou quaisquer outros profissionais da pena e do teclado.

Muitos nunca expressam a sua opinião sobre nada; não escrevem, de facto, nada. Apenas publicam as coisas escritas pelos outros. Carregam o Facebook de animais e de anjinhos, de imagens de Deus e de santos e da Virgem Maria, mas não creio que haja maior profundidade do que isto. Se há, ficou camuflada nos recônditos subterrâneos das suas mentes ou corações – quiçá? Mas existem publicações que excedem todo o bom senso e sensibilidade. São uma mera fogueira das vaidades de quem não tem público na vida privada.

Facebook e Natal ? De repente toda a gente ama animais – mesmo aqueles que come. E vestem-se porcos e cães e gatos como se fizessem parte de um circo surreal – para satisfação da nossa aberrativa e incongruente titularidade. De sermos donos daquela (s) vida(s).

outofafrica

De repente é só paz e amor – e há gente boa neste planeta; e há histórias de vida a considerar pela sua generosidade e altruismo. E há histórias que se partilham e deveriam ser lidas com consciência, contudo, acredito que o próprio Facebook tem um qualquer botão de ignição para o sensacionalismo e muitas publicações que deveriam, no meu humilde entender, ser divulgadas, parecem ser propositadamente esquecidas. Para além da crescente publicidade que nos assalta o mural diariamente – é a habitual pornochachada de registos não edificantes. Mas desta vez com música de natal. Esta merda não é para mim.

Muitas vezes reflecti sobre a extinção da minha conta, mas sempre tentei valorizar aquilo que o Facebook pode ter de melhor no que diz respeito à divulgação de artigos interessantes sobre variadas áreas; das publicações edificantes de alguns dos meus “amigos facebookianos”; de alguns dos grupos existentes que trocam informação relevante para muitos (casas, quartos, empregos, etc); como um meio de comunicação com família e amigos – especialmente para quem está longe –  (eu própria o usei em Angola, para dar notícias); para professores, formadores e outros amantes da filantropia poderem divulgar sites de livros, de arte, de artigos académicos (ou não); para trocar eficaz e descomprometidamente informação que constrói em nós consciência, alguma sabedoria e conhecimento. Por pesar os prós, fui sempre ficando, com a esperança de assistir a uma valorativa qualidade de publicações e maturidade.

Não creio conseguir sobreviver aos presépios, pais-natais, árvores com bolinhas, sinos e fitinhas, beijinhos e abracinhos do momento quando no mundo há crianças a morrer de fome, e de bombardeamentos, e de violência. Não consigo sobreviver ao consumismo desenfreado do momento quando há gente nas nossas ruas que morre de frio e de fome. E por não ter casa nem trabalho.

Gostaria de entrar num ano novo que fosse, de facto, novo. Que exibisse despudoradamente um novo mundo. E que as redes sociais fossem um adjuvante a esse propósito. Mas de facto, as redes sociais são constituídas por pessoas. E muitas das pessoas que cessam o fogo viscoso no natal, recomeçam os bombardeamentos da sua futilidade no ano novo. Outras nem isso.

Facebook e natal ? Não. Não é para mim!