Facebook em vez de sexo… a sério?

Só pensava em sexo. Cresceu a adorá-lo, mesmo quando nem tinha experimentado sexo. Não descansou enquanto não fez sexo. Quando o fez, só pensava em fazer mais sexo. Não, não era nenhum tarado, eu tinha 16 anos.

Ou talvez fôssemos, eu e os outros tarados nascidos na década de 80, pois todos nós vivíamos para o sexo, mesmo que houvessem infelizes alturas em que não o fazíamos.

Claro que existiam intervalos, para jogar futebol, computador, e sair com amigos – mesmo que fosse para falar de… sexo.

Observação, hipótese, experiência, lei e teoria. Éramos autênticos cientistas a tentar desvendar caminhos para o sexo.

E todas as sextas e sábados à noite, lá estávamos nós, a observar os melhores comportamentos, a formular as hipóteses mais mirabolantes, a experimentar sob risco duma jocosa recusa feminina, e tudo isto para chegarmos a leis e teorias certas, que sabemos hoje não existirem.

Um trabalho desgastante, pensando bem, não consigo perceber onde arranjámos tempo para acabar o liceu, alguns de nós formarem-se e outros até começarem os seus negócios.

Reflitam comigo: cabelo molhado, mas não muito molhado para não ser interpretado como um tótó; popinha com algum volume, mas não com muito para não ser interpretada como feminina; roupa grunge rasgada para dar o aspecto de não querer saber, mas querendo saber o suficiente para a amarrotar com exatidão matemática pós-lavagem; beijos intensos treinados ao espelho, mas não com excesso de zelo ou língua; piadas sarcásticas treinadas em casa, mas não excessivamente ofensivas para o sexo oposto. Nem vou continuar, porque só de pensar já estou cansado.

Tudo isto foi mudando um pouco, nós, os jovens de 90, vimos uma nova geração viver com maior abertura de espírito, as amarras ideológicas de séculos cederam mais um bocadinho, o normal em todas as gerações, e a vida tornou-se mais simples, se quiserem, mais igualitária em género.

E quantos de nós não acabámos por pensar: “os putos de hoje é que têm sorte”. Acrescento eu, quer para eles, quer para, e especialmente para, elas.

Tiveram-na, aproveitaram-na e parece terem-se cansado dela.

Sim, parecem ter-se cansado, não os vejo tão interessados como antes. Isso, ou o facto de realmente nós, os putos nascidos em 80s e vividos em 90s, sermos uns grandes tarados, e estes adolescentes terem sido curados desta patologia crónica que atravessava gerações.

De facto, esta natureza animal, foi substituída por uma natureza cibernética, onde as mesmas coisas estão disponíveis, mas a partir da casa de cada um de forma ininterrupta.

Se pensarmos bem, estes facebooks da vida, são o desejo de qualquer pai dos anos 90. Por entre likes e smiles, os seus adolescentes rebentos ficam mais tempo em casa. Os namoros começam e acabam a partir de conversas de não mais de 140 caracteres e muitas sem qualquer contacto físico. Mais, sem futebol na rua, não existem lesões ou jantares atrasados e consequentes berros parentais. Um verdadeiro sonho para um pai de 90s.

Voltando a nós, os putos de tantas outras décadas pré-históricas, resta-nos a tara de continuarmos a jogar futebol, conversar no café com amigos e vejam lá a loucura, entre sexo ou facebook, mesmo com as nossas barriguinhas, preferirmos a actividade mais física. Ou não, afinal estou a escrever estas imbecilidades agarrado ao computador, e posteriormente irei partilhá-las no… facebook.