Falta de dinâmicas ou Ronaldodependência?

Onze anos depois, a seleção nacional volta a jogar naquele que foi, em tempos, o estádio mais utilizado para receber jogos internacionais e o mais importante a nível nacional. Palco mítico e de simbolismo impagável, o Jamor voltou a ser a arena de um jogo internacional contra um adversário que tem o condão de fazer com que a expressão “tragédia grega”, paire sobre a cabeça de cada um dos 10 milhões de portugueses, falamos pois claro, da Grécia. Portugal e Grécia enfrentaram-se num jogo amigável que findou com o resultado mais aborrecido do futebol, 0-0.

O último teste em terreno luso, e já com os 23 definidos, servia apenas para testar alguns dos convocados e dar ritmo a outros. Tendo este objectivo como principal, podemos dizer que sim, que o objectivo foi cumprido, porém, faltou algo. Portugal começou o jogo sem 6 dos habituais titulares, Pepe, Coentrão, Rui Patrício, Meireles, Moutinho e Cristiano Ronaldo, algo que, obviamente, teve influência quer na fluidez de processos, ou a falta dela se preferirem, e na própria qualidade de jogo da equipa. Podíamos ter ganho, é certo, a realidade é que, pela qualidade apresentada, o empate acaba por ser um bom “castigo”.

Muitos dirão que não se pode pedir mais, que não é possível exigir mais de 11 jogadores que nunca jogaram juntos, que este jogo foi apenas para dar minutos, que era a feijões e que os jogadores não deram o máximo por falta de nível competitivo. Falso. Na antecâmara do Mundial do Brasil, este jogo, não sendo o último, era aquele em que todos deviam ter mostrado ao “mundo” o porquê de terem sido selecionados, o porquê de representarem um país e terem às costas uma nação. Nada disso aconteceu, o que se viu, durante os 90 minutos, foi uma equipa amorfa, com pouca entrega, com poucas dinâmicas, perdulária e com uma falta de criatividade gritante.

Tudo isto aconteceu em virtude do onze titular não ter dinâmicas ou é mesmo um caso de Ronaldodependência? É verdade, o actual melhor jogador do mundo está em gestão de esforço devido a uma série de problemas físicos recentes e não actuou por precaução, sem ele a nossa equipa foi outra. O mesmo já tinha acontecido no jogo contra o Brasil, Portugal sem Ronaldo ressente-se. Até aqui tudo normal, mais uma constatação do óbvio própria de qualquer “jornaleiro” do nosso país. O problema prende-se exactamente com esse facto, com a terrível imagem que é imaginar o nível de jogo da seleção das quinas a decair em mais de 60% sem Cristiano Ronaldo, cenário esse que significaria, sem muitas dúvidas, uma miserável prestação no Mundial. A influência do melhor marcador de sempre da nossa seleção é cada vez maior e os seus substitutos cada vez mais inferiores. O tal plano B ensaiado por Paulo Bento, apenas acentuou mais essa problemática e criou, em todos os portugueses, enormes suores frios e tremores sempre que pensam que o número 7 do Real Madrid pode vir a não estar disponível para o Brasil, ou pelo menos, em totais condições.

Neste caso específico o selecionador só tem parte da culpa. A exibição foi terrível, a importância do jogo relativa – a tão desejada vingança ainda terá de esperar, contudo, quando for servida, virá mais do gelada – , a atitude de certos jogadores miserável, a lançar ainda mais dúvidas sobre a sua competência e o futuro, bem esse continua intacto. Não é por um mau jogo que tudo está perdido, muito menos o Mundial de 2014, contudo, o que não se poderá a dizer é que faltam dinâmicas ao grupo e que tudo o resto está bem. É tempo de desviar a areia dos olhos e perceber que se há “mal” do qual padecemos, é sem dúvida alguma de uma Ronaldodependência aguda . Que não exista plano B no Brasil e que o A seja mais do suficiente para nos coroar, finalmente, campeões do mundo.