Diz que… – Fenómeno Jerónimo Martins

Eu quero crer que a população portuguesa, de uma forma geral, não é estúpida. E como não é estúpida, só se deixa levar pelos “incendiários” por comodismo, por preguiça de pensar pela sua própria cabeça.

Muitas das grandes empresas portuguesas têm escritórios noutros países, de onde coordenam investimentos, de forma a rentabilizar o investimento. Entre essas empresas está, por exemplo, um dos grandes concorrentes da Jerónimo Martins (JM), a Sonae. Então porque é que ninguém disse nada quando a Sonae abriu escritório na Holanda e agora fazem da abertura de uma subsidiária do accionista  maioritário da dona dos Pingo Doce um escândalo, ao ponto do Primeiro Ministro vir anunciar que o fisco está a investigar a JM?!

Para mim parece-me simples. A JM é uma empresa com centenas de anos, que já passou por maus bocados (próximo da falência), mas soube vir ao de cima e é hoje um dos grupos que mais dividendos gera e mais gente emprega, tanto em Portugal, como na Polónia. E não é à toa que o presidente do grupo JM diz que o investimento privado é mau visto em Portugal. É porque o investimento gera inveja e grande parte do português se vê o vizinho ter sucesso, reza para que ele se dê mal e fique “na rua da amargura” no mês seguinte. Assim é com a JM. Uma empresa que, pelos resultados, é bem gerida, pela opinião dos trabalhadores, é uma empresa com responsabilidade social, que respeita e apoia os seus funcionários, que os forma e auxilia, só podia gerar inveja. Daí todo este alarido.

E a comunicação social muito contribuiu para esta confusão. Lia-se nos noticiários televisivos e nos jornais “Jerónimo Martins muda-se para a Holanda”. Está errado. Redondamente errado.  A sociedade Francisco Manuel dos Santos SGPS, com sede em Portugal, a maior accionista da JM, abriu uma subsidiária, a Francisco Manuel dos Santos BV, na Holanda, sendo esta controlada pela holding ( Francisco Manuel dos Santos SGPS ). A holding vendeu a sua participação à empresa holandesa do seu grupo e por si controlada. A JM anunciou que a holding continuaria com direito de voto, pois controla a empresa que detém a participação.
Apesar de, sendo uma empresa sediada na Holanda a deter a maior parte das acções da JM e, por esse motivo, pagar parte dos impostos lá, continua a ser controlada a partir de Portugal e essa localização garante à sociedade um mais fácil acesso ao crédito (quase inexistente em Portugal) e a outros países (como a Colômbia), onde a JM pretende investir, para além do forte investimento que tem feito e, segundo a sua direcção, continuará a fazer, em Portugal e na Polónia.

Em suma, tudo o que li até hoje, me leva a crer que, não obstante a carga fiscal paga pelo principal accionista da JM em Portugal baixe (embora, ao que parece, não significativamente), as vantagens que a empresa obtém por ter uma subsidiária na Holanda (tal como muitas outras empresas portuguesas têm) são evidentes e uma mais valia também para o país: em Portugal, com as condições actuais, a empresa não tem como evoluir, mas na Holanda, uma economia com condições de estabilidade muito diferentes, a empresa pode aceder a outros mercados e ao crédito, de forma a fazer mais investimentos, quer em novos negócios e operações, quer nos existentes, em Portugal e na Polónia. Quer isto dizer que, com esta opção, a JM pode continuar a ser uma das empresas portuguesas a mais facturar e a mais empregar no nosso país, sem deixar de crescer lá fora e trazer mais dividendos para o nosso país.

Crónica de João Cerveira
Diz que…