Em férias é que se está bem

As Férias de Passos Coelho

Na noite do passado domingo, Carlos Costa, Governador do Banco de Portugal, instituição responsável pela supervisão das entidades financeiras neste rectângulo à beira-mar plantado, tomou as rédeas do País e sem demoras anunciou a separação do BES num ‘banco bom’, denominado Novo Banco, e num ‘banco mau’.

O Novo Banco passará a deter os activos bons que pertenciam ao BES, como depósitos e créditos bons, e recebe uma capitalização de 4.400 milhões de euros, já o banco mau será o recipiente de todos os activos tóxicos.

Apanhado a banhos no Algarve, Passos Coelho disse estar de férias, quando questionado sobre a solução encontrada para o BES. O homem que sugeriu a emigração aos jovens portugueses para fugirem à mão invisível da Troika, não deixa créditos por mãos alheias e deixa entender que também ele tem direito a férias. O crédito do BES está no entanto em mãos alheias e apesar das férias de Passos o mundo continua a girar.

À partida, as vozes do governo sugerem que esta solução não vai prejudicar os contribuintes, já que a operação consiste no empréstimo de 4400 milhões de euros concedido pelo Estado ao Fundo de Resolução bancário que por sua vez injectará este capital no Novo Banco, sendo que os juros deste empréstimo serão os mesmos que o Estado Português paga à Troika. Deste modo, o Estado diminui as probabilidades de se tornar accionista e se algo correr mal terão que ser os bancos detentores do referido fundo a reembolsar o Estado, dizem.

No entanto, algumas perguntas parecem ser incontornáveis. Por exemplo: Será que alguém acredita que os accionistas do BES mau vão arcar com todas as perdas sem ripostar? Qual será o alcance dos danos causados? E quanto aos outros Bancos, será que levarão a bem este tratamento diferenciado? Não será o facto de os juros serem tão baixos motivo de concorrência desleal? E por último, mas em primeiro lugar no que a importância diz respeito, o que andaram os governadores do Banco de Portugal a supervisionar?

Resposta as estas perguntas? Depois das férias de Passos Coelho. Entretanto, o incansável João Semedo, líder do BE, afirmou que o buraco no BES é maior que no BPN. Para que se perceba melhor, o caso BES mete o caso BPN num bolso. Num bolso pequenino, daqueles agregados aos bolsos das calças de ganga. E as férias de Passos Coelho continuam.

Embora muitas vezes achemos que já merecemos umas férias deste governo, seria bom inverter este raciocínio e começar a olhar para a situação de outra forma. A verdade é que desde que Passos Coelho e o seu pouco fiel escudeiro Paulo Portas chegaram ao El Dorado do poder português, que o Governo está de férias.

Desde cedo fizeram os preparativos para um mandato em piloto automático, entregando a gestão à troika e defendendo-a com unhas  e dentes de marxistas encapuçados, despesistas irresponsáveis ou tribunais ideologicamente condenáveis. Cortou-se em tudo o que mexia e austerizou-se a grande maioria, ainda assim, a dívida pública, essa maldição socialista, aumentou. Mas isso não interessa nada.

O que verdadeiramente interessa é que as férias de Passos Coelho, as actuais, servirão para o preparar para um ainda mais desgastante final de mandato, agora sem Troika a liderar. Finalmente de braço dado com Paulo Portas, o homem dos submarinos mais falados em Portugal, as eleições legislativas prometem ser um duelo épico. Seja lá quem for o adversário, Seguro ou Costa, Passos Coelho precisa estar fresquinho para este desafio. E nada melhor que um banho no Algarve para retemperar forças e evitar desgastar-se com questões menores como a do BES.

Ainda para mais nesta altura não há grandes decisões futebolísticas a decorrer, portanto o povinho tende a estar mais atento à actuação dos políticos. A velha máxima ‘em boca fechada não entra mosca nem sai asneira’ parece estar a ser seguida por Passos Coelho, e já que me é permitida a ousadia, constitui a mais acertada decisão da sua liderança.

Mas como as férias tem sempre o grande inconveniente de serem curtas, também Passos Coelho irá ver esta maldição abater-se sobre si. O choque com a realidade está para breve e o relaxamento de Passos, pode ter efeitos indesejáveis. É que o resto da malta teve que trabalhar no verão para compensar as perdas impostas por Passos e já não há paciência para mais austeridade.