… Férias… Hotel ou Instituição!… – Aida Fernandes

Na primeira crónica desta nova época, ficou o desafio da partilha de momentos vividos com idosos que passam umas “férias” numa Instituição, para que os seus cuidadores possam descansar um pouco, recarregar energias, aliviar um pouco do stress de um ano inteiro de trabalho… é altura de “cuidar de quem cuida”…”cuidar de quem precisa”!

Esta minha crónica não será mais que uma reflexão e aprendizagem, baseada na minha colaboração e disponibilidade para este tema. Tem como principal objectivo reflectir sobre as causas que motivam a integração dos idosos, compreender a importância da instituição como suporte. Suporte que pode ser apenas por uns dias, ou um “estágio” para a integração mais facilitada.

Sabemos que os idosos que possuem patologias de ordem mais complicada, como é o caso da Demência – Alzheimer, são utentes que devem ser integrados com um maior rigor por parte dos familiares, muitas vezes não é uma escolha mas sim a única solução. A altura de férias é assim uma época ideal, muitas vezes tenta-se incutir a ideia que serão umas férias, um período de repouso, ou ainda um período de recuperação.

Há quem critique, há quem diga que vão ao engano…mas, quem assim pensa nunca passou pela situação de cuidador a este nível. Viver e cuidar de um idoso vinte e quatro horas por dia, um idoso que possui um transtorno cerebral que lhe afeta a função cognitiva e todo o seu comportamento, deve ser partilhado a vários níveis e não por uma só pessoa… doutra forma é desgastante!

Um belo dia um utente com esta patologia acorda e apressa-se a dizer, – eu não quero que ninguém cuide de mim, eu vim para este hotel porque os meus filhos foram de férias para o estrangeiro, mas eu não preciso de ninguém…vou tomar banho aos balneários do estádio, a seguir vou a casa e depois volto. Sabíamos que o seu quadro não seria fácil…segundo a indicação que tínhamos todos os dias fugia de casa, com uma toalha debaixo do braço, caminhava pelas ruas á procura do referido balneário…queria a todo o custo tomar banho lá e só lá! Tinha sido jogador de futebol…!

O balneário nunca foi encontrado e então procurava agora fugir da instituição rumo á sua própria casa. Alegava que já não gostava do hotel porque não tinha a chave do quarto (referia-se á chave do armário onde possuía os seus pertences), tinha-lhe sido retirada porque durante toda a noite tirava e vestia roupa, com a intenção de sair…fugir…

Dia após dia, o comportamento era algo que nos levava a questionar como era possível aquele ser viver com os seus familiares! Qualquer família se sentiria impotente! Ainda me recordo de uma noite ele aparecer no corredor com o seu belo urinol debaixo do braço e uma toalha na mão…completamente nu…dizia apenas,-vou tomar banho!

Situações e mais situações, desde a célebre pergunta,-afinal onde é que eu estou? Não percebo nada disto! Aqui não é como num hotel normal, obrigam-me a comer o que eu não pedi! Estão a controlar-me! Não me deixam sair… isto é uma prisão!

Pois bem, cabe aos colaboradores das instituições, abraçarem este tipo de utentes, ajudar os familiares a integra-los da melhor forma possível, para assim eles possuírem qualidade de vida …qualidade que só será possível se for partilhada pelos profissionais desta área!

Esta é uma vivência que me marcou, não só porque os familiares lutaram até ao seu limite, como o próprio utente era algo que cativava com as suas “peripécias”, um utente meigo…amoroso…educado…apenas com uma patologia em evolução…Alzheimer!

Assim sendo, as “malditas férias” são sinonimo de doença e dependência…umas longas férias!
Devem ser contempladas por todos nós como as férias que um dia poderemos ter mesmo sem contar…umas férias num lugar que não tendo o nome de hotel bem pode ser chamado como tal…um local cinco estrelas para nos servir a todos os níveis!

Quem nunca pensou como e onde irá ser o seu” hotel”! Será que ainda vão existir” hotéis” na nossa última etapa!

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Crónica de Aida Fernandes
A última Etapa