Férias? Sim! Com filhos? Não! Por favor não!

Um dia destes fui à praia, praia de Aguda, praia de pescadores e água amena, praia sossegada e ventosa, de areia fina com centenas de búzios à espreita, é sem duvida a minha preferência nos dias de sol.

Estava eu no meu triquini à Lili Caneças, deitada na minha toalha estampada com o David Carreira, depois de colocar óleo bronzeador e fritar a pele ao sol, quando me deparo com o seguinte cenário: um homem stressado e suado, a chegar à praia, com uma mochila às costas, um saco grande de praia no braço esquerdo, uma saca com baldes e pás no braço direito, e ainda uma arca refrigeradora na mão direita. E o que vem sempre a reboque de um homem cheio de tralha a chegar à praia? Adivinharam leitores, a esposa e os filhos de ambos! Foi esse momento que me inspirou  para escrever esta crónica.

Que vamos fazer nestas ferias a três? Praia, piscina, cinema, visitar uns parques, dar umas voltas de bicicleta, um passeio ao shopping, visita obrigatória ao McDonald. Sensacional! Maravilha de férias!

Dia 1 – Praia

Essa ideia de que vamos para a praia descansar e relaxar é uma miragem para quem tem filhos. Os putos andam à volta das toalhas, aos berros, a correr enquanto enchem as toalhas de areia e moem a paciência a quem lá está deitado. Quando estamos quase a passar pelas brasas, chamam-nos porque estão com vontade de fazer chichi, e a casa-de-banho aonde fica? A 200 metros do local aonde estamos, e quando lá chegamos está fechada! Os brinquedos estão espalhados pela praia, choramingam para jogarmos à bola com eles…nós só queríamos estar com o rabo na toalha a apanhar sol cinco minutos…na hora do banho é um desassossego, um aventura-se e nada mais uns metros do que deve, o outro tem medo de ir à água, e os pais tem de ter olhos que dêem voltas de 360 graus, para os poderem controlar e nenhum se afogar ou ficar de cabeça presa na areia como as avestruzes . Quando saem da água estão molhados, quando chegam à toalha parecem croquetes com pés tal é a quantidade de areia que têm no corpo. Toca a tirar a areia, vestirem-se, calçar os chinelos que já não sabem onde estão porque os enterraram algures na areia. Vamos a correr para não perdermos o comboio das 18 horas…já era! Agora só daqui a meia hora…

Dia 2 – Cinema

Vamos ao cinema! Que filme vou ver? Espero que seja Os Mercenários com aqueles tipos bem entroncados, aos tiros e socos. Ou então o Sex Tape com a jeitosa da Cameron Diaz numa comédia bem picante. Não? Ok, vou ter de gramar o filme O gangue do parque, filme para putos de quatro anos em que os esquilos e os ursos andam aos saltos pela cidade! Fantástico!

Dia 3 – Almoço no McDonald

Ir ao McDonald é uma  lição para os pais! Gasta-se três euros e uns trocos numa malinha da cartão que além de comida que sabe bem mas faz mal, ainda contém o raio de um brinquedo que eles brincam cinco minutos, pegam-se porque um é azul e o outro é verde e depois já não ligam nenhuma. As mães que tinham começado a fazer dieta precisamente nesse dia, são obrigadas a comer um mc menu (sim somos obrigadas, porque comer salada e sopa no McDonald com o cheirinho de hambúrguer e batatas fritas no ar é impossível ) e assim se gasta vinte euros.

Dia 4 – Passeio no parque

Ar puro, andar a pé, de bicicleta, um piquenique na relva, até tem um parque infantil com escorregão e tudo. Um aleija-se no pé, o outro faz um galo na testa, já me chateei com a mãe do chavalo que está sempre enfiado no baloiço, a relva está cheia de formigas. É melhor irmos para casa e fazermos o piquenique no chão da sala.

Dia 5 – Jantar fora

Jantar fora num restaurante acolhedor e sossegado, relaxar sem cozinhar e lavar loiça, afinal estamos de férias! A comida não tarda em chegar à mesa, a fome aperta, o puto resolve querer ir à casa-de-banho fazer cocó precisamente no momento em que metemos uma garfada de comida à boca! Raios! É preciso partir a comida aos bocadinhos, colocar um guardanapo para não sujarem a roupa, pedir ao empregado talheres mais pequenos. Entretanto, o outro sem querer virou sumo na mesa, o outro deixou cair um bocado de bife ao chão. Quando finalmente nos sentamos para jantar a comida está gelada! Enquanto aguardamos pela sobremesa conseguimos conversar um pouco, apesar de estarmos sempre a ser interrompidos com perguntas sobre extraterrestres e monstros debaixo da cama. Peguem lá o tablet e o telemóvel, joguem uns jogos, pesquisem na Internet gajas nuas, estou a borrifar-me, só quero que se entretenham dez minutos para ter um jantar normal! E não temos de nos sentir mal, afinal quando olhamos para as mesas do restaurante, não faltam miúdos insolentes agarrados ao tablet e aos telemóveis.

Dia 6 – Ficar por casa

Hoje resolvemos ficar por casa, tem sido uma semana intensa de actividades, hoje nem vou tirar o pijama, afinal estou de férias. Pior que ir para a praia carregada de tralha é ficar em casa com dois putos insuportáveis. A casa que até estava limpa agora está suja, os brinquedos estão todos espalhados pela sala, a cozinha ficou numa lástima depois de fazer um bolo e uns biscoitos para entreter os insolentes. Acabo o dia a dar a ferro, o monte de roupa engelhada já estava a provocar-me um tique de nervos no sobrolho.

Dia 7  – Salvação

Toca o telefone. São os tios, hoje estão de folga e querem levar os miúdos para a  piscina. Fico indecisa, afinal são as minhas férias e eu quero estar com os meus filhos, a culpa de mãe começa a fazer efeito. Mas depois recordo-me amargamente da semana extra extra extra stress, das idas à casa-de-banho, das mudas de roupa, das birras no meio da rua, de se pegarem por causa de uma mosca, de não conseguir entrar numa loja para comprar umas simples cuecas sem me enervar. Sim! Sim! Sim! Podem leva-los…já agora podem os trazer de volta no final das minhas férias?