Fight Club Natalício

Chegou a altura do ano em que sofro abusivamente de arritmias cardíacas. Sim, chegou a louca fase do ano em que passamos mais tempo enfiados num centro comercial, do que em própria casa. O que, convenhamos, não é nada bom, porque é em casa que – usualmente… – fazemos o chamado amooorrr. E estar-se horas enfiado dentro de um centro comercial, reduz bastante a possibilidade da prática do forrobodó. Consta que é nesta fase do ano que ocorrem mais discussões entre casais, resultando mais tarde em divórcio (mas apenas depois do Natal, porque ninguém quer perder a oportunidade de receber o raio das prendas). Mas, lamentavelmente, é algo que temos obrigatoriamente de prescindir, para conseguirmos adquirir o raça das prendas todas antes de dia 24 – que é o dia em que a malta se transforma em verdadeiros psicopatas consumistas, querendo devorar tudo o que se encontra nas lojas.

Para evitar precisamente esse tipo de confronto – e para evitar ter de distribuir estampilhas às velhas que querem levar o mesmo produto que eu, e que só existe um na prateleira –, optei por despachar as prendas de Natal no fim-de-semana passado. Depois de passar 4 horas dentro de um hipermercado, lá consegui comprar tudo o que pretendia, faltando depois esperar mais 1 ou 2 horas na fila para embrulhar as prendas.

A coisa até que estava a andar bem, visto que as funcionárias que estavam de serviço a fazer os embrulhos estavam a laborar a uma velocidade bastante aceitável.

“Olha que porreiro, parece que vou despachar-me mais cedo do que o previsto. Sendo assim ainda dá para ir até à FNAC espreitar as promoções dos livros…”, pensei. Não podia estar mais errado…

Quando chega a minha vez, eis que acontece uma coisa que à partida me pareceu bastante normal, mas que viria a revelar-se um terrível pesadelo. Houve uma troca de turnos. Sendo assim, a funcionária que estava a despachar os embrulhos a uma velocidade apreciável, é rendida por uma colega que estava a usar uns patins, e que, assim que chegou ao balcão dos embrulhos, se esbarra literalmente contra o mesmo, derrubando as 3 prendas que eu já tinha inocentemente colocado em cima do balcão.

“Eish. Enfim, são coisas que acontecem…”, pensei, enquanto tentava inteirar-me sobre a condição de saúde da senhora que tinha acabado de embater violentamente contra o balcão.

Ela encontrava-se bem, levantando-se imediatamente de uma forma atabalhoada, sorrindo e pedindo desculpa por ter derrubado as minhas prendas todas para o chão. Retribui o sorriso, recolhendo as prendas que estavam espalhadas pelo chão. De seguida, ela pergunta qual o papel de embrulho que queria para as prendas e dá início ao que parecia ser uma simples tarefa, mas que se revelou um enorme desafio.

Primeiro porque não conseguia retirar de forma alguma o papel de embrulho daquela espécie de suporte para o mesmo. Ela puxava para cima. Ela puxava para baixo. Ela contorcia-se para o lado, e o raça do papel não saía do sítio. A dada altura, dou por ela quase a fazer espargata, devido ao facto de se encontrar de patins. Por momentos pensei que ela fosse partir uma perna e tentei segurá-la esticando os braços por cima do balcão. Por mero azar, calhou segurá-la mesmo na zonas do peito, provocando um olhar assustador por parte da senhora na minha direcção, deixando-me completamente embaraçado perante toda aquela vasta plateia de pessoas que esperavam pela sua vez. Segundos depois, lá conseguiu retirar o papel de embrulho.

Confesso que o jeito da senhora para embrulhar prendas era deveras limitado. Ela dava voltas à prenda, ora colocando-a na horizontal, ora colocando-a na vertical. E nada. O raça da prenda não cabia no papel. Porquê? Porque ela tinha retirado pouco papel de embrulho, não medindo bem a quantidade que iria precisar. Mas, talvez para não dar parte fraca, continuou a insistir. Até que a colega – que estava igualmente a embrulhar presentes – a alertou para o facto de o papel ser insuficiente. E isso foi um erro tremendo.

A “patinadora” larga, de uma forma totalmente abrupta, o embrulho e desata aos berros com a colega. Gritava-lhe que não tinha nada de se meter no seu trabalho! Que não tinha nada de se estar a armar em boa perante as pessoas! E depois o mais bizarro aconteceu…

Desatando a chorar compulsivamente, começa a disparar impropérios à cara da colega, começando pelo “estúpida”, continuando pelo “vaca” e acabando em “puta”. E as duas engalfinharam-se, puxando cabelos e distribuindo chapadas de meia-noite! Verdadeiras estampilhas de mão atrás, enquanto uns “caralho!” e uns “fodasse!” se misturavam com os gritos, acabando apenas quando os seguranças surgiram para as separar. Não tenho a certeza absoluta, mas parece-me que um dos seguranças ainda levou com uma estampilhada bem aplicada nas ventas.

Enquanto os seguranças as tentavam separar, eu aproveitei para retirar umas valentes folhas de papel de embrulho, para levar para casa e embrulhar eu mesmo o raça das prendas. Com isto tudo, acabei por não ter tempo para ir à FNAC espreitar as promoções dos livros, porque estava traumatizado com toda aquela bizarra situação. Corri para casa, assustado e beliscando-me pelo caminho, para ter a certeza que não estava no meio de um sonho mau.

Chegado a casa, constato que toda aquela situação irá estragar o meu Natal. E porquê? Porque no meio daquela confusão esqueci-me de trazer fitas para fazer os laços dos embrulhos! E agora vou ser alvo de olhares hostis por parte dos meus familiares, por todas as prendas não terem um laço catita, a embelezar o raça do embrulho. E tudo por causa daquela besta daquela maluca patinadora. É por estas e por outras que eu nunca tive curiosidade de aprender a andar de patins. E agora ainda muito menos. IRRA!

Até para a semana, malta catita.