Final da Champions League 2016 – Antevisão

Está aí o jogo de futebol mais aguardado do ano, no que toca a uma competição de clubes: A Final da UEFA Champions League! Dada a importância e o mediatismo em torno deste jogo, o Ideias e Opiniões não poderia ficar de fora e por isso, decidiu trazer aos seus valorosos leitores uma antevisão daquilo que poderá ser o jogo final de mais uma edição da “Liga Milionária”, com encontro marcado em Milão. Antes de partirmos ao jogo, importa reflectir um pouco sobre o percurso feito até aqui pelos dois finalistas, os arqui-rivais de Madrid, o Real Madrid e o Atlético de Madrid.

Comecemos pela equipa com mais vitórias na competição, o Real Madrid. Los Merengues procuram, com todas as suas forças, conquistar a décima primeira Taça dos Campeões Europeus da sua História e dar continuidade a um legado futebolístico inalcançável por qualquer outro clube. Depois de terem enfrentado o Atlético de Madrid na Final da UEFA Champions League em 2014, no Estádio da Luz e de terem vencido por 4-1, num jogo onde foram futebolisticamente inferiores ao adversário (pelo menos nos 90 minutos), os madrileños vão encarar esta final com imensa cautela, pois sabem o adversário que têm pela frente e os problemas que pode causar. Vai ser o jogo mais complicado do ano para a turma de Zinédine Zidane.

O Real Madrid teve um percurso relativamente tranquilo até aqui. Pelo seu estatuto de cabeça-de-série na fase grupos e pela “sorte” (tão habitual na equipa do Real, vá-se lá saber porquê) do sorteio foi sempre conseguindo evitar os maiores tubarões europeus. Ainda enfrentou boas equipas como o Manchester City e o Paris Saint-Germain, cujo histórico na competição é manifestamente pobre, mas nunca teve de medir força com um vencedor da prova.

Na fase de grupos, Los Blancos, ficaram colocados no Grupo A, juntamente com o já referido Paris Saint-Germain, o Shakhtar Donetsk e o Malmö. Um grupo acessível, onde o Real Madrid confirmou o favoritismo e garantiu o primeiro lugar do grupo, com 16 pontos em 18 possíveis. Venceu todas as partidas, sendo a excepção a visita ao Parc des Princes, onde empatou a zero com o PSG. Pelo caminho alcançaram-se resultados gordos, as chamadas “goleadas”. Com destaque para a vitória por 4-0 frente ao Shakhtar em Madrid, a vitória por 8-0 ao Malmö, também em casa e ainda para os 3-4 na Ucrânia. Jogos e vitórias que ajudaram a tornar o “nosso” Cristiano Ronaldo, o maior marcador da prova, com uns impressionantes 16 golos.

No inicio do “mata-mata” (como diria o nosso amigo Scolari), o Real Madrid enfrentou a AS Roma a contar para os oitavos-de-final da prova. Como seria de esperar, venceu com bastante facilidade. Com resultados iguais (0-2 fora e 2-0 em casa), o Real Madrid passou à fase seguinte sem sofrer qualquer golo romano. Fácil. Muito fácil.

De seguida, veio uma eliminatória surpreendente. O sorteio ditou que o Real Madrid teria de se deslocar à Alemanha, na primeira mão, para enfrentar o “acessível” Wolfsburg e depois decidiria a eliminatória em casa. A história dizia-nos (a nós e aos adeptos do Real Madrid), que o clube mais ganhador da Europa tinha sempre muitas dificuldades em terras alemãs. Mais uma vez a História mostrou estar certa. Draxler, Ricardo Rodriguéz e companhia carimbaram uma grande exibição e vergaram os espanhóis na Wolfsburg Arena. 2-0 foi o resultado. Foi também a primeira (e única) derrota do Real na prova, até ao momento. Infelizmente para os alemães, a festa só durou uma semana. Num Santiago Bernabéu cheio e com um super Cristiano Ronaldo em campo, a “remontada” foi assegurada. 3-0 no resultado, com “hat-trick” do português. O Woflsburg ficava-se pelos quartos-de-final da prova e o Real seguia para as meias-finais.

Nas meias-finais a equipa orientada por Zinédine Zidane apanhou pelo caminho uma equipa que nunca antes chegara tão longe na competição, os “novos ricos” do Manchester City. Estes, já afastados do título inglês (graças aos surpreendentes Leicester e Tottenham) tinham de apostar tudo por tudo na Champions League, mas não o fizeram. Em dois jogos muito pobres (0-0 em Manchester e 1-0 em Madrid), o nosso primeiro finalista ficou conhecido: o Real Madrid estava de volta a uma final e iniciava-se o movimento “a por la Undécima”, com vista à conquista da décima primeira taça dos campeões europeus. Pela frente está o adversário mais complicado em toda a prova. Na reedição da Final da UEFA Champions League de 2014, a sorte sorrirá aos mesmos? Vejamos primeiro o desempenho da equipa de Diego Simeone.

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A equipa do outro lado da capital espanhola, o Atlético de Madrid, ficou colocada no Grupo C. Neste grupo estavam também o Sport Lisboa e Benfica, Galatasaray e o Astana. Um grupo teoricamente fácil para os espanhóis, mas que não foi tão acessível como seria expectável. O Atlético de Madrid saiu vitorioso do grupo com 13 pontos, mais 3 que o segundo classificado, o Benfica. Pelo caminho os espanhóis tiveram alguns acidentes de percurso, compensados mais tarde.

No primeiro jogo, a primeira deslocação fora. Os Colchoneros venceram na Turquia, o Galatasaray, por 0-2 e replicaram o resultado em sua casa. Iniciava-se assim um percurso marcado pela capacidade em marcar golos fora e de sofrer pouco em casa, factores cruciais na fase a eliminar. Na segunda partida, a surpresa, diante do Benfica. Os encarnados deslocaram-se ao Vicente Calderón e arrancaram uma grande vitória por 2-1. Esta seria no entanto “vingada” mais tarde, no Estádio da Luz exactamente com o mesmo resultado, mas com vitória da equipa espanhola. Contra a equipa do Cazaquistão, os índios espanhóis venceram facilmente em sua casa (por uns convincentes 4-0), mas não se deram bem com as baixas temperaturas que se faziam sentir no Astana Arena, saindo de lá com um ponto apenas (0-0 foi o resultado).

Nos oitavos-de-final, dificilmente os adeptos do Atlético de Madrid poderiam pedir outro adversário dentro do leque possível. Na rifa saiu-lhes o PSV, que certamente arrancou alguns sorrisos antes da eliminatória começar. Finalizada a mesma, nervos e alegria deveriam ser os sentimentos mais presentes na aficción do Atlético. Afinal de contas tudo foi decidido nos penáltis do segundo jogo, pois ambos terminaram 0-0.

Já nos quartos-de-final, começou a verdadeira caminhada gloriosa do Atlético de Madrid e a razão pela qual eu acho que merecem vencer a prova este ano. Pela frente colidiram o campeão europeu em título, o Barcelona. E pelo caminho o campeão ficou. No Camp Nou e com uma expulsão algo exagerada de Fernando Torres, o Atlético saiu derrotado por 2-1, conseguindo no entanto, um golo muito precioso fora. Em casa e motivado por um público incansável lá resolveu a eliminatória. O Barcelona e o seu super ataque foram anulados e ainda sofreram 2 golos por uma das estrelas da edição deste ano, Antoine Griezmann. Era certo que haveria novo campeão europeu e que ainda não era desta que haveria um clube a vencer a prova duas vezes seguidas, desde que existe o formato moderno da UEFA Champions League.

A dois jogos da final, nas meias-finais, mais um colosso se intrometeu no caminho do Atlético. Desta feita, os gigantes do Bayern de Munique, orientados pelo genial Guardiola. Resultado final? Mais um colosso caiu diante da equipa de Diego Simeone. Vitória em Madrid por 1-0 e derrota por 2-1 em Munique, com o golo marcado fora a decidir novamente a favor dos Rojiblancos. Há alguma dúvida, de que o percurso do Atlético de Madrid foi mais complicado que o do Real Madrid?

Não quero desvalorizar em demasia a presença do Real Madrid nesta final. Merece tanto estar presente como o Atlético, mas dadas as valias de cada equipa e os adversários que se foram cruzando no caminho de ambos, parece-me que é mais louvável a chegada do Atlético até aqui, do que a do Real Madrid. E este facto nem tem a ver com uma preferência clubista pois, a minha equipa preferida em Espanha, desde miúdo, que é o Real Madrid. É por isto que irei estar muito dividido nesta final.

Por um lado, está a “minha” equipa espanhola na final, o Real Madrid. Aquela cujos argumentos e o futebol praticado são melhores que os do Atlético. Eu prefiro equipas que joguem um futebol mais atractivo, do propriamente destrutivo e que vençam impondo o seu estilo. O Real está mais próximo disto que o Atlético. Por outro lado, está uma equipa que merece ser reconhecida pelo seu trabalho e dedicação, aquela equipa cuja força de vontade é bem superior ao talento puro dos seus jogadores e ao futebol que estes praticam. Uma equipa que incorpora o espírito guerreiro do seu magnífico treinador, Diego Simeone. E há ainda outra razão para estar dividido. No lado do Real Madrid vai estar no banco aquele é que o meu futebolista preferido de sempre, Zinédine Zidane. Uma das poucas pessoas a quem posso chamar de ídolo de infância. Seria histórico ser campeão europeu com tão poucos meses de trabalho na equipa A. Também por ele gostaria que o Real vencesse. É complicado para mim!

Zidane

Mas caramba, se uma equipa que elimina o Barcelona e o Bayern de Munique na mesma campanha, não merecer ser campeã europeia, nenhuma merece! Além disso, a final da Champions League de há dois anos foi bastante enganadora e a diferença em campo não foi tão grande como os números do resultado aparentam. Na altura queria que o Real vencesse claramente. Este ano, já nem sei se não prefiro o Atlético. De qualquer maneira a final da Champions League vai ser bastante diferente.

Prevejo um jogo com menos golos que há dois anos. Um jogo fechado, em que o Atlético irá defender mais e em que o Real Madrid irá ter mais bola e domínio de jogo (sem criar grande perigo, contudo). Um jogo em que o Atlético, se marcar primeiro irá fechar-se a sete chaves e um jogo onde as bolas paradas poderão ser cruciais para decidir o vencedor. Sendo objectivo, vejo a equipa do Real Madrid com mais qualidade individual e a equipa do Atlético com mais qualidade colectiva, esta última a verdadeira “equipa” no sentido literal da palavra. Acredito que Simeone vá mentalizar os seus jogadores de que este será o jogo das suas vidas. E isto irá ter muito peso. Resta-nos assistir ao jogo para ver quem leva a melhor, a organização de um todo ou os rasgos individuais de algum génio.

Nos últimos confrontos entre ambos, foi notória a dificuldade do Real Madrid em contrariar o estilo de jogo do Atlético, por isso prevejo mais do mesmo. Um Real com posse de bola, mas com dificuldades em chegar ao último terço do terreno e o Atlético com menos posse, mas mais objectivo na frente, sobretudo através dos contra-ataques venenosos de Griezmann. Se tivesse de apostar o meu dinheiro (como sou forreta, não irei fazer) apostá-lo-ia no Atlético de Madrid. Se tivesse também de apostar num resultado seria 1-0 ou 2-1 para o Atlético.

Uma coisa é certa. Ganhe quem ganhar esta final, a taça irá para os “nuestros hermanos” e será, garantidamente um clube espanhol a suceder ao Barcelona. A terceira competição seguida vencida por equipas espanholas, que demonstra não só como está a qualidade da La Liga, mas também onde se centra o poder futebolístico nos dias de hoje. É mesmo aqui ao lado!

Venha de lá a tão aguardada final!