Folhas Caídas

Existe o momento certo de interromper tudo.”

Paulo Coelho 


  O verão evadiu-se pela euforia das sensações, aconchegando-se [por fim!] no arrepiar do outono, entre os ventos do norte e as águas chuvosas, que molham tudo bem molhado no escuro do dia, no negro da noite.

  Flutua o cheiro da humidade no ar que gela as narinas de pingo suspenso e subtrai-se o sol aos dias, quando a noite chama mais cedo ao conforto do pijama no lar e da companhia no sofá.

  A vida envolve-se em rotina de surdina e, volta e meia, despertam as vontades esquecidas, deambulando pelas lacunas do bater do coração arrefecido, na ausência de poesias declamadas, bradadas até aos mais distantes pontos cardeais.

  A vida envolve-se de surdina em rotina e, volta e meia, cansam-se as marés no desmaio do encantamento. Na descoberta dos dias, os quilómetros entre nós e os olhares sóbrios, de mordida no canto do lábio, na cobiça abafada, calcada e espancada – estrangulamo-nos nas cordas que nos unem.

  Receamos a nudez das nossas imprecisões, maltratadas por amores clandestinos, encolhidas e pequenas, sob o agasalho da situação. Vibra o protesto farto na garganta, consumido pela inspiração faminta por sangue pulsante no coração.

  “Amo-te”, digo, enquanto coloco maquilhagem no rosto que a alma esconde. Do fundo, o calor da lareira em abraço e o estalar da madeira no silêncio mudo.