Foodbook – Amílcar Monteiro

Primeiro pensei que fosse apenas uma moda passageira. Uma daquelas tendências que surgem com a mesma rapidez com que desaparecem. Infelizmente, não foi o caso. O fenómeno de postar fotografias de comida no Facebook não só continua, como está cada vez mais descontrolado. Se o leitor é um destes compulsivos fotógrafos de víveres, então este texto é para si.

Existem três situações em que se compreende o registo fotográfico da comida:

  1. Estão no estrangeiro, num país exótico, e resolveram mostrar o prato que pediram porque é bastante diferente daquilo a que as pessoas do vosso país estão habituadas. Atenção, tem de ser mesmo diferente e estranho, algo como escaravelhos grelhados com gafanhotos salteados e arroz de larvas;
  2. Vocês trabalham na área da restauração e estão a mostrar fotografias de pratos confeccionados no estabelecimento onde laboram, como parte de uma estratégia de marketing para atrair mais clientes;
  3. São obesos em recuperação e o médico solicitou-vos que fossem fotografando e mostrando tudo o que comem, como parte integrante do tratamento.

Se a fotografia do vosso repasto não se insere em nenhuma das situações acima descritas, então é porque vocês não passam de umas bestas. O que é vos passa pela cabeça para publicarem fotografias daquilo que estão a comer? O que pretendem com isso? Querem mostrar que sabem cozinhar pratos banais? Ou que conseguem ir a um restaurante e pedir comida? Talvez queiram revelar que são pessoas que têm a capacidade de comer? Se a resposta se inserir em alguma destas hipóteses, então parabéns! É que realmente isso são tudo feitos ao alcance de poucos .

E digam-me uma coisa: acham verdadeiramente que as outras pessoas querem saber o que vocês comem?  É que se acham, então aqui vai uma novidade: ninguém quer saber aquilo que entra na vossa goela. Perceberam? NINGUÉM!! É apenas um gesto fútil e despojado de qualquer utilidade. Lá por serem proprietários de um telemóvel que tira fotografias, isso não quer dizer que tenham de as tirar. Se querem mostrar coisas ao mundo tentem que sejam minimamente interessantes para os outros. Ponderem se as coisas que estão a pensar mostrar adicionam algo de relevante à vida dos outros. Não a vocês, mas as aos outros. E se não adicionarem, então tirem fotografias à vontade mas guardem-nas apenas para consumo próprio.

Claro que se acharem que imagens daquilo que estão prestes a enfardar é algo que, na vossa óptica, poderá ser relevante para as outras pessoas, então é porque vocês são seres absolutamente desinteressantes, com uma vida aborrecida e monótona, onde as refeições são o expoente máximo dos vossos dias. Ah, e não esqueçamos, são umas bestas.

“Podes não gostar, mas pôr fotos do que estou a comer não faz mal ninguém”, argumentam o leitores que praticam este comportamento asqueroso. Permitam-me discordar, leitores imaginários, mas colocar fotografias da vossa refeição no Facebook provoca efeitos nefastos:  não só expõe a vossa idiotice a nú, acentuando nas pessoas normais o sentimento de perda de fé na humanidade, como também desbrava caminho para que outros idiotas sigam as vossas pisadas de imbecilidade.

Mas eu não pretendo que este texto seja apena mais uma manifestação de ódio à vossa debilidade mental. Não. A minha intenção é informar-vos que densenvolvi uma forma de intervenção que pretende combater esse vosso hábito idiota através do reforço negativo. Eu passo a explicar: sempre que postarem uma fotografia daquilo que vão (ou estão) a comer, eu vou postar no vosso mural uma fotografia daquilo que comi no seu estado mais final – sim, estou a falar dos meus dejectos – acompanhada de uma descrição ddo tipo “Hmmm… Peito de pato braseado em caminha de rúcula”. Bon appetit, bestas.


Crónica de Amílcar Monteiro
O Idiota da Aldeia
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