Fui apanhado pelo bicho…

Tal e qual uma sagaz raposa, eis que o bicho me caçou sem que eu tivesse dado conta de tal facto. Silencioso, matreiro e de pantufas calçadas para que eu não desse conta da sua presença nas redondezas, o bicho rondou-me, sondou-me e, assim que viu a oportunidade perfeita, eis que decidiu atacar e apanhou-me completamente desprevenido. Tenho até a sensação que, a dada altura, o bicho transformou-se em hiena e soltou uns risinhos absurdos e de gozo por me ter apanhado, sem ter um mínimo de respeito pela minha pessoa — que o acolheu de braços abertos, sem qualquer resistência física ou emocional, embora de uma forma totalmente involuntária.

“E agora?”, perguntei a mim mesmo, sabendo claramente que a resposta óbvia seria apenas e só uma: “Deixaste-o apanhar-te, agora tens de lidar com ele.” E é isso que terei efectivamente de fazer, estagnando imediatamente os lamentos ou o papel de vítima perdida e rendida ao facto de o mundo estar prestes a desabar em mil e um pedaços em cima da minha cabeça. A única opção permitida é tentar confrontá-lo, agora que tive conhecimento da sua presença no meu organismo. Entrar numa guerra com o bicho é agora inevitável. Tenho de arregaçar as mangas, cerrar os punhos e, entredentes, gritar o mais alto possível: “Não vais sair vitorioso, meu grandessíssimo pelintra!”

Vou combatê-lo como se da minha última batalha se tratasse. Enquanto tiver forças para tal, vou contrariar todos os seus avanços para me deitar abaixo e controlar por completo o meu corpo. Não irá ser uma luta honesta, visto que me parece que o bicho não tem respeito por nada nem ninguém e nem possui a idoneidade suficiente para reconhecer que invadiu propriedade privada e que, por essa mesma razão, devia retirar-se o mais rapidamente possível, indo assim à sua real vidinha e deixar-me viver a minha vida de uma forma honestamente pacata e sem sobressaltos.

E só existe uma forma de o combater com resultados satisfatórios que indiquem que o consegui derrotar. A primeira medida a tomar é não deixar que ele se fortaleça mais do que já está. Quando mais forte o bicho, mais sintomas acabarei por ter. A segunda medida é não perder as forças — mais concretamente as “psicológicas”, visto que, se me deixar vencer nesse campo, o passo seguinte seria cair numa depressão. Nunca o irei permitir. E a terceira medida é mudar completamente o estilo de vida que tenho tido até então. Não comer gorduras, não comer fritos e reduzir o sal e o açúcar na minha alimentação. E, por último, fazer muito mais exercício físico, pois consta que isso é o que irá derrotar este malfadado bicho que dá pelo nome de Colesterol…