Fui o Senna das caricas

Fui Senna…

Tantas vezes!

Não como o Senna dos carros de corrida, nem dos motores a roncar e das pistas cheias de gente.

Fui Senna das caricas ou sameiras, das pistas feitas com riscos desenhados por pedra de tijolo e de joelhos no chão.

Não, nunca ouvi os gritos das multidões, nem tão pouco tive direito a pódios.

Quando nos sobrava tempo, por entre um jogo das escondidas e uma pelada de futebol, havia corrida.

Cada um, com a sua carica, devidamente quitada para a competição, alguns punham casca de uma tangerina acabadinha de roubar, no interior… Ficava mais pesada, andava melhor diziam.

Curva e contra curva, uma saída de pista a uma velocidade fantástica.

Regras da rua, um de cada vez, até a meta.

Era tudo uma questão de jeito, agora sei, naquele tempo a ânsia de ganhar era tanta que a maior parte das vezes perdia, mas nunca desisti.

Num tempo em que a abundância de brinquedos não era tanta como nos dias que correm, não precisávamos de muito…

Umas simples caricas, de umas garrafas quaisquer chegavam.

Cheguei a competir em cimento, em terra ou até mesmo no chão de parquet da minha sala.

Hoje não guardo os troféus, nem os gritos das multidões, muito menos os barulhos dos motores, mas guardo sim as memórias de muitas corridas disputadas na rua ao som das caricas!

Fui Senna…

Tantas vezes!

Não como o Senna dos carros de corrida, fui Senna das caricas, das pistas riscadas e de joelhos no chão.

Não se esqueçam de recordar e sonhar porque a vida é feita de sonhos!