Game of Thrones arruinou a minha vida! (Ou não…)

É, sem dúvida nenhuma, uma das melhores séries televisivas de sempre — e quiçá, a melhor série de que há história. (Finalmente! Finalmente consegui usar a palavra “quiçá” numa crónica. Custou mas foi. Pronto, agora tenho a certeza que já não irei morrer infeliz, porque este era um dos objectivos de vida que eu tinha: usar a muito catita palavra “quiçá” numa crónica. Pronto, agora vamos continuar com a crónica, embora, muito honestamente, exista a possibilidade de a mesma não ter qualquer tipo de interesse. Porque, a partir do momento em que já usei a palavra “quiçá” — conseguindo assim atingir o auge desta crónica logo no princípio — obviamente que o resto já não terá muita qualidade. Bom, mas avancemos que já se faz tarde e eu ainda tenho de ir regar as melancias…)

Eu sou um nerd. Ponto. Não há nada a fazer — é algo que nasceu comigo. Ou, na verdade, algo que se foi desenvolvendo desde os idos tempos em que comecei a dar os primeiros passos em Star Wars. Sempre adorei ficção, ou fantástico. E, logicamente, adoro ler — pois isso faz parte do ADN de um nerd? Eu confesso que, sim, eu li todos os livros da saga “As Crónicas de Gelo e Fogo”, do avozinho George R. R. Martin, que inspirou uma das melhores séries de todos os tempos — quiçá, a melhor! (Eish! Duas vezes a palavra “quiçá” numa crónica? Meu Deus, que eu perdi a cabeça!) — a tão badalada Game of Thrones.

Mas, se um por lado eu sou um fervoroso adepto da saga — e igualmente da série televisiva —, a minha cara-metade, por sua vez, não acha lá muita piada a este tipo de aventura da Idade Média, onde reis, rainhas, príncipes e princesas dominam o mundo. Aliás, não achava… Até o dia em que eu, depois de múltiplas tentativas, consegui que ela visse o primeiro episódio de Game of Thrones. E, meus amigos, eu cometi o maior erro da minha vida.

Depois de muitas negas, ela lá viu o episódio e teve uma reacção que eu não estava mesmo nada à espera. Enquanto eu esperava que ela, depois de assistir ao episódio, dissesse algo como “Amor, pelo amor da santa… Mas que raio de porcaria vem a ser esta? “, pelo contrário, a reacção dela foi: “Amor… hum… mete aí o segundo episódio que eu tenho de saber o que se vai passar com o Ned Stark, quando ele for para King’s Landing, ser a Mão do Rei!” E, meus amigos, eu fiquei boquiaberto a olhar para ela durante uns largos segundos, até que ela decidiu intervir aplicando-me uma estampilha bem colocada nas fuças. E eu pus o segundo episódio. E nós vimos juntos o segundo episódio. E quando acabou o segundo episódio, ela pediu-me para colocar o terceiro. E nós vimos o terceiro episódio. E assim que acabou o terceiro episódio, ela pediu-me para colocar o quarto episódio. E eu pus o quarto episódio — acto que foi intercalado com alguns momentos em que eu perguntava: “Amor, de certeza que queres ver mais um?”, e ela respondia: “CLARO! METE JÁ ISSO, ANTES QUE LEVES MAIS UMA ESTAMPILHA NAS FUÇAS!” E eu colocava, porque ela é pequena, mas tem a mão pesada… E quando dei por mim, tínhamos a primeira temporada vista. E depois a segunda. E a terceira… E a quarta…

De um momento para o outro, a nossa vida de casal passou a ter um só sentido e intenção: ver episódios de Game of Thrones. E as conversas — que antes eram realmente interessantes e socialmente aceitáveis e saudáveis entre um casal — iam encalhar sempre no mesmo tema: Game of Thrones. E, num ápice, comecei a ouvir todos os dias palavras que envolviam; “dragões”, “Daenerys Targaryen”, “rei”, “rainha”, “príncipe”, John Snow”, “Starks”, “Tyrion”, “anão”, “Lannisters”, “cabeças cortadas”, etc. Subitamente, todas aquelas personagens e todo aquele mundo imaginário criado por George R. R. Martin, que eu tanto adorava, começou a ser uma coisa enjoativa. Algo que eu já nem podia ouvir.

“Amor, vamos ver mais um episódio?”, perguntava ela.

“Tem mesmo de ser?…”, respondia eu.

“TEM! VAMOS CHATEAR-NOS POR CAUSA DISTO, É?!!”, retrucava ela num tom agressivo.

“Mas… não me apetece… Eu já vi isso uma vez, mor…”, dizia eu, tentando esquivar-me de uma forma suave da situação.

“Tu és sempre a mesma coisa! Nunca fazes nada por mim! Nunca queres fazer nada os dois. Não é bom estarmos aqui os dois agarradinhos a ver a série?”, disparava ela tentando arrumar-me com este argumento.

“Ok… Vamos lá ver isto os dois agarradinhos…”, acabava por responder eu, num tom resignado e com total certeza que, se não aceitasse, iria sentir uma vez mais a mão pesada da minha cara-metade de um metro e cinquenta e cinco.

E depois, era ouvi-la a suspirar por John Snow, por Khal Drogo, Jamie Lannister, e eu, que era o amor dela e que estava ali agarradinho a fazer-lhe a vontade, que me lixasse. Então, fiz-me um homem, e enfrentei a minha namorada. Aquilo não podia continuar assim, e eu tinha de fazer alguma coisa antes que fosse tarde demais. Então, olhei para ela directamente nos seus olhos castanhos e amorosos, enchi os pulmões de ar, e exclamei: “Amor! Isto não pode continuar! Se queres continuar a ver episódios de Game of Thrones como se não houvesse o amanhã, tens de me prometer uma coisa: por cada episódio que vemos, temos de ter uma noite de sexo desenfreado logo a seguir!”

Ela, ainda com o mesmo olhar amoroso, diz: “Ok, amor… tudo bem. Este também já é o último episódio desta temporada, e a próxima só começa para o ano. Vamos lá a despachar isto agora, e depois voltamos a falar para o ano…”

Olhei alternadamente para ela e para a televisão — numa tentativa desesperada de ela se ter enganado, e aquele não ser o último episódio deste ano — e, num suspiro, digo: “Oh, merda…”

Isto é que e uma Vida de Cão, hem…