GES vs BES (versão simplificada)

Muita gente (até eu de inicio, confesso) deve ter ficado confusa quando, a respeito da recente crise no Banco Espírito Santo, se falava umas vezes de BES, outras de GES (Grupo Espírito Santo).

Pois bem. BES é apenas o banco, o Banco Espírito Santo. O Grupo Espírito Santo é o maior dos accionistas (através da empresa Espírito Santo Financial Group), com 25,1% das acções do banco. O GES, para além da participação no BES, é proprietário de outros negócios como os hotéis Tivoli (que estão à venda), a seguradora Tranquilidade ou o Hospital da Luz.

E, tendo em conta a recente “bronca” na Espírito Santo Internacional (outra empresa do GES, mas independente do BES), que resulta da “ocultação de 1200 milhões de euros em dívida nas contas de 2012″ (segundo o Público, que cita o Espírito Santo Financial Group), o regulador Banco de Portugal exigiu que os responsáveis por este problema – a família Espírito Santo, gestora do GES – se afastasse do Banco, de forma a evitar que o BES fosse (ainda mais) prejudicado.

O objectivo agora é dar a ideia de que o BES está sólido e imune à crise. E até pode estar, mas trabalhadores, clientes e investidores não esquecem que os maiores accionistas e, até à pouco tempo, administradores do Banco estão numa situação de bancarrota. Quando Ricardo Espírito Santo Salgado, presidente executivo do GES e presidente executivo demissionário do BES,  disse ter-se esquecido de declarar 8,5 milhões de euros em sede de IRS (2011), foi alvo de chacota na Internet. Mas aqui é muito mais grave. Estamos a falar de 1200 milhões de euros de um grupo que vende títulos de divida. Como é que se explica aos clientes que, não só não vão receber os juros devidos, como que o GES não sabe do dinheiro que eles investiram?

No meio disto tudo, acho positivo o Banco de Portugal ter agido de imediato. A família Espírito Santo, fonte do problema, deve sair da gestão do BES, para evitar mais problemas. E até já foram nomeados novos membros, que nada têm a ver com a família ES, apesar de terem sido indicados por esta, enquanto principal accionista.
Se bem se lembram, não é inédito a família fundadora afastar-se ou ser afastada. Recordam-se com certeza que, há poucos anos atrás, Jardim Gonçalves, fundador do BCP, foi acusado de “prestação de informação falsa e de falsificação de contas do BCP ao longo de vários anos” pelo Banco de Portugal e proibido de exercer actividade bancária (e, por conseguinte, afastado do BCP).
E, fora do sector bancário, se lerem a história do grupo Jerónimo Martins, verão que a modesta loja que o jovem galego Jerónimo Martins abriu em 1792 no Chiado (que originou o grupo), depois de uma quase falência em 1918-1920 (fim da Guerra Mundial) que os netos do fundador não conseguiram evitar, é salva por Francisco Manuel dos Santos (avô de Alexandre Soares dos Santos, até à pouco tempo presidente do Conselho de Administração do grupo) e por Elysio Pereira do Vale,  proprietários dos Grandes Armazéns Reunidos (do Porto). Isto quer dizer que, no grupo Jerónimo Martins, do fundador só resta o nome e a história.

Em suma, em todos os grandes negócios de família, quando atingem uma certa dimensão, há tendência para haver problemas. E na família Espírito Santo, se, há pouco tempo atrás, os primos discutiam entre si quem ficaria na presidência dos negócios da família, agora discute-se como os vão salvar.

Crónica de João Cerveira

Diz que…