Gostava de Tocar-te

Gostava de tocar-te
Não na pele
Nessa…Todos tocam
Gostava de tocar-te
No mais íntimo da tua essência
Onde vivem os teus demónios
Alcançar as tuas sombras
E abraçá-las com os meus raios de luz
Gostava de tocar-te
Mostrar-te outro mundo
Não… Não me quero impor
Tu és tu… Eu sou eu…
Mas juntos somos um.
Gostava de tocar-te
Como se a minha voz de um pêndulo se tratasse
E dela ecoasse o som da Esperança
O que sei eu?
E o que sabes tu?
Gostava de tocar-te
E anseio sentada num canto
Pelo dia em que percebas que aqui estou
Que te espero, para te ouvir
Para ti,  por ti.
Até lá sufoco
Assistindo ao teu sofrimento egoísta
Que teima em ficar na sombra
Como se no mundo não houvesse mais
Do que escuridão.
Espero tocar-te,
Enquanto caminhas da penumbra
Apenas o que baste para te tocar a mão
E te envolver nos meus raios.
Gostava de tocar-te
Para que visses através da minha luz,
O teu futuro

Para alguns, serão palavras de um amor perdido, de um coração ferido.
Para outros talvez apenas as palavras de um amigo.

  Nos últimos anos, o suicídio tem aumentado de forma alarmante. Pelo mundo fora, em Portugal, pessoas que conhecíamos diretamente, outras indiretamente. Ainda há quem ache que os psicólogos e psiquiatras são para os loucos mas, o que é a loucura? O que é o normal?

  Há que entender que a depressão, a bipolaridade e muitas outras, são doenças, não são sinónimos de fraqueza. Cada pessoa tem a sua força, a sua resistência, ninguém está isento de passar por este caminho sombrio. Há quem não conheça outra vida senão esta e não, não é por vontade própria que assim vivem. Também não podemos continuar a fazer o que fazemos hoje, em que de repente tudo é patológico ou psicológico. Rapidamente se catalogam doenças mentais sem se considerarem as repercussões que isso terá na vida e crescimento de uma criança, por exemplo. Crianças que há uns anos seriam simplesmente consideradas como reservadas e tímidas, são hoje catalogadas como diferentes, crescendo com o estigma da diferença.

  Estamos tão absorvidos nas nossas vidas virtuais, materiais e banais que ignoramos o que está à nossa frente. Ou porque achamos que não vale a pena dramatizar, ou porque achamos que os outros, de alguma forma têm controlo e que sabem que dias melhores virão, ou simplesmente porque estamos tão fechados no nosso autismo que o sufoco de alguém nos passa ao lado. É hora de pararmos de olhar para os nossos umbigos, de escutar ativamente e perceber que podemos fazer a diferença.

  Pôr termo à vida é um ato de coragem e não um ato de cobardia. É, no entanto, o último grito de quem viu a esperança morrer, de quem deixou de acreditar que algo pode mudar, de quem se sente só no mundo. E quando toda a luz, toda a esperança se vai, quando o cansaço de viver em luta constante vence, não há motivo para ficar. Os que partem, encontram a sua paz. Aos que aqui ficam resta-lhes viver com o sentimento de culpa, de perceber tarde demais que os sinais até estavam lá, à vista de quem quisesse perder alguns minutos e talvez, quiçá talvez, fazer a diferença.

  Estejam atentos aos sinais. Informem-se, leiam, pesquisem, olhem com o coração, não tenham medo de pedir ajuda, de encaminhar para quem saiba, façam por eles aquilo que eles mesmos não conseguem fazer. Sejam amigos, estimem e amem. Não direi que é simples lidar com um familiar ou amigo que sofre, porque não o é. Cria frustração, sentimento de impotência, corrói-nos por dentro. Mas se desistimos, por que motivo não deveriam eles desistir também? Temos de nos focar na Prevenção. Estarmos atentos poderá evitar chegar ao ponto do não retorno.

  Pensamos sempre que temos tempo, e que se não hoje, amanhã tentaremos fazer algo, faremos aquele telefonema, enviaremos uma mensagem só para dizer que aqui estamos mas…e se amanhã for tarde demais?