Got Talent Portugal (balanço após final) e os concursos com 760

No Mais Opinião não temos editores que nos dizem sobre que escrever. Escrevemos, por conseguinte, sobre aquilo que nos apetece escrever, mas às vezes é difícil decidir. Ás vezes não se consegue decidir sobre o que escrever e nessa semana não há crónica (e peço desculpa aos leitores por isso). Esta semana, dentro dos assuntos possíveis, segui a sugestão de um amigo de fazer um balanço sobre o que foi o Got Talent Portugal 2015. Correndo o risco de repetir alguns pontos que já abordei noutras crónicas, vou fazê-lo. Por outro lado, vou abordar a temática dos concursos cuja participação obriga a ligar um número de valor acrescentado (os famosos 760), do qual o próprio Got Talent é um exemplo.

Got Talent Portugal 2015

A final do Got Talent Portugal 2015 foi na semana passada, embora esta noite ainda haja uma gala, que parece uma mistura de gala de consagração e de despedida, ao mesmo tempo. Algo que, ao que parece, a produtora Fremantle Media Portugal gosta de fazer, pois fez o mesmo com o Factor X (na SIC).

Não vou voltar a explicar no que consiste o formato (já o fiz aqui), mas vou voltar a abordar aspectos do programa (alguns deles aos quais já aludi aqui).
Não há problema algum,a meu ver, em adaptar formatos internacionais à realidade do nosso país. Há, no entanto e na minha modesta opinião, problema em mudar pequenos pormenores que existem no formato original, porque existe uma razão para eles lá estarem. Por exemplo: com certeza lembrar-se-ão do genérico dourado (quem não se lembra, tenho uma foto aqui, é só clicar). Esse genérico é usado também na versão original britânica (ver aqui), mas apenas nos programas gravados, das audições. Nos programas em directo é usado um genérico mais longo, mais animado (que pode ser visto aqui). É um pormenor? Claro que é, mas daqueles que faz, a meu ver, todo o sentido, para separar o que são os programas gravados dos programas ao vivo e em directo. Aliás, a única razão que vejo para isso – e eu abordei este assunto via twitter e as respostas da conta oficial do programa tendem a confirmar, embora não expressamente – é a mesma razão que levou a usarem o nome Got Talent Portugal e não Portugal Got Talent ou Portugal Tem Talento: porque já existiu um Portugal Tem Talento na SIC (bem como um Aqui Há Talento, na RTP) e não queriam que houvesse confusão entre ambos. E digo que talvez seja a mesma razão porque, se forem pesquisar, o Portugal Tem Talento tinha o genérico mais longo (podem ver no Youtube, aqui). Por maioria de razão, se a Fremantle Media Portugal alguma vez produzir o Factor X noutro canal, provavelmente chamar-se-à X Factor Portugal ou só X Factor (gosto mais desta hipótese), pois não vão usar o mesmo nome (provavelmente devido a patentes, sei lá). Ainda bem, para o meu gosto, não fizeram tantas alterações no formato Got Talent como fizeram no Factor X.
Durante o programa houve uma quebra de corrente que mandou a emissão abaixo e creio que, por duas vezes, os concorrentes tiverem de recomeçar a sua actuação (no último caso, só à terceira vez conseguiram) por problemas técnicos da responsabilidade da produção. Vamos ser directos e objectivos: em televisão em directo erros acontecem e sempre acontecerão. Mas tantos? Espero que a produtora faça um esforço maior por evitar estes erros, uma vez que, havendo ensaio geral antes do directo, não faz grande sentido.
Quando aos concorrentes, eu não tinha um só preferido, gostei de vários desde as audições e acho que quem ganhou, os Art Gym Company (veja a ultima actuação aqui) mereceram completamente a vitória.  E é curioso ver no twitter, durante as galas, muita gente a dizer “é injusto [este ou aquele] não ter passado”, mas metade deles nem devem ter votado. E as regras do concurso são, em todo o mundo, passa nos directos quem mais votos tem.
Creio que não podia ter sido melhor escolhido o apresentador. Nos formatos US e UK também é um humorista que apresenta o programa (no caso do UK uma dupla de humoristas) e faz toda a diferença, para animar toda a gente em estúdio, até o Manuel Moura dos Santos. Este jurado é, para mim, quem menos sentido faz ali. Até mesmo naquilo em que ele, supostamente, devia ter algumas “luzes” – a música – uma vez que é manager de alguns cantores e bandas, achei sempre os comentários dele muito discutíveis. Já a Sofia Escobar (que não conhecia e fiquei a adorar), o Tochas e o maestro Massena adorei. Achei-os sempre bastante pertinentes e justos no que diziam, mesmo tratando-se da sua opinião pessoal.

Os concursos e passatempos que usam números 760

Actualmente todos os programas e passatempos televisivos usam estes números de valor acrescentado. Quer programas do género “Talent Show” (Got Talent, Factor X, Idolos, etc), quer outros formatos (Casa dos Segredos ou A Tua Cara Não Me É Estranha, por exemplo), usam este método para permitir ao público escolher o vencedor do programa. O único que não era assim era o Rising Star.
Mais recentemente também nos “talk shows”, sejam os matinais ou os de meio de tarde, bem como em publicidade institucional a toda a hora, os espectadores são convidados a ligar para este tipo de números, para ganharem avultadas somas de dinheiro em cartão. Isto gerou alguma controvérsia porque nem sempre ficam bem explicitas as condições. Segundo noticiou o DN, a ERC (Entidade Reguladora para Comunicação Social) está a investigar este tipo de programas, devido a queixas relativas, precisamente, ao parco esclarecimento, desde logo, de que o prémio não é em dinheiro, mas sim em cartão.
De facto, o crescente número de queixas por todo o lado fez alguns programas terem mais atenção e obrigarem os apresentadores a explicarem as regras – que recebem o dinheiro em cartão e que têm de o gastar através do cartão, sem poderem levantar ou transferir dinheiro, principalmente – em vez de se refugiarem na lei que os obriga apenas a fornecer a informação, que anteriormente faziam naquelas letrinhas pequenas no rodapé. É a nova forma de pagarem os programas, uma vez que, fora o IVA, uma parte da chamada vai para o operador de telecomunicações, a outra parte para o programa.
Eu não tenho tempo para ver televisão no horário day time, mas quando consigo ver um pouco do fim do “Agora Nós” na RTP1 na minha hora de almoço, gosto de ver José Pedro Vasconcelos a dizer claramente (para além das regras que acima enunciei) que cada vez que ligar para o passatempo deles gasta 60 cêntimos mais IVA, pelo que deve ponderar se pode ligar e até se pode ligar mais do que uma vez, para não ter uma conta de telefone muito alta. Creio que devia ser assim em todos.

Crónica de João Cerveira