O Governo PS vai de vento em popa

Para analisar o período de governação dos primeiros três meses, o Primeiro-ministro António Costa concede a primeira entrevista à jornalista já nossa conhecida de ter entrevistado os principais líderes políticos.

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JORNALISTA – Boa noite. Sr. Primeiro-ministro, que balanço faz destes primeiros três meses de mandato?

ANTÓNIO COSTA – Muito positivo. Nem podia estar mais satisfeito por estarmos a devolver às portuguesas e aos portugueses todo o dinheiro que lhes foi retirado ao longo dos últimos quatro anos.

JORNALISTA – Não haverá aí um otimismo, digamos, exagerado?

ANTÓNIO COSTA – É natural. Mas não estava à espera que eu fosse isento, pois não? Não consigo ter esse distanciamento da minha ação enquanto Primeiro-ministro. A menos que esse Primeiro-ministro não fosse eu.

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JORNALISTA – O que quer dizer com isso? Que seria mais fácil avaliar o trabalho do Governo e criticá-lo se no seu lugar estivesse Passos Coelho?

ANTÓNIO COSTA – Não. Se no meu lugar estivesse outra figura do Partido Socialista, como o Dr. António José Seguro ou outra figura que tivesse, contra mim, o apoio de Maria de Belém, por exemplo.

O Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, na Comissão Parlamentar das Obras Públicas no âmbito da Petição sobre o Terminal de Alcântara, na Assembleia da República, 9 Dezembro 2008, em Lisboa. JOSÉ SENA GOULÃO / LUSA

JORNALISTA – Consegue enumerar as medidas mais fáceis de tomar até agora?

ANTÓNIO COSTA – As que reduziram a austeridade.

JORNALISTA – E as mais difíceis?

ANTÓNIO COSTA – Foi, sem dúvida, termos conseguido descobrir no dicionário uma palavra como “restrições” para substituir o termo austeridade, no esboço de orçamento que há dias apresentámos às portuguesas e aos portugueses e em relação às medidas, digamos, menos populares que ainda lá constam.

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JORNALISTA – Como foram as negociações com os ministros em Bruxelas?

ANTÓNIO COSTA – Terríveis. Muito duras. Compreendo agora por que é que os elementos da Troica passavam a vida a deslocar-se a Lisboa no período do resgate. Passos Coelho devia preferir falar com eles longe de Bruxelas, pensando que a jogar fora de casa a equipa de avaliação poderia ser mais fraca, como no futebol.

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JORNALISTA – Por falar no antigo Primeiro-ministro, pergunto-lhe já como carateriza a vossa atual relação?

ANTÓNIO COSTA – É de um pouco de falta de respeito da parte dele, mas melhor do que a que deve manter com o Dr. Paulo Portas. Pelo que sei, na esmagadora maioria dos casos de portuguesas e portugueses amigos meus, passa a ser má quando as pessoas se separam e a deles não deve ser exceção à regra. Mas o melhor antes de tirar conclusões, é colocar-lhes a pergunta diretamente.

O presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, durante o Fórum das Políticas Públicas subordinado ao tema "Diminuir o número de concelhos e freguesias permite ganhar eficiência nas políticas locais?", ISCTE-IUL, em Lisboa, 26 de janeiro de 2012. MARIO CRUZ/LUSA

JORNALISTA – E como tem sido com o Presidente Cavaco Silva?

ANTÓNIO COSTA – Morna. Não ata nem desata. Já nem dá lugar a discussões. É como a daqueles casais que estão à beira da separação, em que um deles está de partida e desse, tão cedo, o outro sabe que não vai ouvir falar.

JORNALISTA – Como espera que seja com o futuro Presidente Marcelo Rebelo de Sousa quando ele tomar posse?

ANTÓNIO COSTA – Espero que se mantenha como até agora. Ou melhor, como era no tempo em que ele fazia comentário político. Dava às vezes razão ao PS e a Passos Coelho não hesitava em dar nas orelhas, como costuma dizer o povo. Se não puder fazê-lo agora ao domingo através da televisão, que o faça pelas vias institucionais que tem ao seu dispor. Por mim, tudo bem.

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JORNALISTA – Já referimos o nome de António José Seguro. Sabe por onde é que ele tem andado?

ANTÓNIO COSTA – Não, mas creio que voltou à universidade para dar aulas. Contudo, não é por causa de ele ser novamente professor e querer calá-lo, que já assumi o compromisso de vir a satisfazer o desejo do Sindicato dos Professores no sentido do desbloqueamento da progressão de carreiras desses profissionais e do descongelamento dos seus salários. Estou disponível para disputar com ele a liderança num próximo congresso do Partido, como já se viu no passado.

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JORNALISTA – Ainda não abordámos o tema presidenciais, nem a derrota dos candidatos apoiados pelo PS. Mas falemos da vitória logo à primeira volta com maioria absoluta de Marcelo Rebelo de Sousa.

ANTÓNIO COSTA – Uma maioria muito relativa, diga-se de passagem, que necessariamente não traduz a vontade da maioria do eleitorado. Não se esqueça de que a abstenção foi elevadíssima, tal como nas legislativas de outubro.

JORNALISTA – Sim, o Dr. António Costa referiu-se nos mesmos termos à vitória relativa que obteve Passos Coelho.

ANTÓNIO COSTA – E por achar muitas semelhanças entre os resultados que ambos alcançaram, é que não me posso alongar em comentários relativamente à vitória de Marcelo Rebelo de Sousa nas presidenciais. Se dissesse dele o que disse na altura a respeito do líder do PSD, ainda podiam pensar que queria também ficar com o lugar dele, como aconteceu com o cargo de Primeiro-ministro!

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JORNALISTA – Voltemos ao tema inicial da sua governação. Conseguiu anular em parte o negócio da privatização da TAP.

ANTÓNIO COSTA – É verdade e só não ficámos com uma percentagem maior do capital da companhia, porque pelo valor que estávamos dispostos a comprar os cinco por cento na posse dos pilotos, iriamos tê-los a protestar à porta do Ministério das Finanças em muito maior número e a fazer mais barulho do que os lesados do BES e do BANIF em conjunto.

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JORNALISTA – Aos do BES, juntaram-se recentemente os lesados do BANIF. Como pensa resolver a situação?

ANTÓNIO COSTA – Vai ser brevemente.

JORNALISTA – Vai dar ordens para serem ressarcidos do dinheiro que investiram e perderam?

ANTÓNIO COSTA – Não propriamente. Vou pedir ao Ministro das Finanças para fazer umas contas e dar-lhes rapidamente a conhecer o que teriam perdido se, em vez do BANIF, tivessem investido as suas poupanças no BES. Teria sido muitíssimo mais.

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JORNALISTA – Quase a terminar, senhor Primeiro-ministro, como está de saúde a coligação para governar à Esquerda?

ANTÓNIO COSTA – Muitíssimo bem, não podia ir melhor.

JORNALISTA – Não haverá aí novamente um otimismo exagerado?

ANTÓNIO COSTA – Desta vez não. E digo-o com o ar mais sério do mundo. Não tenho a culpa é de que as pessoas não estejam habituadas a ver-me falar com um ar mais sério e pensem logo que estou a mentir.

JORNALISTA – E existe mais algum dos seus conselhos que gostasse de dar aos portugueses? Além dos já conhecidos para passarem a fumar menos e a andarem mais nos transportes públicos?

ANTÓNIO COSTA – Sim. Recomendo que, em vez de reduzir, parem mesmo de fumar! Ganham mais resistência física e até podem deixar de andar nos transportes públicos, indo a pé para o trabalho. Poupam no tabaco e no dinheiro dos bilhetes.

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FIM