“Governo treme; alarmes soam na China” – Nuno Araújo

Governo treme; alarmes soam na China”

Miguel Relvas quer alienar a RTP do património público, mas tem oposição forte de vários sectores da sociedade. O défice poderá ultrapassar 5%, porque a Troika vai deixar. Na China, um relatório de um economista influente afirma que o “tigre asiático” poderá entrar em crise daqui a muito pouco tempo.

Situação nacional

Dossier RTP

A RTP custa aos contribuintes portugueses cerca de 150 milhões de euros ,através da chamada Taxa de Audiovisual, incluída numa pequena percentagem da factura da EDP. Concessionar a RTP a privados é o mesmo que privatizá-la, pois ceder direitos de exploração da RTP a privados, portugueses ou estrangeiros, é desrespeitar a constituição e os portugueses, que com pagamento de impostos e da Taxa de Audiovisual, asseguram o financiamento da estação pública de televisão. Pagar essa taxa, cedendo a RTP a privados, não deverá acontecer. Operadores privados que explorem a RTP não poderão, nunca na vida, receber o montante de 150 milhões de euros de taxa de audiovisual, que já está previsto no cenário de concessão da RTP a privados. E nunca na vida se poderia apenas aceitar 100 milhões de euros pela contrato de concessão da RTP a privados, pois o património público não deve ser vendido, e quando vendido, não o deve ser feito ao “desbarato”.

O PSD, através do ministro Miguel Relvas, pretende ao que parece concessionar o espaço de antena da emissora a privados. Ora isto, ainda segundo o PSD, faz manter a RTP enquanto propriedade do estado, ao mesmo tempo que o estado deixa de assumir custos com a RTP (o que inclui a RTP África, Internacional, Memória e Informação, e da rádio Antena1, Antena2 e Antena3, estando por esclarecer se alguma das estações de rádio será encerrada, para além da RTP Madeira e RTP Açores).

Na semana que passou, com o anúncio da concessão da RTP a privados, primeiro com as palavras de António Borges, depois por várias outras vozes sociais-democratas, a administração da RTP demitiu-se, e Miguel Relvas aceitou de imediato esse pedido. Já se tinha gerado, entretanto, uma verdadeira oposição do PS e da restante esquerda à concessão da RTP a privados, evidenciando ainda mais uma fractura do PSD com os restantes agentes políticos, passando pelo PS, indo até ao CDS, parceiro de coligação governamental.

O PS opõe-se, oficialmente, à concessão da RTP a privados, enquanto que Paulo Portas, pelo CDS, não gostou da forma como o PSD tratou do caso da RTP, referiu-se a esta sucessão de episódios da seguinte forma: “Vai ser preciso um esforço para recuperar o sentido de compromisso que PSD e CDS demonstraram quando negociaram o programa do Governo. Estamos cá para isso”. Paulo Portas, ex-jornalista (ex-director do semanário Independente) e o CDS não são favoráveis à concessão da RTP a privados, pelo que lembrar da lealdade que o partido maior deve ao partido menos grande só deve alertar o PSD de que não conseguirá dar o chamado “abraço do urso” ao CDS.

O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, quando foi primeiro-ministro era favorável a que o estado detivesse propriedade de um canal de tv, rádio e jornal, já afirmou, quanto à anuncida concessão da RTP a privados que a RTP presta “um serviço público nos termos da Constituição (…) O Estado deve assegurar a existência e funcionamento de um serviço público de televisão e de rádio (…) Qualquer alteração do modelo não deixaria com certeza de ser objecto de uma explicação aprofundada por parte do Governo de forma a que os portugueses percebam o sentido e a razão das mudanças a realizar nesse domínio”,  Ora, com isto, Cavaco pretende dizer ao governo que não concorda com a concessão da RTP a privados, muito menos com a privatização.

Passos Coelho, perante tudo isto e outras vozes dissonantes dessa hipótese de destino para a RTP, afirma que a concessão da RTP a privados “é apenas um cenário em estudo”. Ora, se esse cenário se cumprisse, só reforçaria as palavras da socialista Edite Estrela, que garantiu que “concessão da RTP servirá para o PSD reforçar o seu grupo mediático”. Nada mais verdadeiro, o PSD já detém, através dos seus militantes enquanto proprietários de orgãos de comunicação social, vários jornais, revistas e rádios.

Tal como tenho escrito ultimamente, o PS começa cada vez mais a ganhar espaço para ser governo, dentro de não muito tempo, por duas razões muito simples: uma, porque o PS é oposição séria e de rigor, outra porque os desentendimentos no interior do governo são já tantos e tão sérios que essa discórdia até já é do conhecimento público.

Situação internacional

China, crise à espreita?

Numa crónica de 11 de Junho, eu abordei a possibilidade de a China vir a passar por uma crise financeira em 2015 (ler crónica no ponto 4). Na semana passada, escrevi na minha crónica do site Mais Opinião que a China teria, forçosamente, uma grande crise nos próximos anos, algo que faria as economias ocidentais crescer de novo. Alguns dias depois, soaram os alarmes em Pequim devido a essa possibilidade, agora reforçada pelas palavras de um importante especialista chinês.

Esta semana, Li Zoujun, um economista do Centro de Investigação do Desenvolvimento ligado ao Conselho de Estado chinês (o conselho de ministros), e do Partido Comunista Chinês (PCC), afirmou, num relatório por si redigido que, a China poderá sofrer uma crise económica já em 2013. Segundo Li Zoujun, o rebentamento da bolha imobiliária, criará uma crise de dívida dos governos regionais das províncias chinesas, que despoletarão uma tremenda fuga de capitais. o site financeiro Also Sprach Analyst, de Hong Kong, publicou no site 21cbh.com esse relatório que confirma o que muitos especialistas da alta finança chinesa e internacional vêm dizendo de algum tempo para cá: a China terá, inevitavelmente, uma crise financeira.

A política de estímulos massivos à economia, que consistiu em que o governo de Hu Jintao aplicasse injeccções gigantescas de capital na economia monetária chinesa (que impediu a subida em flecha do Yuan e consequente inflação dos preços), impediu o estoirar da “bolha” chinesa, e acelerou o agudizar da crise do Euro. Mas, agora que a crise do euro está já estabilizada, e o Mecanismo de estabilidade europeu está prestes a entrar em acção (aguardemos pela decisão do Tribunal Constitucional alemão a 12 de Setembro), a China entrará numa fase de mudanças e decisões.

Há um outro aspecto muito importante ainda a considerar: em Outubro decorrerá o 18º congresso nacional do PCC. Este evento terá lugar em Pequim e contará com a presença de 2270 delegados, eleitos dentre 80 milhões de militantes comunistas chineses. Saliento apenas mais uma curiosidade, a de apenas 114 desses delegados terem menos de 35 anos.

Nesse congresso, que contará com a natural presença de elementos do PCP, vai ser decidido o nome do novo presidente da República Popular da China. E o nome mais falado para a sucessão de Hu Jintao é Xi Jinping, licenciado em engenharia química pela Universidade de Tsinghua. Actual vice-presidente da China e 1º secretário do PCC, este homem de 59 anos, um liberal também conhecido pela sua postura contra a corrupção e personalidade carismática, Xi Jinping é já tido pela maior parte dos analistas políticos internacionais como futuro líder chinês.

Como qualquer mudança, a nomeação de um novo presidente para a China trará nervosismo e impaciência, mas também tentações de desvios daquelas que serão as políticas a implementar já estudadas pelo “politburo” chinês, isto para o país mais populoso do mundo e com o 2º maior PIB mundial, cuja taxa de crescimento ronda os 10% há mais de 20 anos consecutivos.

O estudo só aponta um cenário, mas é esse mesmo o cenário mais temido na China; na Europa e EUA “esfregam-se as mãos de contentes” perante a possível crise financeira e económica na China, sobretudo porque a China é o maior credor internacional de europeus e americanos, por deterem biliões de euros em títulos de dívida pública emitidos pelos tesouros europeus e americanos.


Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana