Grécia: e agora, Tsypras?

A vitória do Syriza de Alexis Tsypras, eleito novo primeiro-ministro grego, nas eleições parlamentares do passado Domingo, na Grécia, foi uma autêntica pedrada às janelas da ditadura da austeridade, reinante na UE. O poder do voto transmutou o desespero e ansiedade do povo grego num sacudir da pressão da austeridade; os gregos foram os heróis da noite eleitoral de 25 de Janeiro, mesmo ameaçados e chantageados pela chanceler alemã, Angela Merkel, e “sus muchachos”. Agora, a essa gloria deve corresponder um sentido de estado por parte da nova maioria vigente no parlamento helénico, pois há que recuperar um país falido a varios níveis, inclusivé animicamente.

A formação de um governo que rejeite a austeridade e renegoceie os termos do acordo da Grécia com os vários credores ultrapassou as diferenças ideológicas entre o Syriza e a formação política Gregos Independentes. Porém, aqui também começa a demonstração da “realpolitik” de Alexis Tsypras, ao formar governo com um partido pouco representativo, de cariz nacionalista, e assim formar uma coligação de baixo custo político imediato, no que diz respeito a cedências e atribuição de pastas ministeriais para com o partido mais pequeno.

Como já se viu, o Syriza tem um programa de crise para recuperar a Grècia, assente em três/quatro pontos-chave, sendo que a renegociação dos termos da dívida pública é o principal, tendo para esse efeito nomeado um ministro das finanças que leccionava essa cadeira numa universidade norte-americana. Para que essas negociações, que já decorriam antes das eleições, possam prosseguir com bom ritmo, e sem “ruídos” (interferências) por parte do seu parceiro de coligação, Tsypras “arrumou” a pasta da defesa para os Independentes Gregos, mas garantiu a tutela de 9 megaministérios, incluindo uma pasta dedicada à gestão da crise acerca da Macedónia, região grega fronteiriça com o país homónimo e mais um centro de instabilidade regional para os gregos.

Acerca de um novo acordo financeiro com a UE, a base parte desse mesmo princípio: é um novo acordo, com novas regras, em que evidentemente todas as partes terão de ficar a ganhar. O problema é que a relação UE-Grécia é profundamente desigual, pois a Grécia é que está devedora. O trunfo grego pode assentar na possibilidade de a longo prazo a UE vir a receber a totalidade da devolução dos resgates mas de forma mais faseada. No fundo, quase (quase) todos os 28 estados-membros da UE, e os 19 integrantes da zona euro não desejam políticamente a saída grega do Euro (o “Grexit”; e ainda mais importante, nenhum país discordará que é melhor que a Grécia pague tarde do que nunca…