Grécia fora do Euro? – Nuno Araújo

A semana que passou colocou uma questão crucial aos líderes europeus: será que a Grécia vai deixar a Zona Euro?

        Grécia fora do Euro?

O Contexto

As eleições gregas não correram de feição para os partidos pró-resgate, já que de mais de 70 por cento de votos que valiam antes da consulta popular, passaram depois a valer pouco mais de 30 por cento. Syriza, o Bloco de Esquerda grego, obteve o segundo lugar da votação, com mais de 20 % do votos, e ganhou espaço eleitoral e de opinião pública na Grécia, com a recusa das condições ditadas pela Troika de austeridade e mais austeridade, para além da intenção de cobrar mais impostos aos mais ricos.

Perante a impossibilidade de se formar governo com apoio parlamentar (tanto à esquerda, como à direita), o presidente grego, Karolos Papoulias, convocou novas eleições e deu posse a um novo executivo de gestão até à formação de novo governo. Perante isto, e com sondagens que apontavam para a vitória do Syriza nessas eleições, o ministro das finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, afirmou que a Zona Euro conseguia lidar bem com a saída da Grécia da moeda única, algo que soa a reaccionário (o termo “reaccionário” não tem sempre a ver com o “léxico da esquerda”). Tsipras, líder do Syriza, desafiou também essas declarações, contrapondo que “se avançarem (os parceiros europeus) com ações unilaterais pelo lado deles, por outras palavras, cortarem o nosso financiamento, então seremos forçados a deixar de pagar aos nosso credores , a suspender os pagamentos aos nossos credores”, acrescentando ainda que “seja lá o que fizermos, as coisas serão sempre difíceis, mas também serão difíceis para toda a Europa, porque o euro entrará em colapso”.

  Quanto custa a saída da Grécia do Euro?

Os custos

Verdade ou mentira de que a Grécia irá sair da Zona Euro, o comissário Europeu do Comércio, Karel de Gucht, admite que os responsáveis europeus estão a analisar cenários de emergência para o caso da Grécia sair da Zona Euro, mas que “isso não significa o fim do Euro”.

Já o Centre for Economics and Business Research (CEBR), que publicou uma análise no Reino Unido, afirma no seu estudo que, se a Grécia sair da moeda única, “o fim do euro, na sua forma actual, é certo e será traumático”, e de os outros 16 países da zona euro perderão juntos de 300 mil milhões a um bilião de euros no PIB (5 a 6 % de contracção),e isto só no primeiro ano, em que Portugal pode perder chegar a uma recessão de 10 pontos percentuais.

Ulrich Kater, economista-chefe do DekaBank, afirmou que ” é mais provável que a Grécia fique na zona euro”, e que “o impacto na economia alemã, da saída da Grécia do euro, seria de 86 mil milhões de euros”, mas que “a perspectiva de que o euro não sobrevive à saída da Grécia é errada”.

Verdade ou não, os gregos levantaram, da caixas ATM na Grécia, mais de mil e duzentos milhões de euros, e mais de metade desse montante foi transferido para bancos da Suíça e do Reino Unido. Aliás David Cameron, primeiro-ministro do Reino Unido e opositor do Euro, já afirmou ter um plano de contingência para a saída da Grécia da zona euro, o que parece ter merecido a confiança dos depositantes helénicos.

Grécia fora da zona euro? Aceitam-se apostas.

A aposta

Não creio que a Alemanha e a Comissão Europeia deixem a Grécia sair do Euro, até porque Hollande é o novo presidente francês, e a Esquerda europeia parece estar a reorganizar-se em torno do crescimento, em detrimento da austeridade. Mais: os custos da saída da Grécia seriam sistémicos, e a zona euro tem muito mais a perder com o abandono grego do que a ganhar. Os países da moeda única ganhariam com a saída da Grécia, numa perspectiva de aumento da confiança transmitida aos mercados (sim, porque ganhariam, dado que a Grécia já não terá credibilidade para mostrar, ainda que cumpra planos atrás de planos, pois mentiu acerca dos seus défices nos orçamentos de estado, ano após ano); mas esses 16 países restantes perderiam também confiança, porque se inicialmente o processo de entrada no Euro era irreversível (ou seja, ninguém podia sair depois), agora então com a saída dos gregos, a zona Euro daria o dito pelo não dito (logo, não seria digna de confiança).

Apostar na saída da Grécia da zona Euro é, para mim, como que apostar no fim do Euro. Creio que o contágio dar-se-ia de forma tão rápida e tão implacável que a própria União Europeia corria perigo de se desmoronar, pelo menos, da forma como a conhecemos actualmente. A Alemanha, que cresce (e parece ser a única que cresce economicamente, de facto), deixaria de crescer, e aí todo o plano de Merkel de lançar austeridade em cima de austeridade para Grécia, Irlanda e Portugal “caíria por terra”, pois se a nossa moeda única acabasse, seria como que cada país estivesse “sozinho por si só”.

Que ninguém duvide: se a Alemanha parece perder dinheiro com as perdas relacionadas com a Grécia, então não nos esqueçamos que é à custa da pobreza dos vizinhos europeus que Merkel tem conseguido levar o seu país a números de crescimento ímpares dentro da zona euro. Austeridade na Grécia, Irlanda e Portugal gera lucro para Merkel (falo dos juros advindos dos empréstimos concedidos, em a Alemanha é um dos maiores doadores do FMI e do FEEF), e essa é a “galinha dos ovos de ouro” do governo alemão. Mas esse tempo, de uma maneira ou doutra, parece estar a chegar ao fim, e para isso é só uma questão de tempo.

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana