Grécia, ou a promessa perdida/Portugal e o Bloco Central

Grécia, uma vez mais. Na semana que passou, veio da Grécia um “míssil político”, um acto desesperado ministro das finanças da Grécia, Varoufakis, disse ao jornal italiano Il Corriere della Sera: “Como já tinha dito o primeiroministro
(grego, Alexis Tsipras), não estamos colados aos assentos. Podemos realizar de novo eleições. Podemos convocar um referendo”. Que referendo? Será verosímil conceber uma situação de referendo grego ao Euro? Creio bem que sim. A chantagem do Eurogrupo para com o governo de Tsipras e Varoufakis é notória ao insistir em que a Troika inspeccione as contas de Atenas; os gregos respondem com esse “míssil político”, por forma a obterem mais tempo e mais poder negocial.

Esta declaração de intenções grega acaba por ser uma arma de arremesso à UE. Ironicamente, trata-se de algo que poderia acabar por ser economicamente “o melhor dos mundos” para a zona euro, um referendo sobre o Euro na
Grécia, em que um Não à continuação no Euro podia lançar os gregos para um caminho desenhado por si mesmos,
enquanto que a zona euro poderia “respirar ar puro”.

Desde a entrada dos helénicos na zona euro que a corrupção vigente no estado grego foi sendo identificada, inclusivé o escândalo ocorrido com o governo grego da Nova Democracia, por alturas da viragem do milénio, em que com a ajuda do CitiBank, “maquilhou” o défice das contas públicas gregas aquando da criação da moeda única. Dado esse (grande) motivo, será possível conceber a saída da Grécia da zona euro como um “acordo de cavalheiros” tacitamente estabelecido com os restantes 18 países da zona euro, mas englobando a permanência grega na UE a 28? Esse cenário poderia constituir a tese da vingança da UE enquanto entidade supranacional de cariz conservador e liberal, contra a actual Grécia que está agora “virada” à esquerda, embora o cenário também pudesse agradar a Tspiras…

Serão muitas as possíveis questões a colocar perante o impasse que se verifica nas negociações gregas com a zona euro, mas a verdade é que os gregos “jogam uma cartada decisiva”. Estarão os gregos do Syriza dispostos a
arriscar tudo?

António Costa (PS). A entrevista concedida na passada Quarta-feira ao canal 1 da RTP pelo secretário-geral do Partido Socialista (PS) colocou mais um problema à vida política nacional. Costa não conseguiu esboçar uma única ideia, com devida precisão, acerca daquilo que pretende para o país. É certo que Costa não se pode “dar ao luxo” de “abrir o livro” e divulgar quais as suas ideias para Portugal voltar, como afirmou ele, “ao ponto onde o país estava antes da crise” pois ainda é muito cedo para o seu projecto ser escrutinado pelo PSD e CDS, por exemplo . A verdade é que o líder do maior partido da oposição terá de fazer bem mais do que apenas proferir frases fortes, razoáveis soundbites, para conquistar o eleitorado. A cerca de seis meses das eleições legislativas, só uma hecatombe política em Portugal (que não o episódio da pretensa “fuga” de Passos Coelho à Segurança Social) é que poderá levar o PS à tão ambicionada maioria absoluta. Pela forma como Costa, na entrevista, e pelas suas posições assumidas, se distanciou estrategicamente do Syriza, será cada vez mais real uma possível aliança entre PS e PSD no day-after das eleições de Setembro/Outubro, formando o Bloco Central. E este é um caminho que deverá vir a ser explorado pelos partidos mais pequenos…