Guia Musical Verão 2018 – As Canções e os Discos

Quem é que não tinha saudades do Verão? Agora que sabemos que a estação favorita de todos não foi cancelada, temos todas as condições reunidas para compilar, sob a forma de indispensável guia, as canções sensacionais e os discos catitas que nos acompanharão ao longo da temporada. Tudo para que tenham uma época estival feliz e relaxada.

Vamos primeiro às canções:

 

1) Calvin Harris & Dua Lipa- “One Kiss”- Já devíamos ter aprendido a não subestimar as capacidades de Calvin Harris. “One Kiss” não é de todo o banger mais incrível da forja de êxitos do DJ escocês, mas um bastante sólido e aditivo a que regressamos vezes sem conta com o êxtase da primeira vez. Junta-se-lhe uma Dua Lipa em estado de graça e temos um dinâmico pedaço de deep house que alimentará noites de Verão a fio.

2) Clean Bandit feat. Demi Lovato- “Solo”- Woop woop woop! Depois de “Symphony” e “I Miss You”, dois singles mais midtempo, o trio britânico precisava de voltar a aumentar o compasso. “Solo” chega então para devolver os Clean Bandit à pista de dança e para dar a Demi Lovato a melhor colaboração da sua vida. Misto de “Rockabye” (sem a brisa dancehall) e de “Anywhere” (a mesma cama de vocoders), a canção celebra a emancipação e independência pós-desolação amorosa. #hinaodaporra, pois claro.

3) Camila Cabello- “She Loves Control”- A maioria das fichas parecem ter sido apostadas em “Sangria Wine”, o promissor mas algo insuflado novo single estreado a meias com Pharrell Williams, mas ainda há esperança que Camilita ganhe bom senso e dê ao seu debute o terceiro single que verdadeiramente necessita. Cruzamento entre reggaeton e flamenco tecido por Frank Dukes e Skrillex, “She Loves Control” soa a um estrondoso êxito estival à espera de acontecer.

4) Jennifer Lopez feat. DJ Khaled & Cardi B- “Dinero”- Se em 2017 tivemos “Wild Thoughts”, este ano o equivalente surge na figura de “Dinero”, fogoso híbrido de trap latino com elementos de bachata, assistido pelo mestre de cerimónias DJ Khaled e pela sista do Bronx, Cardi B, a entregar collabs até dar o check in na maternidade. Tudo a postos para que se torne no maior êxito de J.Lo desde “Ain’t Your Mama”.

5) Ella Mai- “Boo’d Up”- Se no ano passado tivemos Khalid a revelar-se Príncipe de uma nova dinastia do R&B, em 2018 a equivalente feminina parece surgir na figura de Ella Mai, uma londrina de 23 anos que assina pela editora de DJ Mustard, o afamado produtor de hip hop norte-americano que tece também esta valente feel-good jam R&B noventista sobre a maravilhosa sensação de se ser um tonto apaixonado. Vejam-na só a tornar-se no hit inesperado da estação.

6) Liam Payne feat J Balvin- “Familiar”- Quem diria que os hitmakers dos One Direction se resumiriam a Zayn e Liam Payne? Cruzando o seu balanço R&B com as sensibilidades latinas que tomaram de assalto a pop desde o Verão passado, Liam entrega-nos um sedutor affair latino ao melhor nível de “Señorita” de Justin Timberlake, sobre intimidades e cortejos na pista de dança. J Balvin valida e potencia o efeito irresistível da canção.

7) Kelly Clarkson- “Heat”- Em termos de cotação pública, Kelly Clarkson está na sua melhor forma desde os tempos áureos de Breakaway, mas essa popularidade, infelizmente, ainda não se traduziu para o plano musical. Meaning of Life, todo uma prova de vida em campos de soul, pop e R&B, é o seu melhor álbum em anos e “Heat”, esfuziante súplica por um suplemento romântico por parte da cara-metade, ansia e vibra pela libertação. So come on love!

8) Ne-Yo feat. Bebe Rexha & Stefflon Don- “Push Back”- Só por via de um sopro milagroso é que “Push Back” ainda pode encontrar a aclamação comercial merecida, mas no que toca a hits certificados para a época estival poucos merecem mais o diploma do que ela. Ne-Yo regressa assim pela mão dos Stargate com um muito apetitoso híbrido pop/dancehall condimentado a gosto pelas certeiras participações de Miss Rexha e Stefflon Don.

9) Cardi B feat. Bad Bunny & J Balvin- “I Like It”- Agora que Cardi B já provou que é mais do que “Bodak Yellow” dava a entender, é tempo de Invasion of Privacy mostrar os seus trunfos. Certificado e apto para o Verão surge “I Like It”, infeccioso pedaço de salsa/trap latino eficientemente assistido por Bad Bunny e J Balvin que, à semelhança de “La Modelo”, volta a absorver as heranças latinas da sua intérprete. Muita fé em que se torne o campeão deste Verão.

10) Justin Timberlake- “Wave”- Man of the Woods é um dos álbuns mais mal-amados do ano (quanto mais da carreira de JT), mas isso não impede que não transporte o seu quinhão de potenciais êxitos. Em “Waves” Justin Timberlake sai da floresta e procura uma escapadela romântica num qualquer panorama insular, assistido pela inventiva produção dos The Neptunes. Para ouvir entre um mergulho no mar e um refresco de piña colada.

11) Tove Lo feat. Charli XCX, Icona Pop, Elliphant & Alma- “Bitches”- Lembram-se daquele Verão em que Tove Lo recrutou o seu próprio grupo feminino multicultural e deu às massas o bop lésbico da temporada que Rita Ora tentou fazer com “Girls” e falhou redondamente? Pedaço de electropop intoxicante com o diabo no corpo, era o trunfo de Blue Lips que aguardava pela libertação. Vai ser tão bom, não foi?

12) George Ezra- “Shotgun”- Para alguém que construiu o seu álbum de estreia baseado numa viagem de comboio pela Europa, a tentação de canalizar a mesma inspiração ambulante em temas futuros é grande. É isso mesmo que Georgie faz no mais recente single do seu último disco, folk pop leve e luminosa sobre embarcar no desconhecido e encontrar razões para permanecer. Hino balnear, de estrada, festival, e tudo o mais que rime com sol, aventura e boa disposição.

13) Ariana Grande- “No Tears Left to Cry”- Vai ser um Verão de cura e apaziguamento emocional para Ariana Grande, ainda a recuperar do abalo sofrido com os atentados de Manchester em Maio do ano passado. A regeneração faz-se na pista de dança ao som de “No Tears Left to Cry”, compelativo objecto dance pop pós-traumático diluído na cadência emocional de “One Last Time” e na brisa EDM fortalecedora de “Break Free” – tudo com a suavidade de uma folha ao vento. Juntos, reconstruímos.

14) Khalid feat Ty Dolla $ign & 6LACK- “OTW”- Depois de um excelente “Love Lies”,  Khalid entrega-nos um não menos sublime “OTW”, melódico e sedutor pedaço de trap R&B de influências 90s com produção de Nineteen85 (“Hold On, We’re Going Home”, “Too Good”) que versa sobre estar lá para o #crush, aprimorando assim a sonoridade praticada na estreia de 2017. Ideal para aquelas deambulações nocturnas solitárias.

15) Louis the Child feat. Wafia- “Better Not”- Não é por acaso que as propostas electrónicas têm outro encanto na estação mais quente do ano – à medida que as temperaturas subirem, este pode muito bem ser o bop que nos fará companhia. Louis the Child, dupla norte-americana que se move nas águas contemporâneas de Flume ou Odesza, procura aqui o seu primeiro hit no mainstream: um irrecusável pedaço de future bass celestial sobre não desperdiçar o amor quando este bate à porta.

16) Troye Sivan- “Bloom”- Parece que este ano a Primavera nos vai acompanhar um pouco mais do que o esperado, pelo que é recomendável que este Verão levemos também “Bloom” na algibeira. Tremenda canção pop sobre desejo queer e indutora de borboletas no estômago, segue no encalço do soberbo “My My My!” e atesta a vitalidade de Troye Sivan enquanto autor das melhores canções pop no masculino em 2018.

17) Friendly Fires- “Love Like Waves”- Passaram sete anos desde a edição de Pala, mas o trio britânico não se esqueceu de como fazer grandes canções. “Love Like Waves” soa à continuação natural do indie-funk tropical explorado nesse disco, feito à base de steel drums, uma linha de sintetizador inebriante e uma secção rítmica altamente dançável. Dificilmente encontrarão algo mais estival que isto.

18) Post Malone- “Better Now”- Post Malone está tão em alta que nem tem que se dar ao trabalho de escolher os singles de Beerbongs & Bentleys – estes escolhem-se sozinhos. A montanha de streamings de “Better Now” – híbrido pop-rap emocionalmente turbulento que Drake ou a Taylor Swift de Reputation não descartariam – assim o ditou e, como tal, preparem-se para ouvir isto um pouco por todo o lado ao longo deste Verão.

19) Luis Fonsi & Stefflon Don- “Calypso”- Báilalo, báilalo. A última coisa que precisamos é de voltar a ter um Verão dominado pelo autor de “Despacito”, mas quando a investida de 2018 é tão divertida e irrecusável quanto “Calypso”, reggaeton perfumado de essências caribenhas com um vídeo paradisíaco a condizer, não há muito a fazer. Maldito Fonsi.

20) Years & Years- “If You’re Over Me”- Porque é que será que as melhores canções dos Years & Years resultam todas de amor turbulento e arruinado? Segundo avanço de Palo Santo, “If You’re Over Me” é a proposta mais poppy quiçá de sempre do trio britânico, ainda que verse sobre aqueles sentimentos conflituantes para com uma antiga paixão não resolvida. Porque o Verão também não é alheio a segundas ou terceiras oportunidades.

 

E porque a música ainda passa essencialmente por bons discos, olhamos agora para algumas das propostas que irão marcar a estação mais quente do ano:

 

Ben Howard- Noonday Dream

Quatro anos após o último I Forget Where We Were, o cantautor inglês retorna com o seu terceiro disco de estúdio, já longe da folk soalheira e hínica da estreia de 2011, prosseguindo na rota sinuosa, introspectiva e experimental iniciada no álbum de 2014. As canções de Noonday Dream foram compostas e produzidas pelo próprio intérprete quase em regime de reclusão à boa moda de Bon Iver, e estreadas ao vivo entre nós no concerto do passado dia 27 de Maio no Coliseu de Lisboa.

 

Jorja Smith- Lost & Found

Muita esperança depositada nesta jovem de apenas 21 anos que é tida como uma das revelações de 2018. Herdeira dos ensinamentos soul de Amy Winehouse, da cartilha jazz de Billie Holiday e da escola R&B de Lauryn Hill, Jorja Smith apresenta em Lost & Found sérios argumentos para uma carreira tão notável quanto as figuras de que recolhe inspiração. Escute-se “Blue Lights”, “Teenage Fantasy” ou “Don’t Watch Me Cry” para compreender as loas que lhe são tecidas.

 

Lily Allen- No Shame

Depois do mais desinspirado Sheezus (2014), Lily Allen está de volta – e desta vez é a valer. Sem freios ou inibições, No Shame detalha a crise de identidade em que mergulhou após o lançamento do terceiro álbum, as razões que contribuíram para o fim do seu casamento, dilemas maternais e ecos do seu passado turbulento. O processo catártico e confessional resulta no seu melhor álbum em anos: “Trigger Bang”, “Three” ou “Come on Then” são pontos altos.

 

Lykke Li- So Sad So Sexy

So Sad So Sexy marca o regresso de Lykke Li à música após ter sido mãe e de ter perdido a sua progenitora. À semelhança do anterior I Never Learn (2018), ainda é a tristeza que mais permeia o seu trabalho, mas desta vez a sueca traz novas influências para cima da mesa, derivativas do universo do hip hop e R&B, que fazem com que este seja o título mais comercial e acessível do seu percurso. Malay, Jeff Bhasker, Ali Payami, Kid Harpoon ou Emile Haynie emprestam a sua visão ao álbum.

 

Christina Aguilera- Liberation

Esperámos seis longos anos pelo sucessor de Lotus, mas ele aí está. O oitavo álbum de estúdio de Legendtina chega com o cunho criativo de ilustres como Anderson Paak, Kanye West, MNEK ou Ricky Reed e de colaboradores menos mediáticos como Charlie Heat, Dumbfoundead ou Jon Bellion, que conferem a Liberation uma identidade hip hop e R&B expressa em temas como “Accelerate”, “Like I Do” ou “Deserve”. A mensagem, essa, é de liberdade e empoderamento.

 

Panic! at the Disco- Pray for the Wicked

É já com a estação estival a decorrer que chega o sexto disco dos Panic! at the Disco – um dos activos mais acarinhados da Fueled By Ramen – agora um projecto a solo da mente de Brendon Urie, ainda que em palco albergue outros tantos músicos. À semelhança do álbum anterior, Pray for the Wicked conta com produção de Jake Sinclair e parece seguir a toada power pop/rock deste. “Say Amen (Saturday Night)”, “High Hopes” e “(Fuck A) Silver Lining” são os cartões de visita.

 

Florence and the Machine- High as Hope

(29 de Junho)

Desde Abril que Flo e a sua máquina têm vindo a preparar o regresso às edições discográficas. High as Hope, o quarto de originais para o grupo britânico, sucede ao aclamado How Big, How Blue, How Beautiful (2015) e é o primeiro da banda a não contar com produção de Paul Epworth, substituído no comando pelo norte-americano Emile Haynie. O registo é antecedido por “Sky Full of Song”, “Hunger” e “Big God”.

 

Drake- Scorpion

(29 de Junho)

Drake comandou o primeiro semestre de 2018 à custa de “God’s Plan” e “Nice for What”, e prepara-se para prolongar o reinado à medida que entramos no segundo, agora com a edição de Scorpion, o  seu quinto álbum de estúdio que sucede à playlist More Life (2017) e a Views (2016). O rei do streaming mantém perto os habituais colaboradores (Noah “40” Shebib, Boi-1da, Murda Beatz ou Lil Wayne) e mantém o segredo do alinhamento até ao derradeiro momento. Recordes serão esmagados.

 

Gorillaz- The Now Now

(29 de Junho)

Não há fome que não dê em fartura: a banda virtual mais cool do planeta entrega-nos o seu sexto álbum de estúdio pouco mais de um ano decorrido da edição de Humanz. Gravado num período recorde em Fevereiro último, The Now Now nasceu com a intenção de que a banda de Damon Albarn tivesse novas canções para tocar na estrada. Em oposição ao disco anterior, os temas deste álbum foram alinhavados por James Ford e contam com um número de colaborações mais reduzido.

 

Years & Years- Palo Santo

 (6 de Julho)

Escrito e gravado nos 18 meses que se seguiram ao término da digressão mundial de Communion, o segundo disco dos Years & Years segue a história de uma sociedade distópica e sem género povoada por andróides, designada Palo Santo. O conceito tem sido explorado nos vídeos de “Sanctify” e “If You’re Over Me”, os primeiros avanços do registo que conta com contribuições de Greg Kurstin, Mark Ralph, Kid Harpoon, Two Inch Punch ou Steve Mac na produção.

 

Nicki Minaj- Queen

 (10 de Agosto)

Nome pomposo? Check. Capa estrondosa? Confere. Conteúdo sumarento? Veremos. É o regresso de Nicki Minaj quatro anos após The Pinkprint, numa altura em que o seu trono é ameaçado (usurpado?) por essa potência intitulada Cardi B. “Chun-Li”, “Rich Sex” e “Bed” em parceria com Ariana Grande são para já os cartões-de-visita revelados deste quarto álbum da norte-americana que será pretexto para uma digressão internacional conjunta com Future a começar em Setembro próximo.

 

Ariana Grande- Sweetener

(17 de Agosto)

Miss Grande vem a trabalhar no sucessor de Dangerous Woman desde Julho de 2016, quando se encontrava ainda a promover o disco de “Side to Side”. Claramente afectado pelo atentado de Manchester, Sweetener pretende ser um disco de convalescença e regeneração, como “No Tears Left to Cry” e “The Light Is Coming” – as primeiras amostras reveladas – sugerem. Max Martin, Pharrell Williams, Tommy Brown, Ilya e Savan Kotecha são alguns dos nomes associados ao projecto. Do alinhamento constam 15 temas e três colaborações, entre elas com Nicki Minaj e Missy Elliott.

 

Troye Sivan- Bloom

(31 de Agosto)

Poucos têm tido uma maturação tão estupenda em 2018 como Troye Sivan. Descrito como um álbum de “expressão gay desafiadora”, Bloom começou por nos ser apresentado em Janeiro com o libertador “My My My! e o confessional “The Good Side”. O tema-título chegaria com a Primavera avançada no calendário, seguido do mais recente “Dance to This”, em dueto com Ariana Grande. A produção deste segundo disco do australiano está assegurada por estetas como Bram Inscore, Oscar Görres, Oscar Holter, Jam City ou Ariel Rechtshaid – oxalá que seja tão incrível quanto indica que será.

 

Que este maravilhoso guia vos possa acompanhar ao longo dos próximos meses: um Verão feliz e regenerador para todos!