Há quem faça birra por não gostar de ervilhas, Bruno corta relações.

Cortadas. Foi assim que ficaram as relações entre Sporting e Benfica após o dérbi da passada semana. Depois de ter sofrido o empate no último segundo – algo que viria a dar a provar este sábado , o Presidente do Sporting, amuou. Ou como quem diz, arranjou motivos para ser falado, alcançar o fanatismo e passar a ser odiado por mais umas quantas pessoas. Além de adorado por todos aqueles que não pensam por si próprios e deixam o ódio sobrepor-se à magia do jogo. Nada de anormal, ou como diz Bruno de Carvalho; “foi só mais uma semana”.

Bruno de Carvalho decidiu, por sua livre e espontânea vontade, cortar relações com o Benfica. Pelo meio saiu mais um comunicado e um vasto lavar de roupa suja, como é seu apanágio. As razões que evoca, prendem-se com o comportamento dos adeptos do clube encarnado durante o dérbi, com o facto de não ir com a cara de Luís Filipe Vieira e por querer mostrar-se mais papista que o Papa, demostrando – segundo a sua perspectiva , uma clara postura vincada contra toda e qualquer pessoa, entidade ou objecto, como foi o caso da lã em Alvalade, que se oponha ou faça mal ao Sporting Clube de Portugal. Ou como se costuma dizer na “gíria”, um fanático extremo com um fato e uma gravata verde. O certo é que nada disto faz sentido.

Se por um lado as atitudes de ambas as claques são condenáveis e devem ser punidas, tanto por lei como pelo próprio clube, o certo é que energúmenos há em todo o lado. Assim como vítimas. O que Bruno de Carvalho tentou fazer, a todo o custo, foi “resgatar” o apoio que tinha perdido com as confusões passadas. Tanto com a polémica com Marco Silva, como com a condenação dos adeptos por comentários no Facebook. A missão foi bem sucedida em parte. Se por um lado os adeptos mais cegos e facciosos, se unirão ao presidente, os restantes, que terão alguma consciência e discernimento, verão que foi uma atitude infantil, irreflectida e com o intuito de única e exclusivamente gerar mau-estar no futebol português. Portanto, teremos duas facções. Não se pode afirmar que tenha dividido o Sporting, o que se pode dizer é que ganhou mais adeptos. Ou mais aficcionados, se preferirem. Terá agora muitos daqueles que o criticavam a baterem-lhe nas costas enquanto dizem; “fez muito bem em cortar relações com esses lampiões, shôr presidente. Deviam era arder todos!!”. Assim, com classe, vai dando brilho ao ego. Continuando também, com a sua postura autoritária, quase ditadora, de que quem não pensa da mesma forma que o próprio, ou tem problemas, ou é “persona non grata” pelos lados de Alvalade.

Tudo isto, aliado a um incendiar de ânimos – não tão literal como em 2011, a provocações cada vez mais gravosas de parte a parte e a dois presidentes que não são, nem nunca foram, queridos do grande público, tem tudo para gerar uma guerra extremamente danosa e, quiçá, irreversível. O ambiente que se vive é mau, o “timing” de Bruno de Carvalho foi ainda pior. O gestor de 41, dedicou a semana a um “bate-boca” nada propício a figuras chave de clubes da dimensão, quer do Sporting, quer do Benfica. Nessa troca de palavras houve de tudo, acusações de se aliarem para só ambos ganharem a Liga, lembranças de todas as provocações, ataques e tarjas existentes nestes mais de 100 anos, até deu tempo para o homem forte de Alvalade mostrar a todas as pessoas que tivessem interesse em ler uma das suas 3000 publicações nas redes sociais, ou um dos seus 678432 comunicados, que tem um léxico muito vasto e diversificado. Mitómano, foi a palavra escolhida para insultar o, outrora comparsa, colega da 2ª circular. Tudo isto enquanto do outro lado, Luís Filipe Vieira, com um discurso preparado por Rui Gomes da Silva, sem teleponto mas com uma dicção de fazer inveja a um aluno do 4º ano, se limitou a fazer o papel de despercebido, vítima e bom cidadão. No meio de tudo isto, temos os adeptos cada vez mais violentos e com uma vontade de vingança aguçada, propiciada pelos seus máximos representantes, que só levará a que a bola de neve não pare enquanto não houver a avalanche final. Nessa altura, Bruno de Carvalho já não quererá tanta atenção e talvez se lamente de, no meio de uma birra, ter cortado relações e aumentado o caos vigente. O culpado tanto é o que faz, como o que incita a fazer. Como tal, na hora do juízo final, que divida as culpas com quem de direito.

Assim foi mais uma semana no futebol português. Um presidente sem estofo para aguentar um empate tardio e que resolve cortar relações assim como quem come um pires de tremoços, outro que, não tendo o dom da oratória, lê discursos preparados enquanto se faz passar por santinho e bom rapaz, tudo aquilo que não é. Pelo meio, temos um dos ambientes mais tensos já vividos no nosso futebol, com os adeptos a relembrarem acidentes e incidentes antigos como forma de provocação, enquanto atiram tochas e very-lights de um lado para o outro. Literalmente. Por fim, da parte de fora, temos os sensatos, que são todos aqueles que percebem que este corte de relações só trará danos irreparáveis ao nosso campeonato e ao ambiente vivido fora dele e que dessa forma, temem o pior. Que se continue a aplaudir quem não pensa, compra guerras e joga sujo. Que se vibre com coitadinhos e vítimas da fome. Que se rejubile com ofensas e violência. Que se desvirtue a beleza do jogo. Que se goste de tudo, menos do desporto rei. Como disse uma vez José Régio no seu poema, o “Canto Negro”:

“Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
– Sei que não vou por aí! “