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“Amanhã há greve do Metro, pessoal!”

O meu estimado chefe terminou assim, no dia 16 de dezembro, um e-mail enviado para todos nós… foram rogadas pragas e todo um drama foi instalado na loja! O meu pensamento foi muito ingénuo e inocente – menos horas a dormir para poder esperar incomensuráveis minutos pelos serviços mínimos do metropolitano ou, em caso mais crítico, pelos autocarros da carris cujo fuso horário não me parece que seja o mesmo que rege o mundo dos lisboetas!

E assim foi. Acho que ainda a lua brilhava lá no alto e já eu estava acordada a ir para Lisboa! Qual não é o meu espanto quando me deparo com grades a separarem-me dos serviços mínimos que, eventualmente, eu achava que eram obrigatórios de existir e foi desta forma que descobri a verdade nua e crua – o Metro pode efetivamente encerrar sem quaisquer carruagens a circular e provocar o caos e o pânico no planeta terra!

“Olhe desculpe … qual é o autocarro que eu apanho para o Marquês?” (olhei para o relógio e fiquei tranquila, o Campo Grande não é muito longe e faltavam 45minutos para a minha hora de entrada no trabalho!)

Pessoas, pessoas, mais pessoas com pessoas, a gritarem com mais pessoas ainda, tudo isto no meio de pessoas – a minha conclusão foi que estavam a dar rebuçados! Ou então era só a fila de passageiros do metropolitano que havia também levado um valente pontapé no traseiro e emergido das profundezas das linhas subterrâneas para as apitadelas, semáforos e trânsito terráqueos! Tinham todos decidido ir para o Marquês!

“Fantástico … nem às 9’30h da noite chego lá!” – Tinha seguramente 150 pessoas à frente mais aqueles que são sempre mais espertos que os restantes, ao julgar que vestiram o manto do Harry Potter da invisibilidade e  ignoram onde a fila começa, optando por um qualquer milímetro de oxigénio desocupado.

Após ver uns 10 autocarros, a transbordar, passarem-me à frente do nariz, sem espaço para uma pulga, lá consegui entrar num! E começou a festa do calor humano, a dança do aperta-encaixa! E demorei uma hora e meia a chegar… mas isso não foi o pior! Pior que ter chegado imensamente atrasada ao meu emprego, foi a viagem que mais temi na vida. Ainda hoje, duas semanas depois, me questiono porque é que o senhor que ia colado a mim, cara a cara comigo, fez aquela viagem cheia de solavancos com um palito na boca?! Bolas, quando aquele transportezinho público fazia uma travagem, uma curva ou qualquer movimento que não fosse o de estar parado, eu achava que aquele maldito pauzinho de madeira me ia fazer um piercing algures na face!

“Na segunda-feira há outra greve!” Era este burburinho que se ouvia nas ruas e eu ria-me e pensava que o povo português não estava totalmente perdido, ainda conseguiam fazer piadas sobre estas desgraças sociais, brincalhões eles!

Exato, houve mesmo outra greve quatro dias depois! A sério? Mas agora é todo o santo dia? Manifestem-se à vontade mas primeiro podem só levar-me ao meu local de trabalho para que o consiga manter ?! Por favor? Não aconteceu.

“Vou de táxi!” E dia 22, tremendamente traumatizada com palitos, decidi ir de táxi. Não foi muito melhor, esqueci-me que eles não voam e que teria o inferno de trânsito à minha espera. Mas obrigada senhor taxista, eu sei que tentou… eventualmente aquelas gincanas que fizemos com outros carros é prova disso! Acho que na próxima greve vou a pé!

Há uns dias atrás parabenizaram-me mas só faço anos em maio! As tabuletas do metropolitano exibiam gentilmente a frase “Parabéns a si que é nosso cliente!”. Realmente … mereço mesmo os parabéns por me manter cliente mas dispensava a ironia senhor que coloca as frases cor-de-laranja cintilantes! Aos 55 anos e ainda consegue ser irónico e sarcástico, boa Metro … boa.

PS- O título deste desabafo é um site que todos os dias tem as greves que há no país! Abençoados