Helen Keller (1880-1968) – Sufragista, Política, Activista, Surdocega

Na sociedade existem pessoas com diferenças.  As diferenças não funcionam como obstáculo, simplesmente determinam a necessidade de caminhos diferentes para chegar a uma determinada etapa. De etapas refiro particularmente ao foro académico e profissional. Deste âmbito temos o exemplo claro de “Anos de Superação: Viver com Hemiparesia Direita” de Nádia Guerreiro e  “Ser deficiente é ser eficiente” de Nuno Vicente. No que respeita à situação de surdez, apresentei a minha história:  Por falar noutra coisa..Surdez!

De seguida, vou apresentar Helen Keller,  a nível político era uma oradora e autora de defesa dos direitos dos deficientes. Com o preceito de ajudar as pessoas e ressaltar a importância do planeamento familiar, fundou uma organização sem fins lucrativos para  a prevenção da cegueira: “Helen Keller Internacional” em 1915. Foi galardoada com a medalha presidencial da liberdade em 1964, sendo a maior condecoração civil nos Estados Unidos. No que toca à política e ativismo foi a única mulher, até à data, a receber este estimado prémio de louvor.

“A sua visão política passava por visitar os trabalhadores nos seus locais de trabalho. (Carvalho, 2007:61)”

Numa época em que a deficiência é ainda vista como um tabu, Helen Keller revirou a sociedade com a sua capacidade de escrita como política e como escritora. Aos “olhos” da sociedade, aparentemente era uma mulher igual às outras. No entanto, Helen Keller era surdocega. A perda da capacidade de visão e audição foi consequência de uma congestão do estômago e do cérebro aos 19 meses, provavelmente de escarlatina ou meningite.

Nasceu em Ivy Green, Tucumbia, Alabama, EUA a 27 de Junho de 1880 e faleceu em 1 de Junho de 1968. A infância e a adolescência não foi facilitada com a inexistência de comunicação e com o excesso de zelo por parte da família. No entanto, aos 7 anos de idade já tinha criado 60 sinais para comunicar com a família. Mais tarde, por iniciativa da sua mãe, em 1886 através do contacto de Dr. Charles Dickens e com o Instituto Perkins, Massachussets, Helen Keller conheceu a Professora Anne Sullivan. Deste contacto resultou numa relação de amizade e respeito que durou 49 anos.

Para a Professora Anne Sullivan, o primeiro passo decisivo na comunicação seria incutir regras e educação. Deste modo durante as peripécias agoiradas de educação, apercebeu-se que Helen Keller conseguia executar movimentos na palma da sua mão, enquanto fazia correr água.

Assim, antes de executar movimentos novos, questionou-se de todos os objectos que conseguia interpretar. Para perceber melhor esta descoberta, visualizem o excerto do filme “O Milagre de Anne Sullivan” de 2000.  (ver aqui)

Como referi há pouco, qualquer deficiência determina a necessidade de caminhos diferentes do que é normalizado, o que também permite perceber a importância de incutir a adaptação dos professores à necessidade e diferença dos alunos. Há mais de 50 anos, foi necessário uma mudança de estrutura de educação por parte da Professora Anne Sullivan na aprendizagem de Helen Keller. O que é que resultou nessa diferença? Uma criança que cresceu e que mais tarde se tornou activista e política dos Direitos Humanos.

Em 1890, Helen Keller conheceu outra rapariga com a mesma deficiência mas que tinha aprendido a falar através do método Tadona (tocar os lábios e garganta de quem está a falar). Com esta nova forma de comunicação, coordenava  com o uso da dactilografia da palma da mão. De seguida, aprendeu também a ler inglês, francês, alemão, grego e latim através do Braille. Entrou na Escola Perkins para Cegos, na Escola Wright-Humason para Surdos e Cegos, e também na Escola Horace para Surdos! Mais tarde frequentou a Escola de Cambridge para Jovens Mulheres e na Radcliffe Colege.  Em 1904, com 24 anos formou-se  neste colégio, sendo a primeira surdocega a completar um bacharelato.

“The most important day I remember in all my life is the one on which my teacher, Anne Mansfield Sullivan, came to me. I am filled with wonder when I consider the immeasurable contrasts between the two lives which it connects.

“O dia mais importante de que me lembro em toda a minha vida é aquele em que minha professora, Anne Mansfield Sullivan, veio até mim. Estou cheia de admiração quando considero os incomensuráveis contrastes entre as duas vidas que se conectam”. (Keller, 2002: 19)

Escreveu vários artigos e 12 livros. Das obras mais importantes são Light in My Darkness (1960) e The Story of my Life (1903). Esta obra foi a base para o filme “O Milagre de Anne Sullivan” em 1962, readaptado em 2000.

Este excerto da autoria de Helen Keller, da obra “The Story of my Life” demonstra a sua perspectiva face às suas diferenças no que respeita à sua educação.

 I was like that ship before my education began, only I was without compass or sounding-line, and had no way of knowing how near the harbour was. “Light! give me light!” was the wordless cry of my soul, and the light of love shone on me in that very hour.” 

Eu era como aquele navio antes da minha educação começar, só que eu estava sem bússola ou linha de som, e não tinha como saber o quão perto do porto estava. “Luz! “Dá-me luz!” foi o grito sem palavras da minha alma, e a luz do amor brilhou em mim mesmo naquela hora” (Keller, 2002: 22).

Por fim, actualmente existe uma maior necessidade dos Professores de adaptar às necessidades dos alunos, a grande maioria dos tipos de deficiência já não são estereotipadas como “tabu”. No entanto, ainda predomina uma falta de interesse por parte de alguns docentes, sobretudo do ensino secundário, fragilizados pelo parco salário e congelamento de carreiras do Ministério da Educação. Atenção! Reafirmo que existe falta de interesse de “alguns”, não estou a cometer “generalização”. Existem Professores com “amor à camisola” e que se adaptam às necessidades e evolução das mentalidades e tentam transmitir o conhecimento de forma criativa.  Precisa-se urgentemente valorização e adaptação.