História da breve passagem de Mozart por Grijó

Pela voz dos elementos do coro do Mosteiro de Grijó, no passado dia 14 de Junho, aquando da apresentação da missa catalogada como K167 em honra da Santíssima Trindade, tivemos a oportunidade de ouvir Mozart ainda mais fiel a si próprio do que no tempo em que se celebrizou como compositor e intérprete na Corte do Arcebispo de Salzburgo, na segunda metade do Século XVIII.

Ao som da orquestra da escola de música do Perosinho, o ponto alto da comemoração dos 25 anos de existência deste magnífico coro, que se tem dedicado à divulgação musical das obras de inspiração sacra dos maiores compositores da história dentro do género, como Palestrina ou Mozart entre tantos outros, aconteceu no interior do Mosteiro do Salvador de Grijó que ficará conhecido como o de boa-memória para todos aqueles que ali têm assistido a concertos de elevada qualidade.

Ao som dos acordes iniciais do 1º andamento, o Kyrie, de olhos fechados temos a sensação de tomar parte de um desfile de figuras graciosas como num baile de debutantes e desfazem-se as dúvidas acerca do final da Peça que será grandioso.

Já no segundo, o Gloria, as descidas de tom fazem-se com a preciosa ajuda do maestro, dada tanto a tenores como a contraltos que, com a mesma facilidade com que chegam às notas altas, dão à Peça uma solenidade de que ela já não precisava por se tratar de uma missa.

De olhos postos na abóbada decorada por motivos geométricos que cobre a capela-mor ou no painel pintado que representa a transfiguração de Cristo, de tal modo estamos arrebatados à passagem do Credo que sentimo-nos mais próximos de Deus do que se estivéssemos no altar e no andamento seguinte, o Sanctus, sopranos e baixos juntam-se aos primeiros, com quem tão bem encarnam o espírito do compositor que quase nos fazem acreditar que ele ainda está vivo.

À medida que o tempo passava e se começava a perceber que a missa tinha um alcance para lá das paredes do mosteiro e que o efeito no público haveria de perdurar não se esgotando em apenas 6 andamentos, no decurso do 5º andamento, o Benedictus, cada nota arrancada da pauta ou cada sopro de um instrumentista como se fosse o último, facilmente convenceram todos os presentes de que faz tanto sentido hoje compor-se uma obra com estas características como fazia há mais de 200 anos.

Rendido ao encantamento do público que não se arriscava a desviar o olhar para não perder pitada do que ouvia, no final do Agnus Dei o coro terminou de atuar, e só quem não regressou a casa com a sensação de ter ouvido Mozart no seu esplendor pode achar que são exagerados os meus elogios.

A esses, em boa verdade digo que não precisam de voltar a Grijó para escutar Mozart. Podem fazê-lo assistindo à atuação de outro grupo coral, mas pela minha parte, sempre que o fiz nunca tanto como agora tive dificuldade em encontrar as palavras certas para no final dizer como me sentia.