A história de amor da Catarina – Sandra Castro

Tenho uma amiga que me contou a sua história, uma história de amor, e como eu ainda acredito piamente nas histórias de amor, transcrevo o seu testemunho fiel. Julgo que foi mais ou menos isto que ela me confidenciou:

” Conheci-o assim, do nada, tão carente eu estava de amor e carinho, de atenção, de sexo desenfreado, que qualquer marmanjo que me olhasse e me sorrisse podia ser o feliz contemplado. Mas foi naquela sexta-feira, maldita sexta-feira, em que eu pedi aos céus que me mandassem um tipo jeitoso, não precisava de ser o meu género, afinal nem eu sabia que género queria. E não é que ele apareceu? Que porra pá! Afinal o céu existe e alguma alma penada lá em cima ouviu as minhas preces!

Não sei se foi a forma como se deu a conhecer, não sei se foi por desejar atenção, não sei se foi pela carência, não sei se foi pelos seus cabelos cinzentos e olhos claros, mas eu nunca mais o tirei da cabeça.

Ao principio julguei que só queria dar uma voltas, umas voltas ali, outras acolá, depois cada um seguia a sua vida, porque eu não queria prender-me a ninguém novamente. Estava demasiado desiludida com a  amor…agora só queria amores instantâneos, daqueles amores que só duram enquanto a paixão resiste.

O primeiro encontro foi banal, na realidade nada me interessou ou despertou interesse naquele tipo. A companhia era agradável e pouco mais. Surgiu um beijo, nada de especial.

Mas foi no segundo encontro que se despoletou qualquer coisa dentro de mim. Não foi pela noite intensa de sexo, não foi por ele me ter apresentado à mãe dele na manhã seguinte, não foi pela conversa na praia, foi qualquer botãozinho aqui no meu coração que disparou para on e nunca mais desligou.

E assim, quase de um dia para o outro, eu só via borboletas e corações à minha volta, sentia o coração a bater rápido quando o via, ria-me por tudo e por nada, e ficava ansiosa pelos seus telefonemas e pelas suas mensagens…estava completamente apaixonada!

Adorava as suas palavras, o seu riso, o seu sorriso, o seu olhar doce e triste, a sua forma de falar, os seus relógios nos pulsos, a forma como se vestia, a forma como se sentava, os seus dedos longos…estava perdidamente apaixonada!

Vamos cometer uma loucura? Vamos casar? Vamos ter um filho? Eu sorria e agarrava-lhe na mão…é tão bom sonhar quando se está apaixonado! Perde-se a noção da realidade, do tempo e da vida mas é uma bela sensação.

Como qualquer pessoa que está completamente arrasada por um amor passado, cometi o erro doloroso de colocar um ponto final na relação…tive medo, muito medo de sofrer novamente. Maldito medo que nos impede de seguir o coração.

E a possibilidade de viver um grande amor se desvaneceu…nunca mais o esqueci, embora tenha tentado desesperadamente. Ou será que todos os amores são grandes mesmo que curtos mas intensos?

Tal como escreveu o nosso poeta Luís de Camões,

“Amor um mal, que mata e não se vê…
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como e dói não sei porquê”

 

Crónica de Sandra Castro
Ashram Portuense