…Neste mundo cruel onde os valores supérfluos se sobrepõem às realidades morais e cívicas, os jovens começam a vislumbrar que os cabelos brancos tão mal tratados merecem um pouco mais de respeito. “Muita neve vai na serra”?- em pleno Verão!..” Vai senhor é tempo dela”, responde o velho trémulo e trôpego, mas com voz firme. Os meus estudos ficaram na ponta desta enxada. Não sei ler nem escrever, mas leio na terra e nas plantas quantos quartos tem a lua e pesa 1 quilo” Este gajo é burro” diz o um dos estudantes virado para o colega que gracejou. Detesto estes velhos sabichões que têm a mania que por ser velhos são donos do mundo! Mas pensou bem e quis saber o pensamento da velhice e foi a casa do Sr. António a Roriz- Sto. Tirso e perguntou: “Afinal em Agosto não havia neve e o senhor disse que havia muita e era tempo dela e que a lua pesava 1 Quilo? Verdade, verdadinha meu querido estudante; –Então diga lá o que quis dizer: Muita neve vai na Serra os meus cabelos brancos e é tempo dela porque já tenho 75 anos. “E quanto pesa a lua?”: Oh menino se tem 4 quartos deve pesar 1 Quilo” o estudante envergonhado voltou para casa cabisbaixo e a lamentar-se da sua fraca figura perante um analfabeto cheio de sabedoria! ” Não subas além da chinela. A velhice é um posto que deve ser respeitado. No meu trabalho, aceito críticas de quem faça melhor não de quem saiba mais.”!…
Esta não é nada mais que uma história contada pelo meu pai, não estando fisicamente presente entre nós merece ser lembrado, ele que sempre adorou contar histórias e experiencias sábias. Acredito que me deixou uma herança, á qual me tenho valido nestes últimos tempos, a vontade de escrever e contar também histórias e experiencias de velhos sábios. Se cá estivesse também seria um “velhinho “com 85 anos, teria o seu cabelo branco…saberia no entanto ler e escrever muito bem…comentaria certamente as minhas crónicas (…não no face porque isso já seria demais…!), mas diria algo que eu gostasse e precisasse ouvir. Porque é isso que a maioria dos velhinhos fazem, contam histórias de vida, falam do passado, falam de nós, falam da importância da nossa existência.
Já todos sabemos que sem história não existimos, também raramente damos a devida importância a isso, mas que é um fato é…história existe… e histórias existem para serem contadas, histórias escritas ou simplesmente narrativas.
Que partido tiramos nós das histórias? Porque nos são lidas tantas histórias em pequenos? Não será para nos reportar valores morais e éticos, que nos levem a repensar as atitudes do dia a dia, numa reflexão que pode modificar a acção tornando-nos melhores enquanto pessoas? Ou será somente para nos cultivar o gosto pela leitura?
Que partido tiramos nós das histórias dos “velhos sábios”? Que tipo de histórias nos fascinam mais?…cativantes, comoventes, emocionantes, ternurentas ou dramáticas! Todas elas fazem parte do nosso ciclo e quando nos sentamos a recordar tempos passados depressa concluímos que ninguém pode voltar atras e alterar a sua história…mas pode aprender com ela…recordar é viver!
Precisamos de história para fazermos do tempo uma linha de continuidade de vida. Recordo com muita alegria os serões passados em família, onde os avós e os pais contavam as longas histórias, os irmãos mais velhos contavam as suas traquinices e experiências e onde tudo era pretexto para nos serem incutidos valores para um crescimento saudável.
Eu sei que hoje tudo é diferente, as famílias pequenas, os horários flexíveis, todo um conjunto de coisas alteram hábitos que decorriam no dia a dia em outros tempos.Há outras narrativas que cresceram, nomeadamente as novas tecnologias, mas que ninguém deixe na totalidade de ouvir a sua própria história por aqueles que a viram mudar de página.
Sendo escrita ou somente narrada todos chegaremos a uma Etapa em que vamos ter orgulho em partilha-la com alguém…que sejam os nossos filhos e netos!
Eu deixo a minha história por escrito, pelo menos até então…deixo fotos para ilustrar…queria ainda chegar a velhinha e poder narrar tudo… apesar de não ter muita tendência para cabelos brancos, ter a noção que nessa altura … muita neve vai na serra!-Vai , Sôdona Aida…é tempo dela!
Crónica de Aida Fernandes
A última Etapa
Sabes hoje é dia da família e fico tão feliz por fazer parte da tua família e destas vivências tão enriquecedoras..obrigada Sôdona Aida por as partilhares de uma forma tão ternurenta e bonita..
Nanda, assim não vale….fico sem palavras! sabes o quanto me diz esta crónica, sei no entanto que a ti te diz tanto ou mais…por isso não te consigo dizer mais nada a não ser obrigada pelo carinho e apoio, somos irmãs de sangue mas muito mais que isso, fazemos parte de uma familia que eu quero continuar a preservar e recordar…recordar é viver!
Beijinhos
Realmente tas a escrever cada vez melhor, e eu sei porque, escreves com a alma, e assim sendo so pode dar nisto, cronicas ternurentas k nos aquecem a alma,.
Gosto muito quando metes as historias reais, pois dou tanto valor as experiencias dos nossos ente queridos mais velhos, sao autenticos manuais de vida.
Que pena os nossos jovens nao darem o devido valor
Mas nada ta perdido, tudo pode mudar, e passarmos a dar-lhes o valor que eles merecem nas nossas vidas
Parabens amiga
…crónicas ternurentas que nos aquecem a alma…sabes que infelizmente perdi o meu pai muito cedo,apenas com 69 anos viveu quatro meses de sofrimento,ou melhor nunca soubemos se sofria ou não, cientificamente não foi considerado coma profundo nem morte cerebral, tenho a certeza de uma coisa, que o estado dele me deixou diferente e me deu uma força inigualável para enfrentar a vida, deixou ainda esta vontade ternurenta de poder escrever com a alma, porque acredito que “a” temos e que é a unica coisa que nunca nos separa de ninguém.
Bela, acredito ainda que os nossos jovens vão dar valor a isto mas mais tarde que nós, fruto de uma sociedade que se foi modificando, que foi perdendo muitos valores e eles, jovens, não conseguem captar estas experiencias com a mesma intensidade, não sendo somente culpa deles, mas sim de um conjunto de alteraçoes no quotidiano das familias.
Nem sabes como é bom receber assim uma msg quando se escreve este tipo de crónicas, é como que uma força para continuar.
Mais palavras….e quê?????????chega!Beijinhos amigalhona