Hoje? Sim… amanhã, depois vê-se! – Raquel Santos

Ele chegou a casa muito feliz, sentindo que o dia de trabalho lhe tinha corrido bem. Sentou-se à mesa para saborear o delicioso lanche que a sua esposa lhe tinha preparado com amor e carinho. Aquela sande de queijo derretido parecia ter um toque especial, e o sumo de laranja reluzia no copo como nunca. “Hoje está tudo maravilhoso! Parece que tudo ganhou mais vida e saúde…” – disse o homem suspirando de alegria.

Posto isto, dirigiu-se à garagem, que ficava nas traseiras de sua casa. Abriu a porta já velha, com cuidado pois esta presa por um fio. Entrou sorrateiramente e viu a sua bicicleta encostada à parede. Abandonada, desde que o seu pai morreu. Sempre que ia andar de bicicleta tinha a companhia inseparável do seu herói, mas que faleceu num acidente de trabalho.

“Parece um mono velho! Mas hoje sinto-me com vontade de pegar nela e ir dar uma volta como naqueles dias que ia contigo…” – olhou timidamente para o teto (céu).

Puxou um pano que estava em cima de uma mesa de trabalho e passou na bicicleta. Limpou-a de cima abaixo. Demorou alguns minutos até ficar como queria, mas apeteceu-lhe dar vida a mais um objeto arrumado. Se olha-se para ela espelhava o seu rosto. Estava mesmo impecável!

“Hoje ninguém me vai estragar o dia! Sinto-me mesmo bem!” – exclamou ele.

Sentou-se na bicicleta e pôs os pedais a rolar. Estava vento e este acariciava o seu rosto alegre e pálido. Subiu e desceu, muitas voltas, ele deu. Parecia uma criança com desejos de algo e quando o tem nunca mais o ou a larga. Ele parecia estar nas nuvens, feliz da vida.

O céu escureceu repentinamente. As nuvens taparam o sol reluzente e o vento deu lugar a gotas fortes de chuva!

“O que se passou com o tempo? Então pai, não estás feliz por eu voltar a andar de bicicleta?” – perguntou admirado olhando para o céu.

Virou costas e seguiu até casa. Agora ia veloz, as rodas da bicicleta pareciam querer voar. Quase que nem tocavam no chão molhado das ruas.

Chegou a casa todo molhado. A roupa foi direitinha para a máquina de lavar. De seguida foi tomar um banho quentinho. A água tépida percorria o corpo gélido, como se de uma massagem se trata-se. Vestiu-se tranquilamente e sentou-se no sofá!

Ao lado, na cozinha, a esposa preparava o jantar com a ajuda da sua filha. Era uma família feliz e ajudavam-se uns aos outros.

Assim que o jantar ficou pronto, a sua filha chamou para jantar, contudo sentiu um vazio. A sua voz atravessou a cozinha, voltando-se para a esquerda entrando sorrateiramente na sala, mas não encontrou ninguém. A menina gritou mais alto e nada. Começou a tremer e correu puxando a mãe em direção à sala onde supostamente estava o pai.

Olhou para o sofá e não estava ninguém. Olhou à sua volta e viu o seu pai caído perto da janela aberta até trás. Tocou-lhe aflita. Chamou-o mas não obteve resposta. As lágrimas começaram a percorrer-lhe o rosto triste e inconsolável. As duas abraçaram-se carinhosamente sem perceber o que se tinha passado!

“Não nos podia tirar uma pessoa que amamos desta maneira!” – disseram em conjunto – “Vamos ser fortes e viver intensamente como o teu pai nos ensinou!”

Vive o hoje, o passado já lá vai e o futuro ainda está para vir.

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