Hollande 1 – 0 Merkel, Bento XVI 1 – 1 Lobbies – Nuno Araújo

François Hollande marcou um grande golo a Angela Merkel. O presidente de França assumiu, na semana que passou, a liderança da UE. Angela Merkel está em ano de eleições legislativas, e a sua vitória nesse acto eleitoral não é certa, pois Peer Steinbruck do SPD é um adversário à altura da chanceler. Será que a cedência de Merkel é estratégica, ou será antes um “mal necessário” para poder ser reeleita no poder?

Em ano de eleições legislativas na Alemanha, Angela Merkel e o seu “Bundesregierung” viram-se mais para “dentro”, ou seja, a sua atenção e a sua agenda “apertada” têm quase só em conta situações relativas à Alemanha. O SPD decidiu apresentar Peer Steinbruck, ex-ministro das finanças de Merkel no seu primeiro mandato, como candidato à chancelaria alemã. Angela Merkel sabe que poderá vencer as eleições pela via da economia, mas também poderá por aí perdê-las, pois o ritmo das exportações tem abrandado e a Alemanha não está salvo de uma estagnação económica, o que levará inevitavelmente a uma recessão.

Angela Merkel percebeu, e bem, que para vencer as eleições de Novembro terá de se concentrar mais no plano interno. Assim, fica uma “cadeira vazia” na liderança da UE, que é uma cedência estratégica da chanceler alemã, mas também não deixa de mostrar o quão pouco era “estimada”, digamos, essa liderança bávara.

Certamente com intenções de aproveitar este momento único e histórico, Hollande tenta assumir a dianteira da UE. Tentar “segurar o leme do barco” é a maior prova de força que Hollande poderá dar aos seus compatriotas, que em sondagens variadas já não lhe concedem “carta branca” para toda e qualquer política vinda do Palácio do Eliseu, sobretudo depois dos casos que fizeram milionários franceses sair de França em protesto contra os 75% de imposto cobrados a quem ganhasse mais de um milhão de euros anuais, e da recente acção armada no Mali. Porém, as vitórias parlamentares relativas a temas fracturantes como o casamento entre pessoas do mesmo sexo dão um balão de oxigénio muito considerável para o governo socialista francês poder gerir esses dossiers com alguma tranquilidade, até porque a UMP de Nicolas Sarkozy está dividida entre duas facções internas, e, portanto, surge enfraquecida enquanto oposição; mais ainda, a crise de liderança da UMP abriu espaço para uma mediática oposição da Frente Nacional de Marine Le Pen, filha do nacionalista Le Pen, mas que não é vista como sendo forte pela maior parte dos franceses, e ainda bem que assim é, pois em França ocorreu a revolução francesa, e os seus valores são sempre mais fortes que qualquer outro tipo de ideal de teor fascista e niilista.

François Hollande, desta forma, tem o espaço e a oportunidade histórica, portanto, de assumir a liderança da UE. Angela Merkel nunca assumiu verdadeiramente essa liderança, mas a França de Hollande parece encaminhar-se para tal. E tem muitos trunfos, pois para além do poderio militar gaulês, da capacidade económica, ainda possui um trunfo muito especial: o facto de a França não ser a Alemanha, tão responsabilizada que tem sido pelo “desnorte” em que a UE se encontra, é por ventura o trunfo mais sólido e mais “atractivo” para os cidadãos europeus críticos de Merkel.

Parece óbvio, mas é essencial lembrar que só depois da vitória de François Hollande é que o Euro enquanto moeda europeia foi “salvo”, e os mercados e as agências de rating começaram a subjugar-se às políticas governamentais, o que está correcto, pois a dominância exercida pelos mercados e agências de rating desde o Outono de 2008 até ao início do Verão de 2012 levou ao colapso parcial da economia americana, o que “contagiou” a economia europeia e levou Grécia, Irlanda e Portugal a terem de pedir assistência financeira ao FMI, UE e BCE.

Para assumir a liderança europeia, o PS francês e Hollande perceberam que é na prestação de apoio político aos “países oprimidos” que se ganha a batalha pela Europa e pelo crescimento da economia, concretizando-se uma liderança democrática que assegura os bons princípios da solidariedade europeia. Hollande reuniu-se com dois parceiros europeus vistos como “fracos” e “pobres”: Grécia e Roménia. Assim, Hollande encontrou-se em Atenas com Samaras, primeiro-ministro grego, para falar acerca dos avanços ou retrocessos orçamentais helénicos em plena janela de seis meses sem austeridade adicional. A visita ocorreu na véspera de mais uma greve geral, do sector público e provado, e contou com a greve dos jornalistas gregos (vista como “orquestrada” pelo Syriza, partido de esquerda radical grego), que assim não garantiram a cobertura da visita do presidente francês, o que enfureceu o governo grego. A presença de Hollande poderia, remotamente, tentar evitar a primeira paralisação geral do ano na pátria de Platão e Aristóteles. No entanto, e apesar do forte apoio de que Hollande goza por parte dos sindicatos franceses, sobretudo com as intenções do Palácio do Eliseu em segurar a PSA Peugeot-Citröen, os gregos avançaram mesmo com essa greve geral.

Hollande teve na passada Sexta-feira um outro encontro, na senda do reforço das relações bilaterais com a Roménia e da concretização dessa liderança gaulesa na UE. O inquilino do Palácio Eliseu encontrou-se com Victor Ponta, primeiro-ministro romeno, onde, para além dos temas normalmente divulgados pelos assessores políticos, decerto que a maior parte do tempo foi reservada para falar acerca da situação da carne de cavalo proveniente da roménia, e que estava incluída em milhões de embalagens de lasanha supostamente com “100% de carne de vaca”. O “caso da carne de cavalo” demonstrou, entretanto, uma certeza inolvidável: a segurança alimentar europeia existe (apesar de ter agido tardiamente). Mais uma certeza: apesar de hoje em dia termos tanta informação acerca daquilo que comemos, nunca tivemos tantas dúvidas como agora acerca daquilo que comemos. Um outro assunto que também deverá ter constado da conversa entre os dois líderes foi a questão da imigração romena em França, num tema que foi “quente” aquando da presidência de Nicolas Sarkozy, ele que deportou milhares de romenos de etnia cigana para a Roménia. Numa altura em que vários países da UE se recusam a estender e mesmo a aplicar o acordo de Schengen (acerca do livre trânsito de bens e pessoas dentro da UE), Hollande deverá ter de ir ao encontro das necessidades do seu homólogo romeno: ou aceita mais imigração romena, ou então concede contrapartidas de igual valor à Roménia.

Lobby Gay no Vaticano afasta Papa Bento XVI?

A resignação do Papa Bento XVI levantou muitas questões pelo mundo inteiro. Essa resignação permitiu, simultâneamente, “levantar o véu” a alguns assuntos por resolver, digamos desde o pontificado de João Paulo II. Questões delicadas como o tema dos abusos sexuais alegadamente efectuados por prelados católicos a crianças e adolescentes foram sendo resolvidas, a pouco e pouco, por Bento XVI, ele que tinha sido secretário de João Paulo II.

Os temas não mudaram, apesar do Papa ter mudado, em 2005. Bento XVI seria sempre um Papa de transição, pela sua idade, mas também porque João Paulo II já vivia desde os anos 90 com sérias limitações físicas à realização do ofício da gestão da Santa Sé, pois doenças como Parkinson ou a colocação de um pacemaker ao Papa polaco colocavam como impossível batalhar por um Vaticano “limpo” de lobbies.

Bento XVI, alemão de 85 anos, com vivendo com pacemaker e com cegueira quase total de um olho, tinha como quase como proibição viajar de avião. Ora isto, para um Papa, líder de uma comunidade com mais de um bilião de fiéis, é limitador da sua mobilidade e acção pelos destinos da sua Igreja. Assim sendo, torna-se confragedora a posição de Bento XVI, que observa o início de uma crise financeira pouco depois do início do seu pontificado, verifica paradeiro incerto para biliões de euros, para além de as autoridades europeias não terem feito segredo da não aprovação dos métodos electrónicos de pagamento e gestão de valores. Essa falta de transparência do Vaticano levou à demissão do responsável por essa área, e trouxe a nomeação de um novo gestor de negócios do Instituto para Obras Religiosas, o advogado alemão Ernst von Freyberg.

Não só o dinheiro, mas também as chamadas situações de “desvio de conduta” assolam o Vaticano. Situações decerto embaraçosas de assédio sexual dentro da Igreja Católica levaram ao quase inédito acto papal de resiganção. Situações várias, que desde Portugal até ao seio do próprio Vaticano, em Roma, mostram a credibilidade oferecida pela tese de um lobby gay se ter conseguido apoderar de uma parte significativa da Igreja Católica.

Se os lobbies tinham alguma vantagem na luta pelo poder total dentro do Vaticano; se os lobbies tinham entre eles algum acordo assinado, por forma a “dividir para reinar”; se a resignação de Bento XVI abre caminho à eleição de um novo Papa e novos “players” dentro da Igreja Católica, para que a luta contra os lobbies se faça com revigoradas força e estratégia; todas estas perguntas serão respondidas pelo tempo.

No entanto, se os lobbies estavam em vantagem, o Papa Bento XVI colocou em pé de igualdade a sua “facção”. O próprio Bento XVI utilizou a “bomba atómica” política, a sua própria demissão, para conter os avanços de grupos de interesses alheios à linha do ainda Papa. Muito fumo, negro, há-de aparecer no céu de Roma antes do fumo branco aparecer…

 

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana