Homenagem a “Madiba” – Lúcia Reixa Silva

Madiba”, como carinhosamente o povo da África do Sul chamava a Nelson Mandela, faleceu no passado dia 5 de Dezembro, com 95 anos.

Nascido na África do Sul, em 1918, descendente directo de um nobre chefe tribal, Nelson Mandela (nome atribuído mais tarde quando foi estudar para uma escola anglicana), foi um exemplo de virtude  e de tolerância, para muitos, e o líder político que devolveu a África do Sul à comunidade internacional, evitando uma eventual chacina e derrame de sangue, em alturas em que tudo parecia “apontar” nessa direcção.

No entanto, não é minha pretensão descrever aqui a vida deste grande senhor da política, cuja larga homenagem por todo o mundo aclara e explana de forma plena, mas tão somente referir aquilo que me faz escrever esta crónica de hoje: o exemplo que Nelson Mandela deixa ao mundo, de luta pela Liberdade e a prática da Tolerância, do Humanismo, da União.

Na verdade, Mandela foi considerado anos e anos como pertencente ao grupo de rebeldes, tidos como “terroristas”, que lutavam ferozmente contra o Apartheid, esse regime separatista que governou a África do Sul demasiado tempo, dividindo a “minoria branca” governante da “maioria negra” oprimida.

Foi, por esse motivo, preso, como todos sabemos, contando-se no total da sua clausura 31 anos, tempo nunca cumprido na prisão por um político que tenha chegado a Presidente…

Paradoxalmente, o fruto desta luta e da prisão é a libertação do povo da “África negra”, demasiado tempo humilhado e escravizado, demasiado tempo em clausura no seu próprio país.

A única semelhança que encontro neste grande líder político, e no seu posterior apelo à paz e à “não vingança”, é de facto a Mahatma Gandhi, na sua luta pela libertação do povo indiano, apelando desde sempre à paz e à luta pacifista.

Desenganem-se no entanto aqueles que pensam que Mandela é respeitado por todos de igual forma…Apesar de Mandela ter sido homenageado com o Prémio Nobel da Paz, em 1993, e ter sido Presidente da República da África do Sul entre 1994 e 1999, tendo sido o primeiro presidente “negro” deste país desde há muito dominado pela “minoria branca”, não se pode dizer que a sua morte representa o luto para toda a República da África do Sul…Uma enorme percentagem da população branca considerava-o a ele e, na verdade, a todo o Congresso Nacional Africano, como vulgares terroristas, e, apesar da inegável influência política que Mandela passou a ter internacionalmente, muito para além dos seus anos de mandato como Presidente, e que fazem com que hoje, em todo o mundo, se lhe preste a devida homenagem, existem alguns que seguramente não fazem um luto ou homenagem sentida…

No entanto, em quase todo o mundo se faz o luto por este grande Homem, tido como referência mundial, de Paz e de Humanismo, e, certamente que para a “maioria negra” da África do Sul, são dias de luto e de homenagem a Madiba, quase “um deus” para muitos, uma enorme referência ética e moral, bem como o símbolo da libertação da escravidão.

Mandela foi pois um líder que deixou no seu legado o exemplo da ética e da moral, da Liberdade, da Paz e da União, da Tolerância por todos aqueles que diferem de nós, e até pelos nossos opressores…

Uma das demonstrações mais evidentes deste apelo à Paz e à Tolerância, é para mim a conversa que Mandela um dia teve com uma criança que o veio saudar…esta criança era pois uma menina da República da África do Sul, pertencente ao grupo da “minoria branca”, tratando-se neste caso de uma menina de pele muito clara, branca, loira e de olhos azuis…Mandela saudou-a e disse-lhe que gostaria de um dia a ver votar no seu país, e a ser até eleita presidente deste país, pelos votos de todo um povo…

Neste dia, seguramente, o Amor e o Perdão tomariam lugar neste país, dando um exemplo único à Humanidade.

Claramente esta curta conversa nos dá prova da enorme capacidade de tolerância de “Madiba”, fé na humanidade…confiança neste “seu povo”, “sonhando” que um dia este povo poderá finalmente perdoar e confiar nesta “minoria branca” que um dia o oprimiu, como na “maioria negra”, e, sem ressentimentos, colocar uma pessoa no poder consagrado pela democracia, sem querer saber da sua cor de pele, tribo ancestral ou cor de cabelo…olhando para o Homem (não importa o género), por aquilo que é e que vale, sem ódio, sem julgamento de valor, com a clarividência de quem olha apenas para aquilo que importa…

“Madiba”, foi um homem de elevados valores; um exemplo de coragem e perseverança, pela sua própria história de vida, um exemplo de ética, tolerância e de humanismo, dificilmente encontrados nas pessoas, e, ainda menos, em líderes políticos (infelizmente)…Por este motivo, esta minha crónica de hoje, não poderia deixar de ser sobre este grande Homem, líder de enorme influência em todo o mundo, com um legado de Paz e de Tolerância, num apelo constante à Liberdade e à União entre os Homens. Agradeço, humildemente, a lição de vida.

R.I.P. “Madiba”.

 

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Crónica de Lúcia Reixa Silva
De Alpha a Omega