E se houvesse um ataque nuclear em Lisboa?

6 de Agosto de 1945. Enola Gay, um bombardeiro Boeing B-29, levanta voo em Tinian rumo a uma cidade, ainda indeterminada, no Japão. Após a confirmação de condições meteorológicas excelentes, o destino de Hiroshima, uma importante cidade militarizada Japonesa, fica traçado. O resto… Como se diz… É História.

Mortes confirmadas: pelo menos 90000 (outras estimativas chegam a apontar para o dantesco número de 160000 pessoas), centenas de milhares de feridos e incontáveis danos humanos de longo-prazo, causados pela exposição à radiação. Os danos materiais foram gigantescos. A cidade foi completamente destruída pela explosão inicial e subsequente bola de fogo, que causou um enorme incendio, que consumiu tudo o que encontrou. Foi, literalmente, o inferno na Terra.

 

O risco de um ataque Nuclear

Ora, neste contexto, e nas palavras do Presidente Obama, existe um risco real de um ataque nuclear terrorista no Ocidente. Obviamente que tal ataque, a ocorrer, seria dirigido a uma das mais importantes cidades ocidentais: Washington, Nova York, Londres, Paris, Bruxelas ou Berlim, seriam, talvez, os alvos mais apetecíveis para um ataque desta magnitude. Ainda assim, tomemos em conta que Lisboa, como uma capital europeia de um país periférico outrora dominado por um Califado, foi declarada pelo Estado Islâmico (por exemplo, não esqueçamos organizações como a Al-Quaeda…) como um objetivo bélico a ser tomado num prazo de 5 anos. Assim, como esta ameaça parece não ter sido considerada pelos nossos dirigentes políticos, e desconhecendo qualquer tipo de contingência por parte dos serviços secretos portugueses, ou do Exército, fazemos, aqui, um pequeno de simulação, utilizando o site nuclearsecrecy.com (que qualquer leitor poderá utilizar livremente).

 

O Ataque Terrorista em Lisboa

Para isto, assumimos que o ataque terrorista seria realizado com materiais similares aos utilizados em Hiroshima (ou seja, Urânio enriquecido) contido numa ogiva que originaria uma explosão com a força de 15 Kilotoneladas. Uma vez que o ataque ótimo de uma bomba nuclear é realizado por ar (dado que uma explosão ao nível térreo é, em grande parte, absorvido pelo terreno) também assumimos que este ataque seria realizado por um avião, provavelmente suicida, explodindo 500 a 600 metros acima do solo.

For fim, assumimos, também, que este mesmo ataque seria realizado em Lisboa, caso Portugal viesse a ser considerado como um alvo, por constituir a capital Política e Económica do país. Corta-se a cabeça do Leão, e todo o corpo entra em colapso. E, de facto, um ataque precisamente em cima da Assembleia da República iria obliterar tanto os parlamentares, como as equipas governativas no Palacete de S. Bento, e nos Ministérios que se encontram espalhados por Lisboa. Assim como grande parte dos serviços administrativos e secretos.

Em Lisboa encontram-se, também, sediadas diversas instituições e representações europeias, que seriam extremamente atingidas, assim como a Bolsa, bancos e milhares de empresas que representam uma parte significativa do PIB português.

Por último, mas não menos relevante, em Lisboa vivem cerca de 500 mil pessoas, mas em toda a zona circundante vivem, trabalham e estudam entre 2,500 e 3 milhões de pessoas. Muitas delas que se deslocam, vindas dos subúrbios, para esta mesma cidade, colocando-se, inadvertidamente, dentro do raio da explosão ou dos efeitos radioativos deste hipotético ataque.

 

 

As consequências imediatas

De seguida colocamos, aqui, o resultado da aplicação de todas as pré-condições em cima descritas:

Ataque nuclear em Lisboa_1

 

Como podemos observar, a explosão dar-se-ia diretamente em cima da Assembleia da República. A laranja, podemos observar o alcance da bola de fogo (com um raio de 180 a 200 metros), uma explosão extremamente violenta, resultado da fissão nuclear das partículas de urânio, contidas na bomba, com uma temperatura estimada em milhões de vezes a temperatura da superfície do Sol. O alcance da bola de fogo não seria, em princípio, o suficiente para afetar a cidade, o real problema vem representado pelo que está assinalado a vermelho: a bomba provoca uma explosão que empurra, de repente, e a uma velocidade e força extraodinárias, o ar. É o “air Blast”, a temível onda de pressão de ar que leva à destruição de praticamente todos os edifícios, mesmo que construídos em cimento e, ou, aço. Todo o metal derrete, nas proximidades da explosão, devido ao superaquecimento provocado pela mesma. Em suma: a taxa de sobrevivência é de quase 0%. Os efeitos em Hiroshima e Nagazaki mostraram que pessoas que foram diretamente expostas à explosão, ou muito próximas da área, foram vaporizadas, deixando como único testemunho da sua existência uma “sombra atómica” e/ou pedaços de ossos. Resumindo: tudo entre a zona de Santos, Rato, Calçada da Estrela e às ruas de acesso ao Príncipe Real e Bairro Alto seriam totalmente aplanadas, sobrando uma série de escombros e uma considerável cratera.

Mas não se ficaria por aqui. A onda de pressão continuaria a viajar pela cidade, espalhando a sua devastação até, pelo menos, à zona das Amoreiras, devastando o Marquês de Pombal, Bairro Alto, Praça do Comércio. Por fim, como podemos observar na seguinte representação, a zona de calor, que causaria queimaduras de 3º grau (pelo menos) a todos os seres que estivessem na área, expandir-se-ia entre a Tapada das Necessidas, na Ajuda, e o Castelo de S. Jorge, tocando no pulmão de Lisboa, Monsanto, que seria incendiada, assim como um pouco por toda a Lisboa, provocando uma visão do Inferno na Terra.

 

Ataque nuclear em Lisboa_2

 

Se até aqui a taxa de sobrevivência era extremamente baixa, sendo que site estima próximo de 28 mil mortos imediatos e mais de 90 mil feridos graves, os efeitos dentro de 24 horas far-se-iam sentir sobre quase 280 mil pessoas. Sendo que o número de baixas seria extremamente elevado.

Em adição aos enormes custos humanos, estariam os custos económicos (já mencionados) e políticos. O centro nevrálgico do poder político português seria destruído, assim como os principais canais de comunicação para com a NATO, a União Europeia e os centros de poder regionais, militares e de segurança civil. O pânico iria espalhar-se pela população, e um programa de controlo teria que ser imposto. Mas com estradas pequenas e limitadas, teríamos toda a zona centro do país fugindo em direção a Espanha, ao Norte (onde, provavelmente no Porto, seria estabelecida uma capital temporária) e ao Sul, com a possibilidade de evacuação em direção a Morrocos. Mas porquê esta debandada?

 

Os efeitos de longo prazo

Em primeiro lugar, os danos humanos: centenas de milhares de pessoas iriam ficar expostas à radiação nuclear libertada pela bomba. Hoje sabemos disto. E como tal, os habitantes iriam fugir pelas suas vidas futuras. O pânico geral iria, eventualmente, gerar milhares e milhares de refugiados.

Em segundo lugar, a economia, que de momento já é extremamente frágil, iria colapsar, com a destruição da possibilidade de os bancos e da própria Bolsa de valores iria existir uma falta generalizada de financiamento empresarial.

Em terceiro lugar, uma falta de existência de responsáveis governamentais iria depender da sobrevivência, ou não, de algum dos deputados ou do Presidente da República. Ou dos principais dirigentes do Exército. Eleições teriam que ser convocadas o mais rapidamente possível, e preparações para um possível segundo ataque noutros pontos da UE, ou, até, de uma possível invasão (caso o ataque fosse realizado pelo Estado Islâmico) teriam que ser consideradas. Os EUA e a NATO seriam obrigados a colocar um contingente militar em Portugal, e a destacar uma extensa equipa de análise nuclear não só para tratar os poucos sobreviventes, mas também para perceber os perpetradores deste mesmo atentado.

Quarto e último lugar: os efeitos culturais e sociais que tal ataque teria são imprevisíveis, no entanto, é conhecida a força de recuperação das populações humanas. Uma resposta seria esperada.

A questão aqui é: que tipo de resposta teríamos?

Com esta crónica procurou-se explorar um cenário completamente hipotético de um ataque terrorista em Lisboa, utilizando uma bomba nuclear. Com isto apenas queremos chamar a atenção para os problemas que podem ser causados e que são desconhecidos por nós, enquanto cidadãos. Como tal, aqui deixamos esta mesma exploração hipotética, esperando que não passe mesmo disso: uma hipótese longe da realidade.