The Hunger Games: Catching Fire & Man of Steel

Bem vindos ao espaço do Magazine Mais Opinião dedicado à Sétima Arte. Sou o Luís Antunes, licenciado em História Moderna e Contemporânea pelo ISCTE-IUL e estou neste momento a fazer um mestrado em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação na mesma instituição. Tenho como objectivo guiar-vos nesta viagem ao mundo do cinema! Este é um espaço que pretende apresentar não só as novidades mas também regressar ao passado, distante ou não, apresentando filmes de qualquer género e de qualquer era cinematográfica, uma vez que todos os filmes já foram novos um dia, e tudo o que é novo tem raízes no passado. Apresentarei reviews que beneficiarão da minha mais sincera opinião, utilizando ainda um sistema de rating de 10 estrelas. “E porque não 5 ou 20?” pergunta o leitor… Um sistema de 5 seria muito pequeno e muitos filmes acabariam por ficar numa mesma categoria mesmo com qualidades claramente diferentes. Um sistema de 20 estrelas seria demasiado amplo e acabaria por levar involuntariamente à redução por parte do leitor a um sistema mais pequeno para conseguir categorizar melhor a posição do filme. O sistema de 10 parece significar a perfeição sendo um dos mais usados por sites de reviews.

Ainda numa ultima nota, devo acrescentar que as reviews vão, dentro do possível, estar isentas de spoilers, e caso seja mesmo necessário, do mínimo possível de forma a não estragar a futura experiência cinematográfica.

Hoje trago dois filmes muito diferentes mas que marcaram e estão a marcar o ano de 2013. É certo que a lista seria muito maior mas estes dois tem um significado especial.  Um deles estreou na quinta-feira passada marcando uma nova etapa numa das sagas mais recentes do cinema. O outro que saiu ainda a meio do ano representa o regresso de um dos super-heróis mais emblemáticos da História. Agarre-se à cadeira e acompanhe-me nesta viagem, e se gostar dê um salto ao cinema…

The Hunger Games: Em Chamas

Na passada quinta-feira estreou mais um capítulo de uma das mais aguardadas adaptações cinematográficas de uma obra de literatura, mas será que “apanhou o fogo” da plateia?

 

Catching fire

Titulo Original: The Hunger Games: Catching Fire

Ano: 2013

Realizador: Francis Lawrence

Produção: Nin

a Jacobson, Jon Kilik

Argumento: Simon Beaufoy, Michael Arndt, Suzanne Collins (livro)

Actores: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Woody Harrelson, Donald Sutherland

Musica: James Newton Howard

Genero: Acção, Aventura, Sci-fi

Ficha técnica completa em: http://www.imdb.com/title/tt1951264/

Não é surpresa nenhuma constatar que esta é talvez uma das adaptações mais esperadas do ano, sendo apenas vencida em interesse por The Hobbit: The Desolation of Smaug que apenas estreará no dia 12 de Dezembro em terras lusas. É possível que até essa data Catching Fire se mantenha no top de preferências dos cinemas pelo país fora.

Como é quase imperativo neste tipo de sagas depois do primeiro filme sair os livros ganham mais leitores e mais atenção mediática, isso significa uma maior expectativa por parte da audiência e uma maior pressão sobre os estúdios que tem de agradar aos dois lados da barricada. Por um lado, devem manter a fidelidade com a história para que quem leu aprecie o esforço das grandes produções de Hollywood, e por outro tem de manter um certo grau de espectacularidade e entretenimento que embora agrade a ambos os lados tem de compensar e chamar a atenção do público menos familiarizado com a obra.

Quando The Hunger Games: Jogos da Fome estreou no ano passado ganhou imediatamente destaque e veio preencher até certo ponto o desejo de uma nova saga que conseguisse romper com o fantasma de Harry Potter e contrastar com o fenómeno Twilight. O primeiro filme de The Hunger Games foi sem dúvida um bom começo, com uma história que realmente ultrapassou as ideias já clichés de anos anteriores e que nos ofereceu um mundo distópico com o qual nos podemos familiarizar num futuro menos risonho onde o entretenimento de massas se rege pelo massacre e morte e nos faz regredir em vez de avançar para o período da Antiga Roma de pão e circo, lutas de gladiadores e sangue. Foi um filme com bastante impacto que gerou algumas ideias que ultrapassaram completamente as fronteiras do cinema e dos livros. A comunidade de um videojogo bastante popular, Minecraft, criou inclusive uma modificação que permitiu recriar o ambiente de sobrevivência da arena de The Hunger Games. Foi portanto um filme que fez a audiência pedir por mais, e um ano e pouco depois cá estamos outra vez…

The Hunger Games: Em Chamas é um filme que ultrapassa o seu antecessor em muitos aspectos. É evidente para quem leu os livros que a aproximação da obra para o ecrã é muito maior. Desde os diálogos à história em si há uma fidelidade impressionante que por vezes é difícil de atingir em produções desta envergadura. É um filme mais profundo que parece ter beneficiado também da troca de realizadores, Gary Ross deu lugar a Francis Lawrence, o que mudou completamente a sua direcção.

O filme toca em assuntos com uma profundidade mais esmagadora do que o antecessor. Na primeira adaptação parece existir menos preocupação dos intervenientes nos Jogos da Fome com a sua Humanidade, com a facto de estarem naquele espaço a matar pessoas indiscriminadamente para garantirem a sua sobrevivência. Já Em Chamas torna esse facto numa questão filosófica e de introspecção das personagens, fala-nos da desumanização do ser humano e da luta para ultrapassar o trauma da arena. Há também uma espécie de aura metafórica sobre a fama e de como esta prende as personagens e os obriga a ignorar os seus próprios desejos para conseguir proteger os seus familiares e amigos jogando um jogo perigoso com um sistema de governo autoritário que espera que essa fama seja um motor de apaziguamento das massas. Há muitas questões entre linhas que vão fazer pensar a audiência mais erudita depois de sair do cinema, até porque o filme pede por mais uma sequela, o que seria esperado para quem leu os livros.

Por incrível que pareça, enquanto que para o primeiro filme a atenção da maior parte da audiência se centrava na ultima metade da fita devido à sua carga de acção e sobrevivência, Em Chamas força-nos a pensar o contrário. A primeira metade do filme é mais carregada de história e prende-nos ao ecrã sem necessidade de grandes cenas de acção. A segunda metade do filme tem uma maior concentração de acção mas perde com isso, embora continue a ser uma experiência cinematográfica muito convincente e sobretudo muito consistente do início ao fim.

A cinematografia beneficia bastante da nova realização onde os constantes movimentos trémulos da câmara do original foram abolidos para evitar a desgraça total e as náuseas às plateias mais sensíveis de estômago. The Hunger Games mantém a sua essência não existindo grande choque entre a sequela e o original em termos de imagem ao ponto de gritar por falta de continuidade. É a maneira com o argumento é construído que faz realmente a diferença.

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Quando ao actores não há muito a apontar de errado. O elenco não mudou de maneira nenhuma embora novas personagens façam a sua primeira aparência. Destaque como é normal para Jennifer Lawrence que como já é habitual encanta com a sua actuação. Josh Hutcherson e Liam Hemsworth também não fazem um mau papel mas é evidente que quem realmente rouba o filme é Lawrence porque no fundo a história sempre foi de Katniss. É também sempre agradável ver representar Donald Sutherland que cada vez mais marca a sua presença em Hollywood sendo difícil fugir dele nos últimos anos porque quase literalmente “está em todas” as produções sejam elas blockbusters ou não. Destaque ainda para Woody Harrelson e Elizabeth Banks que conseguem com as suas personagens suavizar um pouco a atmosfera dura do filme. Por ultimo, é ainda preciso mencionar Lenny Kravitz, que não beneficia de grande screen time e tão pouco se encontra na banda sonora oficial do filme mas consegue dentro do possível demonstrar uma personagem consistente que peca por falta de mais tempo.

A música continua entregue a James Newton Howard que faz um trabalho fantástico em certas composições, algo que faz o filme ganhar ainda mais impacto com temas mais emotivos sempre na mesma onda do primeiro filme.

Em suma, The Hunger Games: Catching Fire é uma experiência fabulosa de grande carga filosófica e de introspecção. Pode quase dizer-se que é o Empire Strikes Back desta saga e que é difícil de destronar. Peca na acção e pelo fim aberto depois de 146 minutos de bastante qualidade, no entanto, ganha pela profundidade do seu argumento em clara superioridade em relação ao primeiro filme. Resta esperar pelo terceiro e quarto filmes que cobrirão o último livro da saga, um método de divisão que começa a ser habitual em Hollywood e que ajuda a arrecadar mais dinheiro mas que dá mais horas de entretenimento a quem realmente gosta da saga.

Catching fire

8,5

O Homem de Aço

Não confundir a tradução portuguesa “Homem de Aço” com “Homem de Ferro”, apesar de DC Comics e Marvel não serem a mesma coisa o primeiro nem se encontra na tabela periódica.

 

Man of Steel

Titulo Original: Man of Steel

Ano: 2013

Realizador: Zack Snyder

Produção: Christopher Nolan, Charles Roven, Deborah Snyder, Emma Thomas

Argumento: David S. Goyer, Christopher Nolan

Actores: Henry Cavill, Amy Adams, Michael Shannon, Russell Crowe, Kevin Costner, Laurence Fishburne

Musica: Hans Zimmer

Genero: Acção, Aventura, Sci-Fi

Ficha técnica completa em: http://www.imdb.com/title/tt0770828/?ref_=ttfc_fc_tt

 

O final da última década trouxe um autêntico boom de filmes de super-heróis. No entanto, é preciso compreender que este tipo de filme esteve sempre presente, mas nunca em tanta quantidade como agora. Embora quantidade e qualidade sejam conceitos altamente díspares não se pode dizer que os últimos dez anos tenham sido de total fracasso.

Recentemente, Batman fechou um ciclo (e uma trilogia) com o aclamado/criticado The Dark Night Rises, e os Avengers tiveram um sucesso de bilheteira sem precedentes que bem enriqueceu a Disney. A trilogia de Nolan foi um sucesso porque renasceu uma franchise condenada desde Batman & Robin e os Avengers foram importantes porque compensaram pelos filmes muitas vezes medíocres que cada um dos super-heróis tinha protagonizado separadamente. A DC Comics e a Marvel podem estar a bombardear-nos com uma autêntica chuva das suas mais consagradas estrelas mas isso não é obrigatoriamente mau na maioria dos casos.

Super-Homem já passou por muitos maus momentos começando por Superman IV: The Quest for Peace de 1987 que arruinou para muita gente o legado do herói de capa vermelha. Em 2006 tentaram ressuscitá-lo o com Superman Returns, filme este com boas críticas mas que não chegou para o tornar num fio condutor para mais sequelas. O ciclo começado em 1978 com Superman estava definidamente acabado.

Foi com surpresa e agrado que muitos fãs do Homem de Aço e outros tantos do trabalho de Christopher Nolan receberam a notícia de um reboot do super-herói, desta vez com o realizador a ocupar o lugar de guionista e produtor em vez da cadeira cimeira, ao contrário do que tinha feito na sua trilogia de Batman. O resultado da sua parceria com Zack Snyder (Watchmen, 300) é uma totalmente nova abordagem ao conceito do Super-Homem.

É evidente que, enquanto Batman tinha uma boa dose de realismo que a flexibilidade e a sua falta de super-poderes facilitava na criação da sua personagem, Super-Homem não teve essa margem, é portanto evidente desde o início do filme ou até mesmo antes do seu visionamento que é impossível ambos os heróis viverem no mesmo universo.

Zack Snyder apresenta uma abordagem diferente que torna Man of Steel não apenas numa obra cinematográfica de super-heróis mas também numa manifestação de ficção científica muito mais transparente que em Superman (1978). Kripton já não é um planeta feito de cristais e gelo, com habitantes vestidos com roupas brilhantes, é sim um planeta em plena guerra civil, destruído pela má gestão de recursos dos seus governantes com a cultura dos seus kryptonians, cheia de misticismo e ritualidade e uma maior quantidade de screentime que ajuda a compreender melhor esta civilização galáctica.

No seu início, o filme parece contar a mesma história de sempre, mas é com o desenrolar da trama que se percebe que há algo diferente, parece haver pouco de super-herói e algo de mais humano, o que torna o protagonista numa criatura falível mas que por outro lado dá espaço a actos de heroísmo de outras personagens. O Homem de Aço deixa de ser o super-herói que está em todo o lado e passa a ser, como sempre foi, uma fonte de heroísmo, mas sem alguma omnipotência.

Mais uma vez, como já começa a ser habitual, as origens do super-herói são apresentadas em flashbacks. Estas manifestações da infância de Clark Kent são sempre relevantes para perceber o seu lado mais humano, de modo a justificar a procura pela sua origem ou simplesmente para recriar a sua relação com Jonathan Kent. Esta forma de contar uma narrativa parece ser eficiente quando duas horas e meia de filme não chegam para uma abordagem mais pormenorizada.

A maior parte dos filmes de super-heróis tentam dar a conhecer vilões mais fracos nas suas origens sendo que a escala dos seus actos de heroísmo tem a tendência para aumentar com as suas sequelas. No entanto, Man of Steel não podia estar mais longe disso, a ameaça vem do cosmos, não do tão afamado arqui-inimigo Lex Luthor. Neste filme, todo o planeta Terra está em risco e o vilão é General Zod, o que parece ser uma escolha demasiado poderosa para um filme de “origens” mas acaba por enquadrar-se na perfeição.

O guião está longe de ser perfeito, pede por um diálogo mais rico que podia ajudar a realçar algumas relações entre personagens que muitas vezes surgem como peças apagadas de um tabuleiro muito mais extenso.

Em termos de cinematografia, o filme assume um tom frio e metalizado que contrasta com o fato icónico do super-herói. As cenas de acção estão totalmente envolta de efeitos especiais, que resultam no formato do filme mas deixam muito a desejar em cenas mais rápidas, onde por vezes, não é fácil identificar o que está realmente a acontecer. Mais uma vez a CGI mostra os seus bons e maus momentos. Um dos maus momentos neste filme poderia ser ilustrado logo numa das primeiras cenas quando uma plataforma petrolífera é envolvida em chamas, é de longe evidente que o fogo que alastra é fruto de efeitos especiais que poderiam ter sido substituídos por algo menos computadorizado, embora isso pudesse cortar com a continuidade artística do filme.

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Em termos de actores, é evidente que Henry Cavill não é Christopher Reeve e que Russel Crowe não é Marlon Brando, é impossível substituir os insubstituíveis mas isso não impede ninguém de tentar novas abordagens. A Henry Cavill falta o carisma, mas para as exigências desta adaptação mostra-se um actor à altura. Já com Russel Crowe não sentimos grande falta de Marlon Brando, é certo que cada um destes actores é um Jor-El com significâncias diferentes, no entanto, cada um pertence ao seu filme sem perda de qualidade na passagem de testemunho. Já Michael Shannon demonstra um general Zod cheio de brutalidade, no entanto, não deixa a sua marca como vilão icónico nem será com certeza nomeado para um Óscar ou ficará no top 10 dos melhores vilões do cinema.

Hans Zimmer compõe uma banda sonora que passa despercebida, muito parecida com a sua criação no The Dark Knight mas num tom mais heróico, mais sintético e muito menos caótico.

Man of Steel é uma lufada de ar fresco, no entanto, está longe de ser perfeito. Glorifica a Humanidade dentro do herói mas também o contributo de pessoas singulares para a construção da personagem de capa vermelha. Falha na construção de diálogo valorizando as sequências de acção um tanto caóticas e altamente computadorizadas no sentido over the top do termo. Não chega para ser masterpiece mas também não chega a ser um flop, é sim dinâmico, abre horizontes pecando pela sua desconexão à banda desenhada mas ao mesmo tempo ganhando com essa abordagem uma margem de manobra que pode aumentar de qualidade com as suas sequelas.
A primeira sequela, prevista para 2015 e até agora com o título Superman vs Batman, já causa polemica com o seu cast, Ben Affleck será Batman e Adam Driver possivelmente Robin/Nightwing. Resta esperar que a preocupação dos fãs se demonstre exagerada. Até lá nada melhor do que espreitar este filme, pois é acima de tudo uma acção que entretém algo ao qual já estamos habituados principalmente com Zack Snyder.

Man of Steel 7,0

E aqui ficam as duas reviews deste mês no Magazine Mais Opinião. Votos de boas festividades com muito cinema à mistura, sendo a época natalícia tão propicia para o cinema em geral. Voltarei no próximo mês com mais cinema…

Crónica de Luís Antunes