Ilha de Man: o Paraíso da Velocidade

Caro Leitor.

Hoje venho falar do Paraíso. Não aquele que transcende a objetividade de cada um. Não é o céu! Num outro sentido, o paraíso corresponde a qualquer sitio ou lugar aprazível que alguém deseje estar.  Esse tão desejado sítio diverge de ser humano para ser humano. Ainda assim, hoje venho falar do Paraíso para aqueles que respiram velocidade. Neste momento o caro Leitor deve estar a pensar no Circuito de Nürburgring. Reconheço que Nürburgring é um mundo, um “inferno verde” para aqueles que assistem qualquer desporto automóvel, mas esse não é o lugar onde tanto desejo estar.

E se eu lhe disser que o Paraíso de que estou a falar situa-se numa “pequena” ilha europeia, pertencente ao Reino Unido. É verdade! Não estou a mentir! Num sítio onde viajar a velocidades superiores a 300km/h não é nada fora do normal. É a “ilha” onde voar é um prazer. Estou a falar da Ilha de Man!

A Ilha de Man é conhecida por aqueles que vivem a velocidade em duas rodas. É o palco do Campeonato Irlandês de Estrada,  um campeonato de velocidade de motociclismo que, regra geral, funciona como um campeonato normal. A sua grande diferença está na ausência de qualquer circuito. A pista é a própria ilha, as próprias estradas públicas, os próprios muros, o próprio perigo de condução desportiva em estradas, ditas, normais. A maioria das provas do campeonato funcionam da forma normal, onde os pilotos partem ao mesmo tempo. No entanto o melhor que este campeonato tem para oferecer é o Isle Of Man TT (Tourist Trophy). O formato TT baseia-se em provas de contra-relógio, onde os pilotos partem com um espaço de tempo previamente intervalado de 10 segundos e completam 6 voltas à ilha. 6 voltas parece muito, mas se lhe disser que o recorde da pista, com cerca de 60km, está em 17 minutos e 6 segundos a uma velocidade média de 217,913km/h….

A Isle of Man TT é um evento complexo em que os pilotos concorrem em 7 categorias diferentes:

  • Superbike TT – a classe rainha
  • Supersport TT – classe com motores menos potentes
  • Superstock TT – existe uma maior aproximação com as motas de estrada, recorrendo a pneus com rasgos, e motores semelhantes à classe rainha
  • Lightweight TT
  • Sidercar TT
  • Senior TT
  • TT Zero Challenge – motas com motores elétricos/baterias

As corridas TT são extremamente perigosas devido ás altas velocidades atingidas ao passar junto a pessoas, passeios e muros de pedra. Entre 1907 e 2014 houve 245 mortes. O pior ocorreu em 1970 quando no evento morreram 6 pilotos. Devido aos perigos de segurança, as dúvidas estão sempre presentes a cada ano que passa.

No entanto o campeonato tem pernas para continuar, graças à legião de pessoas que apoiam o perigo de correr nestas situações. Uma pessoa “normal”  poderia defender o fim da prova, por questões de segurança, até porque é algo que dá lucro – 20 Milhões de euros por ano, mas parece que tal não vai acontecer tão depressa. É algo com um património histórico bastante importante. Ao assistir a um evento destes, que tem uma duração de 2 semanas (fim de maio e inicio de junho), é percetível que a maior parte dos pilotos que vencem são oriundos da própria ilha. É algo que está dentro do ADN deles. Muitos são pais de famílias e têm segundos trabalhos. A diferença é que têm uma paixão por motas, por velocidade, pelo sentimento de estar entre a vida e a morte onde um pequeno descuido pode deitar tudo a perder.

Então se o ideal “quanto mais perto da morte, mais vivos nos sentimos” for verdade, então este é o meu Paraíso, assim como de todos aqueles que vivem (e anseiam) por voar baixo.

Posto isto só me resta desejar boas leituras…e da próxima vez que o estimado leitor for acelerar, não se esqueça de colocar o capacete!