O império do transformismo

Divertir. Sem desviar a atenção. Ou as atenções. Entreter. O sinónimo perfeito. Que é a mesma coisa. Assim como a igualdade. A correspondência certeira de um todo. Sem o desditoso privilégio de classes. Igualdade. E a alegria reside nos que se sentem iguais. Sempre. Sem gargalhadas discriminatórias. E o sorriso transforma. Demonstra novas espécies. Aplaina o transformismo. Que também é uma arte sorridente. E desfrutada.

Transformismo. Um ofício verbalizado por poucos. Mas bons. Os que nascem para a habilidade. Ou nasceram. Com o destino a encarregar-se do resto. Transformismo. Personagens consolidadas que incorporam no corpo as mais variadas roupas do sexo oposto. Com intuitos meramente profissionais. Orgulho virginal.

O talento cultiva-se. Com amor, obviamente. Não há outra forma. Educa-se com paciência. A que não tem fim. E que origina a realização.

Transformismo. Um trabalho que merece todos os créditos apreciativos. Uma forma de estar na vida. E de ser vida. A formula para a felicidade. Como um acto sexual consolidado.

A tradição apela à urgência. O exceder de geração em geração. É Iminente manter erguida a chama do transformismo. Sem deixar escapar que é uma tarefa que exige o poder da alma. O império da representação. A soberania calculada da preparação física. E psíquica. A humanidade de corpo inteiro. O esforço indemnizado. Ser transformista é sentir o olhar coberto de brilho. É abraçar os aplausos. A demonstração entusiástica de louvor. Em suma; o oxigénio necessário. O trabalho atraído. Traduz-se numa viagem sem ignorâncias morais. Enchida de adornos coloridos. Preenchida de lantejoulas. Divas de faca e garfo. Umas de olhar triste. Outras nem por isso.

Mas, e por falar em sorte ou boa ventura, nada melhor do que referir um espaço bastante contemplado por todos os lisboetas e não só; Finalmente Club.

Erguido em mil novecentos e setenta e seis. O ano de Aline Barros. O ano da morte de Agatha Christie. Adiante. Um espaço de menção. Mais de trinta e cinco milhões de clientes efectivos. E amigos não desiludidos. Uma residência que dia após dia garante uma fonte de energia e boa disposição. Suores que deambulam. De um lado para o outro. Bebidas que provam as mais quentes noites de verão. Beijos que se abraçam madrugada adentro. Cigarros esmagados pela dança electrizante. Um espaço moído de caráter prazenteiro. Fresco. De rosto lavado. E renovado. Segundo a segundo. A aptidão de melhor servir. A destreza de fazer diferente. E marcar pontos. Como o Ronaldo.

Disposto no Príncipe Real. Um clássico do género homossexual. E não só. Causado por todo o tipo de gentes. De encontro a uma panóplia de exímios profissionais. O Finalmente Club. Os residentes habituais. A carismática Samantha Rox. Com mais de vinte e cinco anos de carreira. A artista que pinta a vida de flores. E encanta. A irrepreensível  Jenny Larrue. Detentora de um corpo invejável. A pérola negra do momento. A Golden Gate Bridge, São Francisco. Sem esquecer a consolidada Deborah Krystall. A qualificada apresentadora dos imponentes espectáculos realizados no espaço. A mulher que veste a cor do escândalo. No bom sentido, claramente. E ainda Nyma Charles. Polémica. Irreverente. E mais uma centena de adjectivos convidativos.

O sucesso é o melhor amigo da persistência. E o maior inimigo da desistência. A lealdade é a chave para o conhecimento do bem. Tal como os artistas mencionados. Entre outros. O êxito torna as pessoas moderadas. Sem grandes alaridos. E sobressaem. O sucesso, aqui, não tem espaço para o fracasso. Finalmente.