A Incerteza do último ano do Curso Universitário

“Não sou nada.

Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada.

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.”

                 Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa)

 

Caro leitor, chegamos aqui e acabo de lhe citar Fernando Pessoa. O autor da “dor de pensar”. O autor que nos dizia, “põe quanto és no mínimo que fazes”. O autor que nos disse: “Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto. De resto, com que posso contar comigo? Uma acuidade horrível das sensações, e a compreensão profunda de estar sentindo uma inteligência aguda para me destruir, e um poder de sonho…”.

Se na minha última escrita, para vós, inseri ‘a chegada‘ (de um estudante a Lisboa), agora quero-lhe falar da reta final. E a reta final é, nada mais, nada menos, do que o último ano do curso: aquele que nos dirá que um ciclo está a terminar (não lhe falo em ciclo de estudos, sendo esse o 1º, falo sim de um ciclo da nossa vida ao qual nos propusemos).

Neste momento, estamos ainda no início do nosso último ano, se o caro leitor for finalista, ou for familiar de um, mas a verdade é que agimos, inconscientemente, como um ‘eu’ de “tenho em mim todos os sonhos do mundo”. Temos, e temos mesmo! Queremos tudo, ou não queremos nada; sabemos tudo, ou abundamos na incerteza. Contudo, a verdade é só uma: somos sonhadores natos!

Enquanto tivermos a capacidade de sonhar queremos sempre ver o alto do pedestal, que é como quem diz: idealizamos sempre ter o nosso melhor futuro, não é verdade?

Então, agora, faço-lhe uma pergunta retórica, caro leitor: O que é isso do melhor futuro? É algo universal e igual para todos? Não, pois não? E haverá mal nisso?

Neste ponto, quero começar a falar para toda a sociedade. Aquela sociedade que me lerá e se identificará com tudo; aquela sociedade que lê e apenas acha interessante; aquela sociedade que lê porque o título é óbvio e se auto-pergunta “Quem será a redatora? Será que é finalista?”; e, principalmente, para a sociedade das interrogações. – E aqui somos todos.

É verdade! Apesar de estarmos ainda muito no início já existe a pergunta-tipo: Que mestrado vais seguir? É natural que vejamos no outro um ‘futuro brilhante’ e queiramos sempre aquilo que consideramos ser o melhor. Contudo, neste ponto entra a minha interrogação: Pondo de lado o ‘egoísmo’ daquilo que consideramos ser o melhor para o outro, a pergunta não estará errada? Não seria mais correto perguntar: E o que queres fazer no futuro/a seguir a terminares o curso? Aí podemos incluir a meritória prossecução de estudos em mestrado (dentro ou fora da área, conforme os próprios objetivos), ou até seguir outros caminhos sem ser esse. A questão é que a pergunta tem de ser abrangente o suficiente para não confinar a resposta a uma única saída porque não há uma única saída.

Se a sociedade, em geral, pressiona, muitas vezes a maior pressão está no seio familiar e aqui há uma complexidade emergente: não se trata de uma pessoa qualquer, são pontos de referência para nós e, nesse sentido, o peso é maior na nossa decisão final, uma vez que consideramos serem pessoas que também sabem ‘o que é melhor para nós’.

Caro leitor, se for pai/mãe de um aluno finalista, o que dirá se o seu filho lhe disser que não quer fazer mestrado? Inconscientemente surge a pergunta: “E ficas só com uma licenciatura?” Ou por outra, se um filho seu lhe disser que quer fazer mestrado, sim, mas fora da área da licenciatura, surgirá a pergunta: “Isso faz algum sentido?” – Não é verdade, caro leitor?

As questões basilares são simples: Trata-se do próprio futuro e quem haverá de melhor do que a própria pessoa para decidir sobre si mesmo? O que haverá de mais certo do que um dia fazermos aquilo que realmente nos faz felizes?

Mas não temos que ser já donos de uma certeza imutável. Ainda há tempo! Por isso, façamos o que melhor sabemos e a mais não seremos obrigados!

E vivamos um dia de cada vez. Ou como diria Fernando Pessoa: carpe diem.