A indústria do wrestling e a Wrestlemania XXX

No passado Domingo, dia 6 de Abril, aconteceu um evento esperado, com ansiedade, por milhões de pessoas em todo o mundo. Não, não foi a final da Liga dos Campeões. E é impossível que tenha sido a Superbowl dado que a mesma aconteceu meses antes. O evento que arrebatou corações de todas as nacionalidades foi a Wresltemania XXX! Só não adivinhou quem não leu o título antes de se atirar de cabeça neste texto, obviamente. Sim, o “Desnecessariamente Complicado” vai falar sobre wrestling!

Vamos desde já à “vaca fria”, que é como quem diz, à pergunta que mais vezes fazem as pessoas que não gostam (nem vêem) wrestling: “Mas vocês sabem que aquilo é tudo a fingir não sabem?” Sim, sabemos. As únicas pessoas que não sabem até que ponto o wrestling é verdadeiro ou falso são as crianças e os pré-adolescentes porque todos os outros têm plena consciência do que estão a ver. Nenhum de nós, fãs de wrestling, está a ver a RAW ou a Smackdown, ou neste caso a Wrestlemania, por acaso. Sabemos o que estamos a ver, e fazemo-lo porque queremos. Porque gostamos de wrestling. Porque amamos esta indústria. E porque o wrestling é parte da nossa vida. E mesmo que tudo seja escrito, treinado e combinado antes de subirem a ringue duas coisas são bem reais: as capacidades atléticas dos lutadores e as lesões que os mesmos sofrem!

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E para quem não está por dentro desta indústria digamos que a Wrestlemania é o maior evento do ano. É um evento tão grandioso e épico que mesmo quem não gosta de wrestling vê. Porque sabem que algo de espectacular e inesquecível vai acontecer. Arrisco mesmo dizer que até o mais alienado dos seres humanos sabe quem é o John Cena, o Undertaker, o Triple H, o The Rock, o Stone Cold Steve Austin, ou na pior das hipóteses aquele que é indiscutivelmente o maior ícone de sempre desta indústria: Hulk Hogan. Sendo que para este reconhecimento global também contribuiu o facto de todos eles terem protagonizado filmes e reality shows de indiscutível grandeza.

Este ano o Mercede Benz Superdrome, em Nova Orleães, teve o prazer de receber a trigésima edição da Wrestlemania. E perante 75 mil pessoas aconteceu história. E este é o ponto do texto que não vai querer ultrapassar se for fã de wrestling e não quiser saber os resultados antecipadamente.

Eram vinte e duas horas em Portugal e já eu estava em frente ao meu computador para ver em directo (via internet, tal como a esmagadora maioria dos fãs do nosso país, e não só obviamente) o pre-show da Wrestlemania. No fundo é o espectáculo antes do espectáculo. Entrevistas, previsões e vídeos que antecipavam os combates que marcariam a noite ocuparam o centro das atenções durante duas horas.

Começa finalmente a Wrestlemania 30. É lançado o fogo de artifício e uma arena a rebentar pelas costuras grita de emoção quando Hulk Hogan é anunciado e a sua música toca em pano de fundo. A lenda desce a rampa, sobe a palco e nesta altura já todo eu sou alegria e emoção. Hogan diz umas palavras até que…é interrompido pela música de Stone Cold Steve Austin. Outra lenda e outro dos meus heróis de sempre estava ali. Ele desce até ao ringue e tem a plena noção de que tem 75 mil pessoas na palma da sua mão. Sinto-me com dez anos novamente. Os meus olhos humedecem e eu grito (baixinho) as frases de Steve Austin como se estivesse na arena. E neste ponto ninguém esperava mais surpresas. Mas a WWE dá-nos sempre a volta e quando damos por isso toca a música do The Rock e todos estamos em delírio e de boca aberta, tal era o nosso estado de choque. Ainda a noite tinha começado e já valia a pena estar a assistir à Wrestlemania 30.

Neste segmento não ouve porrada. Não houve nenhum combate. Houve respeito dos três intervenientes uns pelos outros. Houve bom humor e risos como poucas vezes acontece entre lendas deste tamanho. História foi escrita graças a este início. Três dos maiores lutadores de sempre da WWE deram uma lição a muitos lutadores ao tornar este num momento memorável sem sequer haver um combate.

Passando parte do evento em frente, e indo directamente ao que realmente interessa, havia um combate muito especial no evento. De um lado The Undertaker. Do outro Brock Lesnar. Em jogo estava a streak do primeiro. The Undertaker tinha um registo de vinte e uma vitórias e zero derrotas em Wrestlemanias até à edição deste ano. E se o “Taker” está longe da sua juventude e pujança física o mesmo não se aplica a Brock Lesnar, muito pelo contrário. Todos nós sabíamos que o “morto” venceria. Era impossível perder aliás. Queríamos era ver como é que ele lhe ia ganhar. E já agora tentar perceber se existia alguma hipótese de voltar a combater para o ano.

E qual não é o nosso espanto quando do nada, Brock Lesnar aplica um F5 e o árbitro conta: um….dois…três. O combate termina e Brock Lesnar é o vencedor. O meu coração palpita cada vez mais, chegando a bater a uma velocidade muito superior aquela para o qual foi criado. A boca abriu-se novamente de espanto. As mãos ficaram plantadas na cabeça em sinal de incredibilidade. Nunca esperei viver tempo suficiente para ver o Undertaker, um dos meus ídolos no wrestling profissional, ser derrotado na Wrestlemania. Muito menos para o Brock Lesnar. Do ponto de vista físico faz sentido, contudo tudo o resto desaconselhava a tal desfecho. Parte da minha infância e adolescência perderam-se quando a mão do árbitro tocou no ringue pela terceira vez. Chorei de emoção enquanto aquele monstro sagrado do wrestling abandonava a arena por saber que muito provavelmente aquele foi o seu último combate.

Undertaker loses at WrestleMania XXX

Recuando umas horas no evento nota de destaque para outro combate: Triple H vs Daniel Bryan. O patrão contra o empregado. Um dos maiores de sempre contra o futuro da empresa. O odiado por todos contra o actual ídolo dos fãs por todo o mundo. Num combate de média duração Daniel Bryan conseguiu vencer Triple H garantindo assim um lugar no combate do título que fecharia o evento. E até aqui tudo bem, mas depois da derrota do Undertaker (que ninguém, nem mesmo a mãe do Brock Lesnar, esperaria) nenhum de nós se atreveria a fazer previsões.

Largos minutos, porrada até mais não, e uma quase saída de maca da arena depois chegou o final que tanto ansiávamos. Daniel Bryan venceu o combate e sagrou-se campeão de forma épica. Este é um final que será lembrado durante muitos e bons anos, mas o destaque da edição de 2014 da Wrestlemania será para sempre a derrota de Undertaker.

Qual a conclusão de tudo isto? Deitei-me já passava das quatro horas da madrugada, tal como faço uma vez por semana. Estive durante horas colado ao ecrã do computador para ver em directo algo que estava a acontecer do outro lado do mundo. Chorei e emocionei-me como uma criança. Mas apesar de nem todos os resultados terem sido como eu esperava, deitei-me feliz. Porque amo esta indústria. Porque vejo combater muitos daqueles lutadores há vinte anos, quase tantos como tenho de vida. Porque parte de mim não consegue viver sem a WWE. Podem criticar o wrestling o quanto quiserem que não verei menos combates por causa disso. Continuarei a rir, chorar, gritar e esbracejar tanto quanto me apetecer. E acredito que todos os leitores que partilham desta minha paixão dirão o mesmo.

Boa semana.
Boas leituras.

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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