Inquietude

O mundo esperava-o. Ele não sabia o que fazer, mas sabia o que tinha a fazer. Sono, esse já não o tinha como amigo próximo há muito tempo, mas sim como um ente distante que a memória já não alcançava. Na cama as horas passavam, na cama os momentos eram revividos, na cama tudo era mais intenso.

Num turbilhão de emoções ao silêncio, ele se levantou e tudo acalmou. Por meros e breves momentos, porque ao deitar-se tudo começou novamente. “Mas porque é que eu fiz isto? Que consequências advieram desse momento? Que raio fiz eu? Como posso continuar a viver?” Como posso me levantar para um novo dia sabendo o que sei e fiz? Não posso, não irei, não farei. Vou simplesmente dormir o dia todo, passar o resto da minha vida nestes lençóis inquietos, e ser só aquilo que nunca sonhei. Assim, não mais terei que encarar aquilo que foi minha acção no dia que agora finda. Assim, não mais me envergonharei. Assim, não terei que dizer olá ao meu erro.

Mas para quê? Eu sei que o meu erro está lá fora, como encontrarei eu paz sobre esta cama?

Lá fora, a noite despede-se, o dia começa, e eu levanto-me sem pregar olho. Era hora de encarar aquilo que tinha feito. E lá estava ele, a sorrir, de mim, sem dúvida, com outros a partilhar, por certo, o meu erro. Que iria ele dizer-me quando por mim passasse, iria gritar ao mundo a minha patetice, ou talvez, quiçá, informar-me que não mais trabalhava ali, atingi a quota máxima de estupidez.

A tremer avancei, fosse o que fosse que ele me dissesse, eu iria abalroá-lo, iria matá-lo, iria fazer de tudo para não deixar que ele gozasse com a minha cara, não iria deixá-lo despedir-me, iria eu mesmo despedir-me, eu mesmo amassar-lhe a cara, eu mesmo… opss… já passou por mim.