Inspector Max – O Estranho Caso da Eterna Repetição

Então e essas contas no Panamá como é que estão? O quê? Vocês ainda não têm uma conta num paraíso fiscal? E conseguem dormir de noite sabendo que são as únicas pessoas em Portugal (e quiçá na Europa!) que não estão a esconder os seus rendimentos e a fugir ao fisco? Vá, vejam lá isso, porque vocês não vão querer ficar fora desta moda! Bom, mas falando do que realmente interessa…então e o Inspector Max. que ainda passa na TVI 12 anos após ter sido filmado? Ah pois é meus amigos, já passaram doze anos! Sim, finalmente chegou a semana em que o “Desnecessariamente Complicado” se debruça apenas e só sobre o mais estranho caso da televisão nacional: a eterna repetição do Inspector Max!

A primeira questão a colocar é desde logo: “por onde devemos começar?”. É que este é um tema tão, mas tão rico que poderíamos levar anos a discuti-lo na sua plenitude. Contudo, ao contrário da TVI, não temos a intenção de o fazer. Como tal comecemos por explicar o conceito da série. Basicamente o verdadeiro protagonista é um cão, chamado “Max”, encontrado pelos dois filhos do inspector Jorge Mendes (interpretado pelo fantástico Fernando Luís). Jorge é um homem solitário, cuja mulher morreu quando os filhos ainda eram pequenos, num despiste de automóvel, causado precisamente por um cão que se atravessou na estrada. Ao longo dos episódios vamos acompanhando a vida pessoal e profissional de Jorge, sempre com especial destaque para o papel de Max (piscando sempre levemente o olho às temáticas do amor, como é óbvio!).

Passaram tantos anos que este petiz se tornou num homem!
Passaram tantos anos que este petiz se tornou num homem!

Segunda parte? Os actores. É que, por pior que seja a vossa opinião, em relação a Inspector Max é impossível negar a qualidade dos actores envolvidos. Fernando Luís não sabe representar mal. Ruy de Carvalho tem sempre uma prestação a roçar a excelência. E Manuela Cassola teve nesta sua “Justina” muito provavelmente o papel de maior destaque em toda a sua longa carreira (o que não deixa de ser profundamente injusto, mas isso são outros “quinhentos”). E este é precisamente um dos segredos desta série: a mistura de actores muito jovens e inexperientes com autênticas lendas da representação em Portugal. Isto faz com que, por muito má que seja uma interpretação, isso se varra automaticamente da nossa mente no segundo em que Ruy de Carvalho entra em cena. E sim, isto é um elogio sincero. Esta arte pode parecer básica mas, na realidade, para ser eficaz tem de ser exemplarmente aplicada. E lá eficaz é ela, senão o Inspector Max não passava na TVI 12 anos após ter estreado!

Existe um outro ponto que tem de ser mencionado: os actores convidados. Sim, porque em muitos dos episódios tínhamos personagens desconhecidas, que apareciam e desapareciam naquele mesmo episódio. E se em qualquer outra série isto seria demasiado confuso para acompanharmos, em Inspector Max isso nunca foi um problema. Porquê? Porque sendo uma série policial permite que cada episódio seja composto por um novo caso (numa fórmula levada à exaustão em boa parte das séries que existem actualmente). Logo, com cada novo caso vinham personagens novas. E entre os ilustres convidados estiveram, por exemplo: Irene Cruz, Miguel Guilherme, João de Carvalho, Miguel Damião, Ana Bustorff, José Pedro Vasconcelos, João Didelet, Ana Zanatti, Pedro Lima, Lídia Franco, Rui Mendes, Rosa Lobato Faria, Pedro Laginha, São José Lapa, Nuno Melo, João Lagarto, Joaquim Horta, Vítor Espadinha, Helena Isabel, Albano Jerónimo, Delfina Cruz, Inês Castelo Branco, Artur Agostinho, Patrícia Bull, Bruno Simões, Fernanda Serrano, Alexandra Lencastre ou mesmo Daniela Ruah (que hoje brilha na televisão norte-americana). E atenção, os nomes acima mencionados são apenas uma pequena amostra da lista completa!

“Mas como é possível que a série tenha tido tantos actores convidados?”. É simples: tendo 104 episódios (distribuídos por duas temporadas, entenda-se). Este sistema permitiu não só ajudar na estratégia anteriormente revelada mas também para que os espectadores nunca se cansassem verdadeiramente deste formato.

“A mim ninguém me tira da cabeça que isto é uma versão portuguesa do Rex”. Primeiro: só o facto de fazer essa referência faz com que goste de si! Sabe porquê? Porque só um filho dos anos 80/90 é que poderia saber quem era o Rex! E todos sabemos o quão superiores são os indivíduos dessas décadas, certo? Bom, brincadeiras aparte, as influências estão claramente lá caro leitor, isso todos nós percebemos, mas o Inspector Max teve a ousadia de deixar a realidade portuguesa influenciar os seus crimes/casos. E isso foi fundamental não só para se diferenciar do Rex mas também para que o público se interligasse mais rapidamente (e de forma mais forte) à série.

Incrível como a Sara Butler está igualzinha, não é?
Incrível como a Sara Butler está igualzinha, não é?

Mas vamos à “vaca fria”….”porque carga de água é que a TVI repete exactamente a mesma série há 12 anos praticamente ininterruptos?”. Infelizmente ninguém sabe a resposta para esta questão. Acredito inclusivamente que nem os próprios executivos da estação saibam responder a esta indagação. Esta eterna repetição tornou-se no caso mais estranho da televisão nacional. Primeiro porque nos dias de hoje é raro um programa/concurso/série estar no ar durante tantos anos (terminou recentemente uma boa excepção a essa regra…”Bem-vindos a Beirais”, da RTP1). Segundo porque mesmo que o formato continue isso significa novos episódios/concorrentes e nunca a repetição do que já foi para o ar.

É rara a manhã de fim-de-semana em que não dou por mim vidrado no televisor, colado ao Inspector Max. E não, não é por ser fã do Max ou dos seus feitos. É, isso sim, pelo poder hipnotizador que a série tem sobre mim. Não sei como, ou porquê, mas sempre que a meio do zapping passo pela TVI é certinho que fico ali uns bons minutos. O que não deixa de ser profundamente desnecessário (uma vez que já visionei todos os episódios pelo menos umas dez vezes). “Sendo assim o que é que te mantém pregado ao Inspector Max?”. Pois, isso gostava eu de saber! Infelizmente esse motivo é um completo mistério para mim.

Se algum dia Portugal tiver que interrogar terroristas ou grandes mestres do crime aposto que só consegue arrancar uma confissão se os colocar a ver o Inspector Max de forma ininterrupta durante uma semana. Vão ver como eles falam num instante! Nem pensam duas vezes!

Voltando um pouco atrás…passados tantos anos a única explicação que encontro é que a série tem alguma mensagem codificada de Belzebu. Eu sei que por esta altura vocês se estão a rir, mas o que é certo é que vos acontece o mesmo todas as semanas, não é verdade? Ou julgam que eu não sei que também ficam pregados à televisão a ver o destemido cão polícia? Ah pois é meus amigos, eu sei tudo! Até porque se ninguém visse a série ela de certeza que já não estava no ar!

Falando um pouco mais a sério: a eterna repetição de Inspector Max apenas encontra paralelo em “Dragon Ball Z”, que há quase vinte anos passa ininterruptamente na SIC Radical. A grande diferença é a fama e a base de fãs de ambas as séries, obviamente (os produtos estão mesmo em cantos opostos no que à fama diz respeito).

Até quando vai a TVI castigar-nos com esta programação desleixada e sem qualquer atenção para com os gostos dos seus espectadores? Ou a administração do canal acha mesmo que todos adoramos o Inspector Max? Estaremos nós condenados a eternas repetições de Inspector Max, a telenovelas e a reality shows com muito pouca inteligência? Bom, uma coisa parece certa: ainda deve estar muito longe o dia em que terminará de vez esta série para termos de novo direito a uma programação condigna com o nosso QI.

E sim, eu tenho consciência de que a opção é a transmissão de desenhos animados sem classe e sem graça. Mas prefiro essa alternativa a ver mais um episódio do Inspector Max! Para mim fazíamos já uma petição a requerer o fim das transmissões da série, o que acham? Boa, vamos a isso!

O quê? Começou mais um episódio em que o Max salva tudo e todos a segundos de se instalar o caos? Meu Deus, temos de ir ver! A petição fica para depois, ok? Ah, já agora: fazem-me um favor? Apagam as luzes deste meu estaminé quando saírem? Epah, vocês são mesmo leitores de primeira água (nunca entendi esta expressão, admito, mas adoro-a)! Assim é que se vê o quão fraquinhos são os leitores da restante internet!

Boa semana!
Boas leituras!