Instrumentos imaginários – Bruno Neves

Eu já aqui admiti que sou viciado em música e que dia que passe em que não oiça música, não é dia. Aliás eu gosto tanto de música que sou locutor de rádio. É certo que os programas de rádio são compostos por mais do que música, contudo ela desempenha um papel fundamental!

Mas os verdadeiros amantes de música gostam não só de a ouvir mas também de a fazer, ou seja, de tocar instrumentos musicais. Nem todos tocam um instrumento musical, logo muito boa gente utiliza aquilo que tem mais à mão. E o que está mais à mão pode ser uma mesa, uma cadeira ou mesmo o próprio corpo.

Não estejam já a levar a conversa para a malandrice, seus doidos! Eu sofro deste vicio, aqui me confesso. Não raras vezes, enquanto escuto um solo épico de um guitarrista (seja qual for) dou por mim a fazer uso da minha guitarra imaginária (ou como se diz em estrangeiro: “air guitar”). E quem diz solo épico de guitarra diz um solo de bateria obviamente! Quase todas as músicas (mesmo as mais calmas) são apelativas para puxar do instrumento imaginário.

Agora certamente que já anteviram as consequências destes actos. Por um lado está o facto de poder ser barulhento (sim, porque cada um tem o seu estilo). Por outro lado estão as figurinhas deprimentes que fazemos. Na nossa mente, quando fechamos os olhos e começamos a tocar a nossa “air guitar” estamos sempre perfeitos. Perfeitos e sempre exactamente iguais ao original, naturalmente! Na verdade estamos simplesmente a fazer figuras tristes com uma guitarra que nem sequer real é! O ponto mais positivo é que é totalmente gratuito e se não pertencermos ao grupo dos barulhentos até o podemos fazer em quase todas as situações!

É certo que em nossa casa fazemos o que bem entendemos. E entre os nossos familiares e amigos somos capazes de fazer qualquer coisa em o mínimo problema. Agora, e perante completos estranhos? “Ah, mas em que situação pode isso acontecer?” Só o facto de terem feito essa pergunta revela já que ou não são verdadeiros amantes de música ou não utilizam os transportes públicos.

São absolutamente deprimentes as figuras que muito boa gente faz nos transportes públicos (incluindo eu, aqui me confesso). É incontável o número de vezes que na minha mente eu já “actuei” nos transportes públicos lisboetas. Incontáveis são também as figuras tristes que eu já fiz pela capital fora. Certamente que para muitos transeuntes eu passei por um louco, foragido de algum hospital psiquiátrico. Contudo, este é um pequeno preço a pagar para ser um verdadeiro amante de música e por mim tudo bem.

Boa semana, oiçam muita música e dêem uso ás vossas air guitars, ok?
Pronto, fica prometido então. Mas é para cumprirem a vossa promessa que eu não me vou esquecer!

Boa semana e boas leituras!


Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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