InsultOlimpíadas – Carla Vieira

“Quanto mais me insultas mais gosto de ti.”

Bem, esta frase não é assim tão verdade. Ninguém gosta de ser insultado, porque os insultos são geralmente coisas más e fanhosas que têm o único propósito de rebaixarem o objecto de insulto. Além desde óbvio desempenho, os insultos são usados também no debate (onde não pertencem) como forma de desvalorizar o oponente.

Como esses são usados por pessoas que me fazem rir, é deles que vou falar esta semana; porque posso, porque me apetece, e porque vocês merecem as luzes da ribalta que vos vou fazer transpor sempre que me insultam. Sim caros, porque neste projecto eu posso falar daquilo que me apetecer, hoje vou falar dos que aqui comentam apenas com o intuito de me insultarem (e aos outros cronistas também, mas foquemo-nos em mim se faz favor).

Eu acho que aqui toda a gente é crescida o suficiente para tomar consciência de que este projecto não funciona como uma colmeia; ou seja, os cronistas não são uma mente única. Todos nós temos as nossas ideias e a nossa visão do mundo, e mais do que uma vez é visto que podemos ter opiniões extremamente opostas. Isto é bom, em teoria. Como tal, e sendo parte integrante daqui do sítio, sinto-me no direito de opinar, tal como toda a gente pode fazer, quando não concordo com uma crónica qualquer. Nunca ninguém me disse que não o podia fazer, por isso exerço o meu direito sempre que acho pertinente abrir a boca. Não me vêem a comentar em todas as crónicas porque não sou o tipo de pessoa que gosta de comentar “Concordo!” sempre que assim penso. Acho incomodativo. Ou concordo e não comento, ou então não sinto nenhuma necessidade de comentar o que leio, o que acontece 90% das vezes. De vez em quando lá leio alguma coisa e penso “eh lá, isto não está nada bem, deixa-me comentar”…

E gente. Vocês atiram-se a mim que é uma coisa doida. Já ouviram a expressão “trinta cães a um osso”? É tipo isso só que com insultos. Como já coleccionei alguns e até lhes acho aquela tal piada que falei ali nos parágrafos acima, decidi partilhar algumas frases sábias com vocês, para quando me tentarem insultar no futuro, deixem de me fazer ri e talvez, sei lá, até me insultem mesmo ao ponto de me sentir ligeiramente ofendida. Portanto, comecemos.

Primeiro, tenho que dizer que de cada vez que levo com insultos neste sítio, parece-me que vêm sempre de familiares ou amigos dos cronistas do artigo que eu não concordei lá muito. A experiência dita que os autores até se defendem bem, mas o clube de fãs escorrega como um porco besuntado em manteiga e até tropeçam com a pressa de desvalorizarem o que eu disse de uma forma ou de outra. É pena, mas não há muito a fazer. Quem gosta vai sempre defender, tipo ceguinhos a baterem com as bengalas em tudo o que é sítio na esperança vã de saberem para onde estão a ir.

No que toca aos comentários em si, já os vi de várias maneiras: pessoas que dizem que eu sou má pessoa, que não sou bem-educada, que sou burra, que escrevo mal, patati patatá.

Má pessoa? Olhem, não. Pura e simplesmente, detesto ser eu quem vos diz isto mas sou até uma boa pessoa. Um bocado cabra, talvez. Aliás, sou mesmo. Mas má pessoa não. Sinceramente, quando penso em más pessoas penso nos que roubam, violam, matam, empurram as velhinhas para o meio da rua quando o semáforo está vermelho. Isso sim, criaturinhas, são más pessoas. Eu passo ao lado desse tipo de gente, folgo em dizer. Pode haver gente aí que acha que discordar de alguém até faz de mim um monstro, mas aí não sei que vos diga, acho que são vocês que estão de mal com a vida.

Falando em estar de mal com a vida, também já me disseram isso nestes cantos. Isso realmente percebo. 99% das crónicas que aqui estão que são da minha autoria são críticas a várias e múltiplas coisas. Pois são. Mas digam-me lá, teriam interesse algum no que eu tenho a dizer se falasse sempre em florzinhas e póneis semana-sim semana-sim? Não acho que tal coisa apele a ninguém, muito menos a mim. E como sou eu que decido sobre o que vou escrever e não vejo ninguém a fazer o favor de me dizer para escrever sobre tal assunto, então crianças, vocês têm todos bom remédio: parem de ler aquilo que eu escrevo. Parem. Fechem o site, desliguem o computador e vão dar uma volta.

Fácil, eu sei. Agora já não têm razão para falar mal daquilo que eu faço com a minha vidinha.


Passando à frente dos insultos à minha inteligência (porque não vou fazer o favor de me provar a ninguém nem tal tenho que fazer), passemos então ao último comentário indirectamente dirigido à minha pessoa, acerca, estranhamente, do meu currículo. Oh gente, eu percebo que de vez em quando diga qualquer coisa que vos ofenda – coitadinhos – e por isso me queiram ofender de volta, mas o meu currículo? O que raio é que a minha experiência e local de trabalho tem a ver com qualquer debate em questão? Não entendo quem tem a necessidade de puxar esse assunto como material de ofensa. Daqui a nada vou ver alguém a comentar “não lhe ligues, ela é feia” e aí é que vai ser. Vou bater palmas a quem tiver esse tipo de triste criatividade, porque uau.

Acerca, finalmente, de escrever mal… Bem, não sei se já repararam, mas sou eu que tenho este trabalho e não vocês, e não só, falho em ver erros gramaticais ou ortográficos em algum dos meus escritos. Isso diz tudo.

E vocês podem pensar “oh burra, mas se achas isso tudo tão indigno, porque não responderes a essa/s pessoa/s em vez de fazeres uma crónica compilada e meteres tudo no mesmo saco?”, e eu digo… Pá, não me lembrei de mais assunto nenhum.

O que me lembro (e para finalizar) é o seguinte: aqui toda a gente tem direito à sua opinião. Boa, má, extremista, conformista, o que queiram. Eu – e todos os outros cronistas – tenho o direito à opinião não só como escritora mas também como leitora, o que significa que sim, às vezes não concordo, e sempre que não concordar e achar pertinente, vou falar sobre isso. Num mundo quase-perfeito, ninguém se acharia no direito de me insultar só porque não lambi as botas do cronista em questão, seja ele qual for. Mas este não é um mundo quase-perfeito; é um mundo deveras imperfeito, e por isso vou continuar a levar com indirectas tal como todos os outros. Apenas tenho a dizer que vou continuar a não responder a tais insultos, mas não se incomodem. Volta e meia acreditem que sejam vocês quem forem, as vossas patéticas tentativas de me rebaixarem fizeram-me rir, e sim, até me levantaram o ego.

A “liberdade de expressão” dá nisto, e ninguém gosta mais deste tipo de liberdade do que eu.

Crónica de Carla Vieira
Foco de Lente