Introdução reflexiva ao Mini-ciclo de Crónicas poéticas: Poema I – “Não mendigues por Amor”

Para introduzir este mini-ciclo de crónicas a que chamo “poéticas”, neste mês que agora se inicia, Agosto, escrvo pois que uma das razões que me fez lembrar de o fazer foi precisamente a característica do mês em causa nos países da Europa, e concretamente em Portugal.

Entrámos num mês, por excelência, de férias; mesmo quem está a trabalhar olha as ruas mais vazias na “hora de ponta” das grandes cidades, trânsito diminuto, espaços habituais fechados e espaços turísticos abertos e cheios de gente…
Com o tempo mais quente e os dias ainda longos, “apetece” desligar um pouco e veranear…
Ler poesia é uma forma leve de dar asas ao pensamento, ao sentimento, e permitir a leveza própria da época…
É isto que se pretende com este mini-ciclo de poesia, ou algo que se lhe assemelhe, que ouso criar e convosco partilhar.

A Poesia em Portugal tem um enorme tradição, transversal a muitas gerações, ao género, às faixas etárias, aos estratos sócio-económicos e culturais…Uma tradição que no entanto não é confirmada pela leitura de poesia no geral, pela compra de livros de poesia ou acessos aos mesmos, se por comparação a outros géneros literários.

Neste sentido, e desde já fazendo a minha declaração de interesses porque foi publicado no dia 16 do mês passado o meu livrinho de Poesia “Sonhando Os Cinco Elementos” pela Chiado Editora, e portanto obviamente que gosto muito de Poesia, lembrei-me de fazer um mini-ciclo de crónicas poéticas, como lhe chamo, durante este mês, onde os temas e o mote para reflexão são dados através do poema, com maior ou menor qualidade literária, mas, espero eu, com a qualidade suficiente para chegar a cada pessoa que o lê, fazer eco dentro dela e lançar a reflexão e o encontro consigo mesmo…

Muitos estudos têm provado de que a poesia e a literatura em geral, produzem um maior efeito de ajuda terapêutica do que os designados “livros de auto-ajuda”. Estes, maioritariamente sob a forma de “literatura light“, como lhe chamo, e percorrendo, ainda que superficialmente, as mais diversas escolas ou filosofias de vida, mais sob a forma dos “chavões” que as caracterizam do que em profundidade, são obviamente positivos para quem com eles se identifica e os gosta de ler, e muito importantes em alguns momentos da vida das pessoas.
No entanto frequentemente não incentivam ao livre pensamento e ao livre sentimento, em que nos encontramos connosco mesmos na exacta medida do que somos e do que queremos para nós e nos faz sentido, privilegiando uma espécie de “caminho guiado” em que existem uma série de passos a ser dados, exemplos a serem seguidos, no caminho que é o protagonizado pelo livro em si mesmo e a filosofia de vida que lhe é subjacente.

Bons serão, mas há evidências de que a literatura e sobretudo a poesia, tal como outras formas de arte, conseguem produzir uma verdadeira luz nos caminhos de quem ousa escutar-se a si mesmo e questionar-se ao longo da sua senda.

Posto isto,com o respeito que me é devido pelos livros de auto-ajuda, e saliente-se nada contra eles, antes pelo contrário, dou início a este mini-ciclo, hoje com o poema original intitulado: “Não Mendigues Por Amor”.

Grata a quem lê estas crónicas, votos de boas férias, ou boa pausa entre jornadas de trabalho, e sempre, sempre, boas leituras!

– POEMA I –
“Não Mendigues Por Amor”

Não mendigues por Amor,
Tu que amas sem cobrar,
Não peças o que alguns,
Jamais podem alcançar…
Não te contente a migalha,
Do pão que alguns crêem seu,
Não exijas, não o cobres,
Não o tomes como teu…
O Amor humano é livre,
Não cobra, não pede, não verga,
É um Amor humilde,
Mas não se humilha nem cega.

É um Amor verdadeiro,
De mãe, de pai, filha ou filho,
De homem ou de mulher,
De irmão, de irmã, de amigo,
De amiga, de alma pura,
Dá-se o que de melhor temos,
Mas não peças nada em troca,
Não trocamos o que demos…
O Amor livre que dás,
Te é dado sem que o peças,
Sem que mendigues por ele,
Sem que que dele te envaideças…

Não aceites as migalhas,
Ou o que sobrou para ti,
Aceita o que te dão em pleno,
Livre de qualquer condição…
E ama sempre que o sentes,
Sem que seja uma Prisão,
Sem celas e sem correntes,
Mas fiel em devoção…
O Amor só é Amor,
Se é livre de opressão,
Se é verdadeiro e sentido,
Sem medo e sem traição…

Aceita amor só real,
Aquele que te faz gente,
Aquele que te aceita e acolhe,
Aquele que se faz presente.
Amar é sempre voar…
Amar, se é livre, é um Dom,
Não se mendiga amor,
O Amor só tem um Tom…
Tons de lavanda fresca,
Cheiro a rosas perfumadas,
Não se vive sem Amor,
Amor veste asas douradas…

(Por Lúcia Reixa Silva, 1 de Agosto de 2016)