Investimento Público vs. Investimento Privado

Há dias tive um benéfico debate sobre investimento público e investimento privado. Benéfico porque foi um debate amigável, construtivo, daqueles em que cada qual apresenta as suas razões e opinião e ouve o outro, quer concorde ou não. Debates com pessoas assim, educadas, são sempre bem vindos e produtivos.

Recado dado, vamos à substância. Fará sentido o Estado suportar grande parte do investimento? Depende das áreas. Há áreas em que os privados não têm interesse em investir porque não lhes devolve rendimento. Mas dada a sua importância para a população, tem de ser o Estado a investir, para todos lucrarem. E diz o caríssimo leitor “todos, inclusive aquelas empresas que não se interessaram por investir?” Sim, também esses.

Por exemplo, há uma semana atrás, se não estou em erro, a RTP exibiu uma reportagem sobre o ramal ferroviário da Lousã. Cavaco Silva criou a Metro Mondego, que ficou na gaveta até que José Sócrates e Mário Lino decidiram avançar sob a forma de metro de superfície, à semelhança do Metro do Porto. Essa iniciativa do governo da altura fez subir a expectativa das populações dos concelhos de Coimbra, Miranda do Corvo e Lousã por um serviço de transporte eficiente. À semelhança do Porto ou Lisboa, onde muitos cidadãos que trabalham nessas cidades decidem morar nos concelhos vizinhos por terem sempre a rede de metro ou comboio, vários foram aqueles que decidiram que Miranda do Corvo ou a Lousã seriam bons locais para viver, assim que o Metro ligasse os dois concelhos à cidade dos estudantes. Mas o governo socialista começou as obras sem ter todo o financiamento assegurado e a obra parou a meio. Com o inicio das obras, as linhas percorridas pela conhecida automotora da Lousã foram arrancadas, pelo que agora nem metro, nem comboio. Resultado: investimento perdido para quem investiu naqueles concelhos em função da alternativa de transporte.

Nesta caso, a quem compete investir? Ao Estado. Nenhum privado vai querer terminar a obra. Provavelmente algum privado estaria interessado em explorar a rede (como no Porto), depois de o Estado criar a rede e fornecer o material circulante, mas só isso. E a obra é essencial para a economia destes concelhos. Sem ela, os dois concelhos caminham para a desertificação. Se não há capacidade de investimento para terminar o Metro Mondego, que reponham a linha do comboio e dêem uso às automotoras modernizadas que a CP (uma das accionistas da Metro Mondego) tem paradas, como a comunicação social tem noticiado. Com transporte ferroviário, as pessoas vão poder voltar a Miranda e à Lousã e, por conseguinte, o comércio nestes concelhos vai voltar aos lucros. Todos ficam a ganhar.

 

Crónica de João Cerveira