O jardim dos sentidos – Conto

Sentada no antigo e verde banco de jardim, um de muitos do Central Park, Sarah sentia o ar emanando o açucarado aroma primaveril, acompanhado do pequeno bailado dos ramos das árvores e das brandas palmas das jovens folhas.

De passo apressado ou a passeio, as pessoas cruzam o seu pacato caminho.

Aí vem um atleta, pensa para si mesma, ouvindo a passada cansada, a respiração ofegante de quem já leva uns quilómetros nas pernas e a música a zumbir-lhe nos ouvidos. Como conseguiam as pessoas apreciar o mundo que as rodeia com a música tão alta colada ao seu cérebro?

“Cuidado, Tommy! Vais cair!” Volta-se para o lado oposto. Avó e neto. Sorri. Como é bom sentir toda aquela liberdade refrescante de uma criança, cheia de sonhos, de aventuras e de sede de descobertas. O quão curiosas são. Sarah não se consegue recordar da última vez que se sentiu assim.

De passo leve, alguém senta-se ao seu lado, fazendo-a estremecer. Um ténue aroma a aftershave masculino invade o seu sentido, fazendo-a a sorrir. Acredita, que a seu lado, tem um homem bem apresentando, buscando, como ela, um pouco de sossego numa das suas pausas. Um jornal abre-se e ela ouve o folhear. Decerto que está cheio das misérias que invadem as notícias da actualidade: guerra, economia, presidenciais.

Pega o seu copo de café, outrora fumegante e toma mais um gole. Mesmo frio, aquece-lhe o âmago e apura-lhe os sentidos.

A cauda peluda de Jack bate nas suas pernas desnudadas, assustando-a. Hoje, pela primeira vez desde o último inverno rigoroso, escolheu sair à rua de saia. Jack continua com a sua cauda frenética, enquanto o desconhecido a seu lado vai balbuciando palavras. Esta incrível bola de pelo, a quem confia a sua vida, tem sido o seu fiel companheiro nos últimos 3 anos, desde que perdeu totalmente a sua visão. Uma expressão triste invade a sua cara.

“Vamos, Jack?” Questiona ao seu labrador bege que direciona a sua atenção para a dona, a quem responde com um latido. Agarrando o apoio que Jack tem sobre as suas costas, Sarah deixa-se guiar pelas pequenas ruas do Central Park.

“Posso fazer-vos companhia?” Ouve alguém perguntar, quando estavam já a sair do jardim. De novo aquele cheiro masculino absolutamente cativante.

De sorriso a pintar-lhe os lábios, Sarah acena. Como ela adorava sentir a sua cara agora. Estaria ele a sorrir? Teria barba? Teria rugas?

Juntos atravessam rua e fazem-se de novo à frenética cidade de Nova Iorque.

Fim.