Jogos de Infância – Pedro Nascimento

Quando era catraio havia uma máquina pré-histórica, estupenda, à qual chamávamos o computador de casa. Quando chovia ficava chato jogar à bola lá fora. Era impensável ir brincar nos canaviais, andar de bicicleta, ou, simplesmente, passear pela estrada de terra. Quedava-me a bater os dedos pelo teclado do Pentium, essa adorável criatura.

Tínhamos uma pilha de jogos instalados que se acediam através do <dir> do DOS. Os meus preferidos eram ArkanoidBlues Brothers, e Dangerous Dave.

Arkanoid, lançado em 1986, pela Taito, consistia em destruir um conglomerado de blocos coloridos com uma bola. Branca, tipo ping-pong, ia, e vinha, matematicamente; que a usávamos como arma para eliminar os obstáculos do nível – limpar o cenário sem que a deixássemos cair para o espaço infindo. De alguns dos blocos aniquilados caíam suplementos que faziam crescer ou decrescer a nossa nave, multiplicar as bolas em jogo, ou, acelerar a velocidade do projéctil. Um jogo divertido e engenhoso que fazia passar o tempo ao nível de um Tetris.

Blues Brothers, publicado em 1991, pela Titus Software, era sobre a banda homónima e a sua necessidade, imagine-se, de fugir à polícia para chegar a um concerto de blues. Saltar e saltitar, subir escadas e plataformas, pegar em caixas e atirá-las – o cerne da questão. Apanhar discos de vinil, como se fossem anéis do Sonic ou moedas do Mario, e encontrar um instrumento musical algures no nível – os objectivos nesta demanda musical. Duas ideias: 1. A banda sonora abusava; 2. O modo co-op era tão precário que era mais frustrante jogá-lo do que participar na merenda da tarde num lar de idosos – pão com manteiga e gelatina de ananás – onde a TV piscava o João Baião hiperactivo do Big Show Sic.

Dangerous Dave, de 1988, programado por John Romero para demonstrar as capacidades de um software que o mesmo tinha desenvolvido (GraBASIC), resultava num título de plataformas difícil de superar. De Dave sobressaía o seu chapéu vermelho. Tinha um salto comprido. Eventualmente, lá conseguíamos uma pistola para fazer frente aos monstros imprevisíveis, dentro do possível, e um propulsor a jacto para voarmos sobre os quadrados de mar – coisa absurda! – que pintavam o cenário pixelizado de ausência de lógica. Fogo, árvores, blocos de tijolo, anéis, troféus, e portas, eis os elementos que mais me lembro desta traquitana a que se pode chamar de videojogo. Não me lembro de ter chegado ao fim desta pérola. Ainda assim, Dangerous Dave é um dos poucos jogos até hoje que joguei repetidamente mesmo sabendo que a derrota era inevitável – havia sempre alguma circunstância em que o meu nervo, de infante, quebrava.

Mais uma edição de L2R2 X-Δ, para vocês!


Crónica de Pedro Nascimento
L2R2 X-Δ