Joínha, garina e mais uma ou outra preciosidade do léxico português

“Joínha, deixa-me ser o teu ourives!”. Pode derivar diretamente do latim, mas lançada ao ar à laia de isco, na boca de um trolha soa a um dos anseios mais apetecíveis por parte do homem. Vem do tempo em que habitava no interior das cavernas e nem quando viu pela primeira vez a luz do sol, foi capaz de distinguir e dar à mulher, uma importância maior do que atribuía aos objetos de uso diário que usava para o seu próprio conforto.

Este piropo ou graçola de mau-gosto, é, por conseguinte, muito antigo e, devendo ser oriundo da zona do ouro a norte do Douro, onde havia um castro anterior à fundação da futura aldeia da Póvoa do Lanhoso, pode causar na autoestima de uma mulher, uma abalo ainda mais devastador do que o sismo que originou há meses um tsunami no Japão.

“Garina, és boa com’ó milho!”. Não precisamos de recuar a uma data tão antiga, para encontrar as origens deste dito que rapidamente se popularizou. A expressão criada no século XVI, terá sido da autoria de um marinheiro português de segunda classe, que viajou a bordo da nau que introduziu na Europa a primeira maçaroca daquele importante cereal, importada do continente americano.

O mesmo homem que anos mais tarde e inspirado na sua própria vivência, passou episodicamente a citar que” andava a pão-e-água”, a propósito de há largas semanas, com bastante mágoa sua, não ter prática de relações sexuais com ninguém.

“Granda febra!” Ou vulgarmente “És um ganda naco!”, Cumpre a tradição portuguesa de bem comer e remete para segundo plano o facto de a gula ser para todos os cristãos um pecado mortal. Quem proferisse esta frase diante de uma mulher solteira, era não só pecador, mas revelava não saber degustar uma boa refeição. É que tem, sem dúvida, melhor paladar, uma peça de carne que antes de trincar, se possa cheirar para avaliar se está estragada, e que, enquanto de mastiga, se possa sentir nos dentes a textura como se com os dedos através do tato a estivesse a apalpar.

“Quero ser o teu dentinho pivô!”. Constitui de facto um dos mais mal-amados piropos da tradição oral portuguesa. É dirigido especificamente às mulheres acima dos cinquenta e só surte o efeito desejado, se a par da mudança de dentadura, à custa do sujeito ela já esteja a pensar em fazer uma mudança de visual que começa pela ida a uma SPA, passando pela compra de um novo guarda-roupa.

“Beija-me na boca e chama-me Tarzan!” Ou no contexto de uma discoteca algarvia “Kiss me la bouche!”. Pode ser dito a uma estrangeira ou a uma mulher nas últimas semanas de gravidez, que não estranhe tanto as náuseas acompanhadas de vómitos que poderão fazê-la vomitar a refeição que comeu na véspera. Nalguns casos, dá uma diarreia persistente, mas tem a sua utilidade, porque, a ouvir esse e outros piropos, fica a mulher a saber que não precisa de deslocar-se à selva, para saber como é viver no meio dos macacos.

“Ò borracho, queres por cima ou queres por baixo?”. É uma joia que vai rareando como os euros, com o aproximar do final do mês, na carteira de um assalariado com o ordenado mínimo em Portugal. Este galanteio é, há gerações, ensinado em casa aos filhos, pelos pais que se propõem agora, melhor do que a professora de Ciências, explicar o funcionamento dos órgãos genitais do aparelho reprodutivo feminino. Por baixo é onde, sobretudo os gabarolas, devem ir à procura da autoestima, depois de nem se tendo deitado eles por cima, terem feito às companheiras notar a sua presença durante o ato sexual.