Juventude, Miley Cyrus e Rebeldia da Puberdade!

Na hercúlea viagem que é a vida, perdoem-me o cliché, o ser-se jovem, conceito bem mais amplo que estar jovem, visto comportar uma transversalidade inerente ao predicado que origina, ao invés do segundo, de uma precariedade quase satânica, é cada vez mais um pré-requisito à validação social.

Ser-se jovem, no entanto, açambarca todo um conjunto de deveres, como a responsabilidade em não se ser criança, a ilusão de omnipotência, a astúcia criminosa e uma eventual sensação de desconhecimento do perigo – que é, aliás, intrínseca ao falso conceito de liberdade que quase define o código genético do adolescente-, que não devem passar despercebidos nem tão pouco serem ignorados.

No entanto, não quero com isto dizer que esta irreverente fase de crescimento e passagem à idade adulta represente como que um feudalismo etário, embora as semelhanças, no que diz respeito à teocêntrica representação do rock-hollywood, sejam inegáveis. Mesmo assim, a emancipação introspetiva é, por vezes, indiscutivelmente necessária.

Analisemos o caso que nos serve de título, de Miley Cyrus, uma das mais famosas artistas – latíssimo sensu – da sua geração, que, deixe-me confessar, é também a minha. A visceral necessidade de romper com o personagem criado (relembrar Hannah Montana) e a inequívoca intenção de alargar o público-alvo traduziram-se num fenómeno efémero de popularidade, marketing e promiscuidade performativa q.b., resultados que jamais lhe permitirão o reconhecimento elitista da crítica, que vale o que vale e às vezes não vale nada.

Por outro lado, na minha ótica o Lado B – enfatizando a gíria – , está o processo de criação de um novo personagem performativo, direcionado para a promoção da rebeldia pubertária, falsamente justificada pela (in)suficiente circulação de informação. Ainda assim, e tendo em conta a exceção representada pelos contornos que o salto da carreira de Miley Cyrus trouxe ao seio dos grupos de jovens por todo o mundo, concordo com o método utilizado.

Neste sentido, é imprudente, talvez até ingénuo, pensar numa questão destas sem o fator ‘’tratamento de choque’’. A exposição física, quer através da nudez quer pela representação simulada de relações sexuais ou meras insinuações, saiu do palco (onde sempre foi minimamente aceite, talvez não tão explicitamente) para os vídeos, redes sociais e paparazzos, muitas vezes improvisados e providenciados pelos próprios intervenientes, forçando a opinião pública a prestar atenção. Sob a égide do mais sensacionalista dos slogans – ‘’não interessa se falam mal ou bem, mas que falem!’’-, os primeiros passos para uma nova identidade artística e, com isto uma reinvenção pessoal (que se transporta para o público), estão dados.

Serve este de exemplo para chamar a atenção às reinvenções da juventude, regadas de certezas absolutas, de amores imortais e verdades infinitas; alicerçadas em estereótipos de beleza severamente duvidosos e asseverações, digo, fés, quase macabras.

Ser-se jovem, tal qual já foi dito, perdura no tempo. Há que perceber então o momento em que já não estamos jovens, circunstância em que independentemente das nossas convicções, já ‘’não temos idade para aquilo’’, ou seja, quando estamos velhos, mesmo sendo novos. A Miley ainda tem uns aninhos de loucura pela frente. Uns dois ou três. Deixemo-la estar!

Citando uma qualquer idosa sentada por um desses jardins lisboetas, para as amigas: Tenham calma meninas, eles arrependem-se! Mais cedo ou mais tarde, arrependem-se!